A paixão pelo ensino
Dulce Arrojado é professora primária em Vila Franca de Xira
Ensinar os “seus meninos” a gostarem de aprender é para Dulce Arrojado a principal missão de um professor primário. Uma missão que acredita que tem cumprido e espera continuar a cumprir.
O Rodrigo era um menino que estava a repetir a primeira classe, porque não entendia porque tinha que saber ler ou escrever. Rodrigo era um menino do campo que sabia semear, mondar, regar e colher e era isso que gostava de fazer.Dulce Arrojado, a sua nova professora primária, decidiu criar uma pequena horta junto à escola para aproveitar as capacidades do pequeno Rodrigo. O menino tornou-se o capataz da horta ensinando a todos o que fazer e como fazer.Pouco tempo depois já o Rodrigo sabia ler e escrever. O sentir-se útil e a partilha de conhecimentos fê-lo perceber o porquê de estar na escola. A motivação que Dulce Arrojado incutiu no pequeno Rodrigo é algo que a professora primária procura fazer com todos os seus alunos. Ensiná-los a “gostarem de aprender” é a mais importante missão de um professor primário. “Modéstia à parte”, Dulce Arrojado diz orgulhosamente que até aqui conseguiu motivar a maioria dos alunos para a escola. A docente encara o ensino no primeiro ciclo como uma “responsabilidade acrescida” por intervir no início da vida escolar dos alunos. Depois, “cabe a cada professor manter a chama acesa”. Em 1986, quando começou a dar aulas, no distrito de Setúbal, Dulce Arrojado era “uma professora cheia de sonhos”. Sempre soube que queria ser professora, desde logo pela sua “apetência natural para lidar com crianças”.Os sonhos da professora primária fizeram com que os primeiros anos fossem muito difíceis. Os alunos depressa passavam a ser os “seus meninos” e as separações eram momentos dolorosos. A entrega absoluta à profissão que a fascina continuou, mas teve que aprender a lidar com os terríveis finais de ano lectivo. Depois de Setúbal, andou por São João dos Montes, Vila Franca de Xira, Carregado e Calhandriz. Os alunos desta freguesia rural do concelho de Vila Franca foram marcantes para a professora pela sua simplicidade e inocência. “Foi muito grato vê-los desabrochar”.Há nove anos, Dulce Arrojado deixou as salas de aulas e a educação dos miúdos e concentrou-se na educação e formação dos graúdos do concelho. Passou a integrar a Organização Local de Educação e Formação de Adultos (OLEFA), uma experiência que se veio a revelar “muito enriquecedora”.Durante os últimos anos, em que foi coordenadora, Dulce Arrojado foi responsável pela organização de cursos do primeiro e segundo ciclo, de cursos extracurriculares e da formação profissional. Um trabalho que foi muito além da educação e formação do público-alvo, transformando-se num verdadeiro trabalho de intervenção social. A integração social e no mercado de trabalho de muitas pessoas são hoje um motivo de orgulho para Dulce Arrojado que defende que a “educação não é só escolaridade, vai muito mais além”.A experiência no campo social dos últimos anos foi “uma mais valia” para a professora, que lhe vai permitir ter “outra dimensão de actuação” no regresso às aulas, já no próximo ano lectivo.“Vou apetrechada de conhecimentos, sei como ajudar os meus alunos e os pais”, acrescenta. Hoje, mais do que nunca, Dulce Arrojado sabe que “na maioria das vezes, o insucesso é externo à escola, está relacionado com as condições socio-económicas da família. O professor tem que perceber qual é o problema e procurar resolvê-lo. É que com a barriga vazia dificilmente se consegue aprender”.A entrega à profissão reflecte-se na sua dedicação à defesa dos direitos dos professores. Por isso desde 1989 integra os órgãos activos do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa. Enquanto profissional e defensora da sua classe critica a actuação da ministra da Educação e a cruzada que está a levar a cabo contra os professores. Dulce admite que “haja situações pontuais de professores menos válidos do que outros, como há em qualquer profissão”, mas opõe-se a generalizações.A professora primária diz que os sucessivos governos têm falhado no desenvolvimento de medidas na área da educação. “Ainda não perceberam que a educação é o verdadeiro agente de desenvolvimento do país”. E lança o repto: “é necessário investir na educação para o país ter pessoas qualificadas e motivadas”.Sara Cardoso
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