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Razões que me levaram a sair da Extensão de Saúde de Alcanede

Dirijo estas linhas a todas as pessoas que estiveram aos meus cuidados, desde que iniciei funções, como Médica de Família, na Extensão de Alcanede, em 25 de Setembro de 2001, até ao dia em que não pude mais continuar, o passado dia 31 de Maio de 2007.Enquanto estive ao serviço, procurei fazê-lo o melhor que sabia, com o maior sentido de dever profissional, não faltando, estando a horas e saindo quase sempre depois do horário de encerramento da Extensão, procurando dar o exemplo, para que outros o seguissem. Interessei-me pelas pessoas e pelos seus problemas, tentando dar resposta ao que esteve ao meu alcance.Se, no início, foi difícil conseguir atender todos os que pediam consulta (pois as carências eram muitas e não conhecia a localidade nem a população), estas dificuldades, que pareciam estar resolvidas ao fim de três anos, agravaram-se extraordinariamente, quando o meu ficheiro de utentes foi alargado de 1800 para 2200 utentes. Com a quantidade de doentes portadores de doenças crónicas, das consultas destinadas à vigilância das grávidas, das crianças e do planeamento familiar, o meu horário ficou cheio. A marcação de consultas a pedido dos utentes tinha, quase sempre, dois ou mais meses de espera. Nos últimos dois anos, as pessoas que pediam consulta no próprio dia, começaram a ter que recorrer a outros serviços, pois deixei de ter capacidade de resposta. A disponibilidade para observar doentes acamados ao domicílio ficou reduzida à boa vontade, o que sucedeu, muitas vezes, durante a hora de almoço e após o horário de trabalho.Garanti sempre as consultas marcadas, atendia um ou outro caso que se me afigurava mais urgente, respondia aos pedidos de “baixa” (que não podiam ser resolvidos noutro local) e deixava, quase sempre, as prescrições passadas e os exames vistos e orientados, um dia após terem sido deixados pelos utentes. Houve, da minha parte, um grande esforço pessoal e sacrifício familiar para manter as coisas a funcionar: muitas vezes deixei as minhas filhas menores sozinhas, em Santarém (a 30Km de distância e a mais de 40 minutos de caminho), até eu chegar a casa, o que raramente acontecia antes das 19h30. Diariamente, passava os serões a ver exames, a dar-lhes resposta e a fazer relatórios, para que os doentes os tivessem prontos no dia seguinte.Estive sempre atenta ao descontentamento das pessoas e sofria com a incapacidade para resolver a quantidade de pedidos de consulta. Várias vezes, chamei a atenção das pessoas com competência para a resolução destes problemas para a necessidade de ser colocado um terceiro médico com horário completo, em Alcanede, reduzindo-se assim o número de utentes por médico. Não obtive, infelizmente, resposta.Nestas condições de sobrecarga de trabalho, que duravam há quase 6 anos e sem perspectivas de serem encontradas soluções para o problema da falta de médico, vi-me numa situação de exaustão física e psicológica, que me fez pedir a exoneração. Estas foram as razões que me levaram a sair. Estou certa de que as compreendem.Por todo o afecto que sempre me demonstraram quero manifestar o meu mais sincero agradecimento.Hélia Castro

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