“Só se atraem mais alunos elevando a qualidade do ensino”
António Pires da Silva, Presidente do Instituto Politécnico de Tomar
Diversificar a oferta formativa indo ao encontro de novos públicos e desenvolver, em conjunto com as escolas secundárias da região, acções que permitam despertar o interesse dos jovens pelo processo de aprendizagem e por uma determinada área de formação são algumas das iniciativas do Instituto Politécnico de Tomar para aumentar o número de alunos. Uma outra preocupação é a elevação da qualidade do ensino, considerada fundamental pelo presidente daquela instituição, António Pires da Silva.
De onde são oriundos os alunos do Politécnico de Tomar? No Instituto Politécnico de Tomar cerca de 50% dos alunos são provenientes dos concelhos do distrito de Santarém ou de concelhos limítrofes. Os restantes são oriundos de vários concelhos do continente e ilhas e também dos PALOP, principalmente de Cabo Verde onde o IPT possui vários acordos de cooperação para a formação de estudantes provenientes das suas ilhas.A diminuição do número de alunos está directamente ligada à qualidade do ensino ou ao tipo de cursos disponibilizados? Quais são as causas?A diminuição do número de alunos candidatos ao ensino superior, não me parece que esteja directamente ligada à qualidade do ensino ou ao tipo de cursos disponibilizados. Ela deve-se essencialmente à diminuição demográfica do país e consequente diminuição do número de alunos ao nível do ensino secundário. Existem, naturalmente, outros factores que se lhe associam como são exemplo, a situação económica ou a localização geográfica que poderão condicionar a opção por parte de um jovem estudante pelo prosseguimento de estudos ao nível do ensino superior. Portugal possui ainda um elevado índice de abandono escolar nos diferentes níveis do ensino secundário que importa combater e criar medidas para o combater.O que está a ser feito para atrair mais alunos? Que resultados estão a ser obtidos?Ao nível do Instituto Politécnico de Tomar, mais do que iniciativas que visem atrair alunos, temos procurado desenvolver, em conjunto com as escolas secundárias da região, acções que permitam despertar o interesse de um jovem estudante pelo processo de aprendizagem e por uma determinada área de formação. São exemplos o Projecto Matemática e Física do Zero ao Infinito, os Dias Abertos a Festa da Ciência, Cultura e Tecnologia do IPT que na sua segunda edição, em Março deste ano, permitiu que mais de 1000 jovens, de escolas de toda a região, tivessem um contacto com equipamentos laboratoriais, desenvolvessem experiências, participassem em conferências e consolidassem o seu interesse e a sua vocação por uma determinada área científica.Além disso o IPT está a procurar diversificar a sua oferta formativa indo de encontro de novos públicos nomeadamente os maiores de 23 anos e activos ou licenciados que pretendam actualizar a sua formação.Como se pode compatibilizar a luta pela atracção de mais alunos com a exigência ao nível da qualidade? Ao contrário do que pressupõe a pergunta só se atraem mais alunos se a qualidade do ensino for progressivamente mais elevada.A atracção de novos alunos não é propriamente uma luta. É preciso termos consciência que a oferta formativa ao nível do ensino superior é maior do que a procura e que temos que ser capazes de oferecer mais e melhor. Nesse sentido a qualidade da oferta formativa de uma instituição de ensino superior é um dos factores determinantes na escolha de um curso por parte de um candidato. Daí que, no nosso caso, temos tido a preocupação de implementar medidas de avaliação da qualidade e procurado dentro, das nossas capacidades, proceder ao reequipamento de laboratórios, à actualização e melhoria das condições de formação e trabalho dos nossos estudantes e docentes.Financiar os Politécnicos de acordo com o número de alunos é justo? Quais as alternativas? O financiamento das instituições de ensino superior não é atribuído exclusivamente em função do número de alunos de uma instituição de ensino superior. Resulta da aplicação de uma fórmula em que intervêm, entre outros parâmetros, o número de alunos, o custo de formação de um aluno, a qualificação do corpo docente e o desenvolvimento de investigação e produção científica. E nestes últimos três parâmetros é que se observa uma verdadeira injustiça em relação aos politécnicos. Porque, se a capacidade de captação de novos alunos e de atrair novos públicos depende única e exclusivamente da instituição e do seu dinamismo, e consequentemente a maior ou menor parcela de financiamento associada ao número de alunos, é da sua inteira responsabilidade o mesmo já não se passa com os outros parâmetros que dependem e são definidos exclusivamente pelo Ministério da tutela. O que pode ser feito a esse nível? A clarificação do modo de definição desses parâmetros seria um primeiro passo para a regulação da oferta formativa e um excelente contributo para a afirmação da qualidade das instituições de ensino superior em Portugal.Há no entanto, ainda, uma outra vertente de financiamento que é necessário não colocar de lado. É que os politécnicos não são apenas instituições de ensino. São também pivots de desenvolvimento regional. É hoje em dia claro que grande parte das cidades do interior como Castelo Branco, Bragança ou mesmo a Guarda ou a Covilhã, perderão grande parte da sua capacidade de reter população se perderem as suas instituições de ensino superior. Esta função de desenvolvimento regional deve também ser medida e financiada, quer pelo estado central quer pelas autarquias ou órgãos de poder regionais.Como está a decorrer o diálogo entre o Politécnico de Tomar e os empregadores da região?O Instituto Politécnico de Tomar tem mantido, sempre, quer através dos seus cursos quer das suas escolas uma estreita relação com as entidades empregadoras da região. Ainda recentemente, na Escola Superior de Gestão, tivemos a constituição do Conselho Consultivo da ESGT onde estiveram presentes e celebraram o acordo de adesão mais de 50 entidades e empresas da região. As restantes escolas, a Tecnologia de Tomar e a Tecnologia de Abrantes, possuem também órgãos consultivos tanto ao nível de escola como ao nível dos departamentos, que integram membros das empresas mais representativas da região. A relação entre a formação superior e as empresas é um dos pilares fundamentais da estratégia de afirmação do Instituto Politécnico de Tomar.Este diálogo pode aliás ser medido pelo número de projectos crescente envolvendo simultaneamente o IPT e as suas várias escolas e as empresas, ou associações empresariais da região.Tem sido possível responder às exigências do tecido empresarial em termos de formação de novos quadros e de qualificação dos existentes?Sim. Ao nível da formação inicial, os cursos de Licenciatura, o IPT tem procurado responder às necessidades de pessoal qualificado do tecido empresarial tanto da região como das regiões limítrofes. Alguns cursos, devido à sua especificidade, como são os casos de Artes Gráficas e Conservação e Restauro, ultrapassam o cariz regional observando-se a sua implementação também a nível nacional. Outros cursos, principalmente na área das engenharias e da gestão, possuem relações de maior proximidade com empresas da região o que lhes facilita o conhecimento dessas necessidades de pessoal qualificado. Mas, para além dessa intervenção ao nível da formação inicial, o IPT tem desenvolvido, em parceria com o NERSANT e com o CENFIM, uma oferta em termos de cursos de especialização, cursos de formação de activos, cursos de pós-graduação que gradualmente têm sido implementados quer em Tomar, Abrantes e em Torres Novas no CEPTON, Centro de Estudos Politécnicos de Torres Novas procurando dessa forma responder às necessidades de formação nesses níveis.Alguns críticos dizem que o Politécnico não conhece as empresas. E as empresas conhecem o Politécnico? Admitimos que existem ainda muitas empresas que não conhecem o IPT ou que não conheçam o que este tem para lhes oferecer. É esse um dos nossos desafios. A afirmação do IPT como um dos motores de transferência de conhecimento e de tecnologia, principalmente ao nível regional, será um dos nossos principais objectivos estratégicos a serem atingidos a curto prazo.Para isso candidatámo-nos à constituição de uma OTIC – Oficina de Transferência de Tecnologia e Conhecimento – e como tudo indica seremos uma das instituições de ensino superior a nível nacional a serem contempladas com o financiamento pela ADI, o que permitirá, no futuro, uma relação muito mais próxima, directa e fácil com as empresas e uma eficaz divulgação da oferta tecnológica do IPT.Conseguem ter uma noção exacta do destino dos vossos licenciados? Quer as escolas quer os departamentos têm efectuado o acompanhamento do percurso dos nossos bacharéis e licenciados. Isso permite-nos ter uma noção da sua evolução como profissionais, das suas dificuldades quer na obtenção de emprego quer durante o exercício da sua profissão, o que são elementos importantes tanto na valorização de um curso como na adequação do mesmo à realidade profissional. Naturalmente existe ainda alguma dificuldade em articular a disponibilidade de tempo dos nossos licenciados, por estarem a trabalhar, com a sua participação neste processo de monitorização de percursos profissionais. É algo que procuraremos melhorar nos próximos tempos.Portugal é caracterizado pelo seu centralismo a todos os níveis. Neste cenário como é possível ao Politécnico de Tomar assumir o seu papel no quadro do “Plano Estratégico de Inovação e Competitividade Para a Região de Santarém”?O centralismo do Estado Português tem duas características fundamentais. Por um lado é de alguma forma atávico, ou pelo menos assente em factores profundamente enraizados na nossa história, por outro é, ao mesmo tempo, condicionador das hipóteses de desenvolvimento do país. Dito de outra maneira o centralismo é difícil de ultrapassar e está associado a grande parte do nosso atraso, relativamente aos países mais desenvolvidos do mundo. Este diagnóstico está feito. Para lhe dar um exemplo, na Estratégia Regional Lisboa 2020, apresentado há dias em Lisboa, uma das metas a atingir é a estabilização da população da Grande Lisboa num nível dos 25% da população nacional quando em 2003 ela é de 26,1% e, se nada for feito se prevê que em 2015 essa percentagem atinja 27,4%, à custa da região centro, sobretudo. Torna-se claro que é a própria área metropolitana de Lisboa que tem como meta do seu desenvolvimento não crescer.Isto pressupõe que haja capacidade nas regiões limítrofes de Lisboa para reterem as respectivas populações. Os estabelecimentos de ensino superior têm a este respeito um papel crucial, porque só eles, devidamente apoiados pelo poder autárquico e regional e em estreita ligação com as empresas e associações empresariais, têm capacidade para reter os melhores e os mais capazes.Trata-se de uma meta comum, para Lisboa e para o Médio Tejo, que deve ser explorada como tal.Há relatórios de entidades credíveis que apontam para uma baixa formação da população portuguesa. As alterações que estão a ser introduzidas no ensino, nomeadamente no ensino politécnico, são as necessárias para inverter essa situação?Os problemas do ensino são muito profundos e são mais um reflexo do que uma causa da profunda crise social que atravessamos. Dito isto, considero que as alterações que estão a ser introduzidas, têm sobretudo o efeito de um choque, de um safanão nas rotinas de 30 anos, que estão a ser postas em causa.Por aí penso que as mais recentes alterações introduzidas podem ter um efeito positivo, ao colocar as pessoas e as instituições perante problemas novos que, a não serem resolvidos, poderão ditar a morte de algumas instituições. O enfoque na qualidade, na formação de activos, no ensino ao longo da vida e na ligação às comunidades envolventes e ao meio empresarial, a tentativa de provocar uma maior competição entre os vários estabelecimentos de ensino, podem ter efeitos positivos nos Institutos Politécnicos.Mas como em todas as terapias de choque é preciso ter cuidado porque, às vezes, o doente morre da cura. Deve sobretudo ter-se em conta que, como já referi, em muitos casos, os Institutos Politécnicos não são apenas estabelecimentos de ensino superior.Que esforço está a ser requerido ao Politécnico de Tomar ? O que foi alterado e o que vai ser alterado?O Instituto Politécnico de Tomar tem perfeita consciência dos desafios que se avizinham. Ao nível da implementação do processo de Bolonha vamos ter que estar preparados para nos adequarmos a um novo modelo de formação que ultrapassa as fronteiras geográficas; Ao nível da futura organização do território vamos ter que perceber quais são as principais orientações estratégicas e quais as suas implicações; Ao nível da dinâmica de desenvolvimento regional vamos ter que estar preparados para assumir o nosso papel de motor e de líder desse desenvolvimento na região. Neste contexto o IPT está a preparar-se para enfrentar estes novos desafios.
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