O cavaleiro de Azambuja que toureia nos Estados Unidos
Paulo Jorge Ferreira rumou à América por falta de oportunidades em Portugal
Aos três anos já brincava aos touros com as toalhas das mesas do café do pai, em Azambuja. Vinte anos depois Paulo Ferreira tenta vingar num meio onde a concorrência é muita. Em Fevereiro segue novamente a caminho da Califórnia, o seu “El Dorado”.
O que leva um cavaleiro ribatejano a rumar aos Estados Unidos da América para triunfar nas praças da Califórnia? Paulo Jorge Ferreira sabe a resposta melhor que ninguém. As dificuldades que sentiu para encarreirar no país levaram o cavaleiro de Azambuja, 24 anos, a rumar ao outro lado do Atlântico, onde viveu durante cinco meses no último ano.Tudo começou com uma corrida televisionada da RTP Internacional, em 2003, na Póvoa do Varzim. Chovia na arena. A água tapava os cascos dos cavalos. Os cavaleiros iam aliviando as sortes. Mas mesmo assim Paulo Jorge Ferreira arriscou. “Se não arriscasse aos 21 anos quando iria arriscar?”, pergunta o jovem evocando o que então lhe passou pela cabeça. A coragem do toureiro impressionou a comunidade portuguesa a residir na Califórnia que o convidou a abrilhantar a praça. “O cavalo caiu, mas voltei a montar e isso caiu muito bem no público”, reconhece o cavaleiro com humildade.O boné, calças de ganga e sapatilhas, que usa ao balcão do café do pai, frente à estação dos caminhos-de-ferro de Azambuja, denunciam uma estada longa em terras do Tio Sam e alguns vícios quase inconscientes. O cavaleiro está preparado para regressar ao país das oportunidades já em Fevereiro de 2007. A experiência foi gratificante. Sete corridas em cidades californianas. Sete mil pessoas a ocuparem o lugar do público.Partiu rumo à América dias antes da Feira de Maio de Azambuja. Deixou a terra Natal antes das ruas da vila se transformarem em arenas para receber as largadas de toiros. Já tinha viagem marcada quando foi contactado pelo empresário para integrar o cartel da corrida da feira. Tarde demais. Este ano a situação repete-se. Por alturas da festa tauromáquica de Azambuja o cavaleiro estará a milhas. Paulo Jorge Ferreira recusa apontar o dedo à câmara e reconhece o apoio da população. Mas não compreende o desinteresse dos empresários do meio no reconhecimento dos novos talentos. “Se intercalassem nomes conhecidos com nomes menos conhecidos seria tudo mais fácil”, sugere o jovem cavaleiro.“Cavaleiro não é quem quer”Durante os cinco meses no estrangeiro, interrompidos com uma viagem a Portugal, Paulo Jorge viveu sozinho numa casa típica da Califórnia, construída em madeira. Cozinhava, lavava a roupa e tinha ainda tempo para treinar os cavalos que iria levar às corridas. Os animais que levou à arena foram disponibilizados pela comunidade. O alojamento, tal como as viagens, foi igualmente garantido. A oportunidade é aliciante financeiramente, mas mesmo sem a componente financeira o jovem considera que valeu a pena.Na América as bandarilhas não trespassam os toiros. Os animais são protegidos com uma espécie de couraça que lhes mantêm até ao final da corrida toda a pujança. Nada que incomode o cavaleiro. Paulo Jorge já se adaptou ao sistema e afasta qualquer tipo de preconceito. “Estou preparado para tourear nos Estados Unidos com os toiros sem bandarilhas, tal como estou para matar toiros em Espanha”, garante quem já brilhou nas praças espanholas. Os sete cavalos de Paulo Jorge Oliveira estão na herdade de Manuel Jorge de Oliveira, no Cartaxo. A família não está ligada à tauromaquia e para o jovem cavaleiro tem sido uma aventura mergulhar num mundo que ainda é restrito a alguns. “Cavaleiro não é quem quer. Tem que se demonstrar ter muito valor”, reconhece.Em 1999 o aspirante a cavaleiro foi aprender a arte. Começou do zero, mas aperfeiçoou-se graças ao empenho e ensinamentos do mestre que ainda hoje o apoia. Aos três anos o menino que brincava aos toiros com as toalhas do café do pai já demonstrava propensão para a vida taurina. “Os campinos paravam pelo café do meu pai e eu ia ouvindo as histórias. Ia ver os irmãos carniça a fechar e ferrar os toiros”, diz com saudade o jovem. Aos 13 anos foi jogar hóquei, mas a paixão pelos toiros prevaleceu e em pouco tempo trocou os sticks pelas rédeas dos cavalos.
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