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A voz descontraída das manhãs da Renascença começou a fazer relatos de futebol em Santarém

A voz descontraída das manhãs da Renascença começou a fazer relatos de futebol em Santarém

Paulino Coelho é católico convicto e sportinguista militante que acorda sempre bem disposto

Acorda sempre bem disposto e tenta passar essa “boa onda” aos milhares de ouvintes através dos microfones todas as manhãs de segunda a sexta. Desistiu do curso de Direito para abraçar a paixão da rádio a conselho do professor Marcelo Rebelo de Sousa. A sua primeira vez em estúdio foi em Santarém, onde viveu grande parte da infância e juventude e cidade que considera o seu refúgio.

Sente alguma responsabilidade especial por ser uma das vozes mais ouvidas em Portugal?Sinto a responsabilidade de fazer um bom trabalho, de agradar a quem nos ouve diariamente. Para que em cada dia tenhamos mais pessoas a ouvir-nos. Não acha que socialmente tem uma responsabilidade acrescida?A diferença entre o meu trabalho e um trabalho, digamos, normal é que se eu disser um disparate toda a gente fica a saber.E nunca lhe saiu um disparate de que se arrependesse?Já me saíram muitos, mas de que me arrependesse não. Faço as coisas de uma forma muito descontraída e se calhar por isso é também mais fácil desembrulharmos o embrulho.Fazer rádio em directo é como andar num trapézio sem rede?Não, porque nós preparamos a rede diariamente. Não deixamos de correr o risco de cair mas temos um ritual diário que é depois do programa fazermos pesquisa, recolhermos as coisas e fazermos uma reunião com a equipa de produção. Sabemos exactamente ao final do dia o que vamos fazer no dia seguinte.Não há então lugar a grandes improvisos?Há improviso e há muito espaço para isso. Mas a tal rede está lá. Aliás as pessoas dizem que o que nos destaca dos outros é a capacidade de improviso e a forma informal e descontraída de fazer rádio.Tem feedback dos seus ouvintes, é muito assediado?Tenho feedfback, recebo cartas, telefonemas e-mails, mas assediado não. Não somos estrelas assim tão grandes. Sinto uma coisa muito importante: as pessoas gostam de nos ver, de estar connosco. E muitas vezes não valorizamos a importância que as pessoas dão ao momento que estão connosco nem que seja cinco segundos. Tive o caso de uma senhora que veio de Ermesinde de propósito a Lisboa para me conhecer e para me oferecer um presente.Ainda se sente aquela áurea que envolve as vozes da rádio?Há pessoas que defendem que a rádio deve ter essa magia, mas já não se sente tanto porque os meios e as campanhas são muitos. Em 2000 estive na televisão mês e meio a participar num programa da RTP e as pessoas que me viram na altura não se esqueceram da minha cara.Antes disso não havia pessoas com curiosidade em saber que rosto correspondia aquela voz?Sim, aliás a magia da rádio é isso. Embora eu diga muito como sou. Às vezes até acontece alguém dizer-me que afinal não sou assim tão gordo como digo. Essa é a reacção mais comum.Trabalhar numa emissora católica impõe alguns limites?Não.Nem ao nível das escolha das músicas?Não, de todo. Para mim a minha noção de limite é a do respeito por quem nos ouve e pela instituição que nos acolhe. Mas acima de tudo o respeito por quem nos ouve. Só o facto de saber que a minha mãe está do outro lado a ouvir já me faz ter respeito. Dou esse exemplo como imagem daquilo que sou ao microfone. Podemos brincar à vontade, contar anedotas, pisar o risco. Acho que é bom pisar o risco, as pessoas gostam… É católico praticante?Sou católico convicto. Andei numa universidade católica, trabalho numa casa católica, tenho os meus filhos num colégio de jesuítas. Acredito!Há algum segredo para parecer sempre tão bem disposto todas as manhãs?Acordo sempre bem disposto. Nunca me custou levantar cedo. Desde miúdo que, mesmo ao fim de semana, às sete da manhã já andava a pé. Entretinha-me a brincar sozinho no quarto. Sempre tive esta energia matinal.Deita-se cedo? Dorme a sesta?Durmo cinco ou seis horas por noite. Normalmente basta. E à tarde, quando me apetece, deito-me um bocadinho no sofá. Os cafés e os cigarros ajudam a manter essa energia?Só bebo café de manhã. À excepção quando tenho um jantar ao fim de semana. Para quem bebia oito, nove ou dez por prazer, beber hoje três ou quatro é bom.Alguns colegas da rádio tornaram-se vedetas de televisão. Nunca se sentiu atraído por esse caminho?Mentiria se dissesse que não. Sinto alguma atracção. Mas o mercado está tão estranho nesta altura que acho que um dia na televisão vão descobrir que os verdadeiros comunicadores estão na rádio e não no cinema ou nas passerelles. No dia em que achem que a imagem não é assim tão importante, que é preciso saber falar com as pessoas, pode ser que chegue a minha vez, não sei…O José Carlos Malato é um bom exemplo disso?É um belíssimo comunicador, um belíssimo profissional e não é nenhum exemplo de beleza. Não tem problemas em expor publicamente a sua imagem?Em televisão não. Mas sou uma pessoa tímida por natureza. Em programas ao vivo o primeiro impacto é sempre muito difícil para mim. Como reagia a apresentar o Estoril Open em ténis perante as bancadas cheias?Nos primeiros anos foi muito complicado. No primeiro ano, inclusivamente, tentei ficar doente no fim-de-semana para não ter de ir ao court. Durante a semana estava como speaker na minha cabine e ninguém me via, o que se tornava mais fácil. Houve um ano que tive de beber dois whiskies antes de ir para o court. Agora já não me custa.Tem cuidados especiais com a voz?Não. Diogo Beja (Comercial), Paulo Cintrão (TSF), José Coimbra (RFM), Nuno Matos (Antena 1), Valdemar Duarte (Renascença), Carlos Barros (Antena 1) são outras conhecidas vozes da rádio oriundas da zona de Santarém. Há ou houve um ambiente favorável na cidade que levasse os jovens a despertar para este tipo de actividade? Ou é mera coincidência?Acho que é mera coincidência. Tal como foi o Barreiro há uns bons anos para a equipa do Benfica (risos). É amigo da maior parte deles?Sim. Curiosamente o Diogo Beja a primeira vez que fez rádio fora de Santarém foi comigo. Depois não gostaram dele aqui. Acharam que a voz não era muito adequada.Tem liberdade para escolher a música que passa ou impera a playlist?Impera a playlist, mas não é ditadura nenhuma. Acho que já ninguém trabalha sem playlist. Temos um produtor musical que leva as músicas para as pessoas escolherem. Não vai nada para o ar sem serem feitos estudos. Põem-se 15 segundos da música, a pessoa ouve e diz se gosta ou não. Há coisas que nós não entendemos como é que passam. Mas quem é que me diz que a música de que gosto é a de que as pessoas gostam?
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