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Viagem pelo mundo do fantástico no palácio da Quinta da Subserra

Viagem pelo mundo do fantástico no palácio da Quinta da Subserra

“O Gato Preto & Outros Fantasmas” em cena até domingo

Conto fantástico de Edgar Allan Poe é mote para viagem por corredores e salas do Palácio da Quinta da Subserra, Vila Franca de Xira, conduzida pela companhia de teatro Inestética.

Um gato preto, um conde que empareda a mulher e espectros que se ostentam sob a luz ténue de uma sala do Palácio da Quinta Municipal da Subserra, em S. João dos Montes, Vila Franca de Xira. “O Gato Preto & Outros Fantasmas”, a última produção da companhia de teatro Inestética, adaptada pelo encenador Alexandre Lyra Leite a partir do texto de “The Black Cat” de Edgar Allan Poe (1841), foi especialmente concebida para o ambiente da quinta. O espectáculo já esteve em cena em Junho, mas a forte adesão do público fez a companhia voltar a repor a peça em nova temporada que se prolonga até 16 de Setembro. A viagem proposta pelo grupo não é só uma incursão pelas criações fantásticas do escritor Egdar Poe. A realidade mistura-se com a ficção. E com a história da própria quinta. “Há um início do espectáculo que é documental. Quando falamos em determinados nomes de pessoas que habitaram a quinta, datas… A dada altura do espectáculo fundimos a história do “Gato preto” com a própria história da quinta. Queremos deixar no espectador alguma dúvida em relação à verdade do que ouviram e sobre o que é ficção que fica nesse lugar ambíguo”, diz Alexandre Lyra Leite. Guias vestidos de preto, homens e mulheres, iniciam aquilo que aparentemente é uma viagem à história da quinta do século XVII que foi comprada pela autarquia nos anos 80. Os espectadores, divididos em grupo, são conduzidos de sala em sala. Com vista para o casario iluminado. Até que se chega ao jardim sombrio do palácio. A guiar o espectador apenas a claridade da noite e um pequeno foco de luz que o actor transporta antes de avisar o público para o perigo das armadilhas: “Cuidado com o degrau”. No jardim descobre-se o lugar onde o conde enterrou o gato. O mesmo animal de pelagem negra que o denunciou às autoridades quando o desaparecimento da mulher parecia um caso difícil de resolver. O ambiente é assustador, intenso e misterioso. Na cave ouvem-se barulhos. Que ultrapassam o som das garrafas de vinho que para envelhecer se arrumam no lugar recôndito. Nos corredores cruzam-se personagens de outros limbos, contadores de histórias. De agora e de outros tempos. Criados vestidos a rigor, de fatos aprumados e tecidos riscados. Um miar de gato. O cheiro genuíno de um verdadeiro palácio. As cortinas carcomidas pelo tempo e o ranger do soalho dão profundidade dramática ao espectáculo.Se a companhia cobrasse o preço justo para os bilhetes teria que levar 60 euros por pessoa, diz o encenador. E como é que uma companhia que tem prejuízo em todos os espectáculos sobrevive? “É uma luta diária”, explica Alexandre Lyra Leite. A trave da Inestética é a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira que tem permitido a sobrevivência do projecto. O ministério da Cultura é mais imponderável, garante o encenador. O que gera uma instabilidade e obriga a companhia a passar grande parte do tempo a aliciar novos mecenas. “A cultura em Portugal está a viver tempos difíceis. Os apoios são relativamente escassos. O mecenato não funciona. As empresas só apostam em grandes eventos e muitas vezes fora as regiões onde estão implantadas”, queixa-se. Por isso há que aproveitar todo o tipo de sinergias. O décor do espectáculo foi improvisado com a prata da casa. Camas e mesas de cabeceira do palácio. Uma poltrona. E as três cadeiras onde se sentam as mulheres da casa. Falam em uníssono. E o criado vestido de negro já não tem a certeza de as ouvir. Regam flores secas com pó cinzento e são cobertas com um lençol branco no final de cena. São 23 horas, um vento suave de Setembro à saída do palácio, os fantasmas colados às janelas iluminadas e um convite irrecusável para um copo de ginjinha.
Viagem pelo mundo do fantástico no palácio da Quinta da Subserra

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