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Nova Filarmónica Fraude ressuscita canções com mais de trinta e cinco anos de idade

Nova Filarmónica Fraude ressuscita canções com mais de trinta e cinco anos de idade

Concerto em Tomar nos Lagares d’El Rei no dia dezasseis, com músicos da formação inicial

A “Filarmónica Fraude” está de volta três décadas e meia depois de ser declarada extinta. “Animais de Estimação”, “Sebastião morreu” e “Só Marinheiros e Escravos se Afundam com a Nau” são canções cujos temas continuam actuais.

Um, dois, três, quatro. Júlio Patrocínio conta em voz alta enquanto bate com as baquetas da bateria uma na outra. Da porta da garagem vê-se o casario da cidade de Tomar. Quatro músicos, já entradotes, ensaiam canções que não são tocadas há uns bons trinta e cinco anos. Músicas de um grupo chamado “Filarmónica Fraude”, a que alguns deles pertenceram, que tem reaparição marcada para a noite de 16 de Junho, Sábado, com o nome, “Nova Filarmónica”.“Aos peregrinos que chegavam crentes/Dava a cura e ela era tamanha/Que os imbecis dantes tão doentes/Se rebolavam na lama em altos gritos”. Antunes da Silva, nome artístico Toneca, guitarra Fender Mustang nas mãos, canta “Sebastião Morreu”, uma crítica mordaz aos curandeiros e à crendice popular, que o letrista António Avelar de Pinho, escreveu para o único álbum do grupo, “Epopeia”. Um tema actual como quase todos os outros que a “Filarmónica Fraude” lançou durante a sua curta duração, 1969 e 1970. Música “Pop” aqui e ali com um cheirinho “Jazzy”.Tudo começou no final da década de sessenta. Uns rapazes de Tomar e do Entroncamento juntam-se e formam um conjunto. Pouco depois conseguem um contrato para animar as noites de Verão de um hotel algarvio. Nas noites brancas do Alvor, amealhando tostões para pagar os instrumentos, vão tocando versões dos êxitos da altura. Pelo meio vão metendo uns originais seus. “Flor de Laranjeira”, “Animais de Estimação”, “O Milhões”. Dão nas vistas e acabaram por gravar dois EP (disco com 3 ou 4 canções) e um álbum. António Pinho que mais tarde viria a estar na génese da “Banda do Casaco” e António Sousa (que na altura usava o nome Luís Linhares) eram os compositores. “Ó teias de aranha/Aqui a seu lado/ Ó eterna escola/Do mal ensinado”. A manhã de domingo vai-se escoando lentamente. O grupo tenta colar várias canções do disco “Epopeia” num “medley”. “Por vós (Desgostoso, Carrancudo e Magro), “Centenário”, Os Bem-Aventurados. António Sousa levanta os olhos dos teclados e vai dando indicações. É o maestro. O ambiente é de grande concentração. Ensaiam-se sugestões, que cada um vai dando, para encontrar novas sonoridades. No centro do grupo, rodeado de suportes de microfones e partituras está José Ricardo. Não fez parte da “Filarmónica Fraude” mas é ele o responsável pelo que está a acontecer. “Desafiei-os há uns meses para voltarmos a tocar. Somos amigos há muitos anos e já tocámos juntos vezes sem conta. Nos “Pedra & Cal” por exemplo. Juntamo-nos aqui na minha garagem. Começámos por tocar “standards”, swing, jazz, coisas de que gostamos. Há dois meses surgiu esta ideia de voltar a pôr de pé canções da Filarmónica que eu não conhecia bem. Para mim é uma novidade”. Ricardo ocupa na nova formação o lugar do baixista João Parracho, há muitos anos afastado das músicas. Completam a “Nova Filarmónica” jovens músicos da Associação Canto Firme, alunos de António Sousa.A colaboração de outros músicos com a “Nova Filarmónica” repete o que se passou com a “Filarmónica Fraude”. Nos discos é possível ouvir metais, sopros, cordas. Há mesmo um tema da “Epopeia” em que os elementos do grupo nem sequer tocam. Mas na altura era mais difícil assegurar aquelas participações. Era obrigatório que os instrumentistas da música clássica fossem dirigidos por um maestro. No caso da “Filarmónica Fraude” foi Jorge Machado. “Eu e o António Pinho íamos a casa dele explicar o que queríamos e ele depois trabalhava com os músicos”, conta António Sousa.Na noite de 16 de Junho, em Tomar, na sala “Lagares d’El Rei” também irá estar presente o letrista e fundador da “Filarmónica Fraude”, António Avelar de Pinho. Um reencontro assim é histórico. Infelizmente o grupo não vai poder envergar a roupa feita de propósito para o lançamento do primeiro disco, em 1969. “O cocktail era na Galeria 48, na Avenida. Mandámos fazer uns smokings brancos e umas botas brancas de um mesmo modelo que tínhamos visto ao Paul McCartney, de meia canela, com elástico. A roupa foi feita no alfaiate “Pilo”, no Chiado. Tudo à grande. Gastámos o dinheiro todo naquilo e depois tivemos que ir a pé de Campo de Ourique para lá. As bocas que nós ouvimos pelo caminho…ficámos de tal maneira que a Vera Lagoa escreveu no Diário Popular que éramos uns rapazinhos um bocado tímidos”, lembra António Sousa.
Nova Filarmónica Fraude ressuscita canções com mais de trinta e cinco anos de idade

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