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Incansável Serafim das Neves

Incansável Serafim das Neves

Estou a escrever-te de olhos esbugalhados e não é por causa da luminusidade do ecrã do computador ou por ter visto a minha sogra nua a sair da casa de banho. Acabei de saber que a última reunião da Assembleia Municipal da Chamusca acabou às cinco e meia da manhã e que no decorrer da mesma ninguém adormeceu apesar de não terem sido servidos cafés. Não, não estou a brincar. Não estou eu nem estiveram os valentes eleitos chamusquenses que tantas horas a fio passaram a chamuscar as pestanas com a leitura de moções, requerimentos, documentos e outras coisas que se imaginam.Eu que tanto zurzo nos políticos estou atónito. A dita cuja reunião começou às nove e meia de sexta-feira e terminou às cinco e meia de sábado. Só não começo já a deitar foguetes porque não sei se foram pagas horas extraordinárias a trezentos por cento. Só não proponho já a encomenda de uma estátua aos heróicos autarcas porque não sei quais as alternativas que os aguardavam se não se tivessem refugiado na sala de sessões do município a despachar pontos da ordem de trabalhos como quem despacha fichas à volta da roleta do Casino de Lisboa.Contaram-me que todos aguentaram a pé firme sem vacilar nem cabecear. Que a maioria nem sequer se ausentou da sala para uma mija ou para um cigarrito. Tudo ali firme no cumprimento do dever. Zumba-tumba, toda a noite até ao romper da aurora. E olha que os discursos iniciais do Presidente da Câmara, Sérgio Carrinho são, mal comparados, à Fidel de Castro. Mais de meia hora a ensaboar consciências políticas. E depois da primeira ensaboadela o vice-presidente, Francisco Matias, dá sempre uma segunda demão. Estás a imaginar a cena. O relógio da Igreja a bater uma, duas, três e tudo ali de olhos fixos no futuro do concelho. O povo a dormir o sono dos justos e os políticos locais a velarem pelo seu bem-estar. Estás a rir-te?! Sei que te estás a rir!! Nem é preciso ver, porque sei como tu és folgazão. Mas olha que fazes mal. Este episódio é histórico. Vai ficar nos anais lá da terra. E fica desde já a saber que não houve visionamento de filmes daqueles, nem joguitos de damas. Nada. Foi mesmo assim, a seco. Oito horas de enfiada. Sem uma ceia, sem um simples snack, sem uma sandocha ou um cházito. Só espero que a Inspecção do Trabalho não tenha conhecimento do que se passou senão lá lhes arrefinfa a multa da praxe.Este acontecimento tem o seu lado negativo. Tudo tem o seu lado negativo. Mesmo as mulheres bonitas e calientes têm o seu lado negativo, embora não seja nenhum dos lados visíveis, felizmente. Já abri um ficheiro novo no meu arquivo. Tu conheces bem a minha insaciável curiosidade. Um fenómeno destes tem que ser estudado. É um fenómeno para-normal. Será alguma coisa que foi posta na água da vila? Será da alimentação? Os cônjuges dos deputados municipais serão tão beras, tão beras que eles prefiram passar uma noite a discutir assuntos tão interessantes como a “Apreciação e votação do protocolo de colaboração administrativa e financeira relativo à gestão da rede de serviços de turismo do concelho da Chamusca/Ano 2007” em vez de estarem com eles no quentinho dos lençóis de flanela? Prometo mandar-te um email com os resultados preliminares da minha investigação. Nem que tenha que ficar a trabalhar até às cinco e meia da matina.Um abraço sem sono do Manuel Serra d’Aire
Incansável Serafim das Neves

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