uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Tragédia Urbana

Normalmente, é nos meios rurais que as questões de propriedade, por vezes, terminam em tragédia. O direito de passagem por um terreno do vizinho, uma questão de águas ou alguma discussão sobre delimitações pode terminar à sacholada ou com tiros de caçadeira.Nas cidades, tudo se fica por insultos, pequenas agressões ou danos no automóvel.Infiltrações ou repasses para o andar inferior, ruído excessivo, roupa estendida para além dos limites da fracção de cada um, sujidade nas partes comuns do prédio, obras clandestinas que incomodam os vizinhos: tudo tem como consequência grandes desentendimentos, mas que, felizmente, não implicam a perda de nenhuma vida.No entanto, conheço uma situação seriamente dramática.Os pais de um jovem tinham-se divorciado, mas o episódio não o marcou muito negativamente.Fez os seus estudos com sucesso. Aos vinte e três anos, já ganhava razoavelmente e decidiu adquirir um apartamento, recorrendo ao crédito bancário.Mesmo assim, a prestação mensal ainda significa uma parte importante do seu salário. Deste modo, para evitar mais despesas, decidiu continuar a viver com o pai, com quem residia ultimamente.A sua nova casa, acabada de adquirir, permanecia devoluta.Sucede que, mais ou menos simultaneamente, a mãe deste jovem trabalhador iniciou uma relação marital com um outro indivíduo, pedreiro de profissão.O filho tinha muito amor pela progenitora, embora já não residisse com ela há algum tempo. Decidiu propor-lhe que ela passasse a morar, com o seu companheiro, naquela casa que mantinha inabitada.A mãe aceitou, mas quis dar uma contrapartida mensal. Todos os meses, ia pagando ao próprio filho uma quantia em virtude de estar a utilizar aquela casa.Muito se haveria de discutir, posteriormente, se se tratava realmente de uma renda ou de uma ajuda financeira da mãe para o filho. Seria uma espécie de mesada ou o que resultava de um arrendamento?A verdade é que o apartamento acolheu aqueles dois novos habitantes. Como ele era pedreiro, realizou algumas obras, nas quais gastou dinheiro e muitas horas de trabalho.Malogradamente, a mãe do jovem não conheceu ali grandes momentos de felicidade.O seu companheiro revelou-se agressivo e batia-lhe com frequência. Como sucede amiúde, nestes casos, ela viu-se forçada a abandonar a casa.Ali permaneceu o homem, já sem a sua companheira, que não o queria mais ver à frente.É claro que, para o dono do imóvel, tal situação não fazia qualquer sentido.Tinha cedido a casa a sua mãe. Sendo ela maltratada pelo companheiro e deixando de residir no local, era absurdo esse mesmo homem continuar a habitar nessa casa.Mas o homem tinha outra visão.Continuava a depositar, todos os meses, a quantia na conta bancária do dono da casa. Para ele, não havia dúvidas de que era uma renda paga ao senhorio.Por outro lado, fizera obras de beneficiação no apartamento e não ia ter um prejuízo daqueles, assim, de um momento para o outro, somente porque a sua companheira decidira abandoná-lo.Viviam em união de facto e o arrendamento era válido para os dois. Tal qual como se fossem marido e mulher, casados no registo, com papel assinado.O jovem proprietário da casa não tinha grande boa vontade para com ele, considerando a forma como a sua mãe fora tratada.Mesmo assim, decidiu conversar com o homem e fazer ver-lhe que deveria abandonar o imóvel. Mas ele mostrou-se irredutível.Então, o jovem remeteu-lhe uma carta, concedendo-lhe um prazo de trinta dias, para que a casa fosse entregue.Decorrido esse período, o indivíduo continuou a lá morar.Foi então que o jovem decidiu abordar o homem, com maior firmeza, dizendo-lhe que todos os limites tinham sido ultrapassados.Deslocou-se até ao apartamento que originava todo aquele conflito. Ia acompanhado do pai, ex-marido da senhora que ali também vivera, já com um novo companheiro.Os dois iam determinados, mas foram mal recebidos.O homem pegou numa faca e espetou-a vezes sem conta no corpo do mais velho. O jovem viu o pai morrer à sua frente. Correu a chamar a polícia.Quando os agentes chegaram, o tresloucado ainda pontapeava e insultava o cadáver.*Juíz(hjfraguas@hotmail.com)

Mais Notícias

    A carregar...