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Erudito Serafim das Neves

Erudito Serafim das Neves

O que se pode comprar em Santarém, como recordação de férias, para mandar aos amigos? Coloquei esta pergunta a mim mesmo numa altura em que vi uma turista inglesa mandar embrulhar uns galos de Barcelos, num quiosque, em pleno Alentejo. Ploc! Fez a bolha da minha curiosidade num sítio qualquer do cérebro? Em Santarém haverá galos de Barcelos à venda? Haverá, pelo menos, porta-chaves com cabeças de toiros, ou apenas com os cornos dos bichos? E como serão os postais ilustrados que os turistas mandam do Entroncamento para os amigos que ficaram em Itália e que devem estar mil vezes arrependidos porque perderam oportunidade de ver a magnífica colecção de comboios ferrugentos do Museu Nacional Ferroviário?No Algarve comprei uns postais fantásticos para mandar ao pessoal que ficou por aí. Umas meninas de mamocas ao léu, ao pé de burros de orelhas espevitadas. Burros a sério. Daqueles que dão direito a subsídio da Comunidade Europeia e tudo. Mandei uma dúzia deles. Um foi para ti, não sei se já recebeste. Só depois de os mandar é que me pus a pensar no que tinha feito. Agora estou à rasca. Se calhar vou ser acusado de fomentar alguma forma perversa de zoofilia. Eu estou avisado há muito, pela minha sábia avó, que tanto gosto de citar, para o perigo das burras com saias. Mas nunca me tinha passado pela cabeça que se atravessariam no meu caminho burras sem saias amparando mulheres sem sutimamas. Tirar férias em Setembro é tão dramático como trabalhar em Agosto. Não há restaurantes nem cafés abertos, não há transportes, não há homens dos gelados na praia, não há meninas de fio dental metido entre as nádegas a passar na linha do horizonte. Agora o meu refúgio é uma tasca de pescadores onde os clientes são mesmo pescadores. Divirto-me a ouvi-los discutir futebol enquanto vejo aqueles concursos da televisão que nunca vejo no resto do ano. A discoteca também fechou. As noites mais movimentadas são aquelas em que a mulher de um deles vem buscá-lo e o conduz até casa a toque de palavrão e bolachada. Abençoado país este que me dá filmes neo-realistas de Fellini pelo preço de uma cerveja e de um prato de amendoins. O Portugal verdadeiro ainda mexe. Devagar mas mexe. Ontem mesmo vi claramente visto, como diria o Camões, um rebanho a pastar nos vasos do quintal da casita que aluguei. O pastor não ligou porque estava a mandar mensagens por telemóvel. Ainda o chamei mas ele trazia os auscultadores nas orelhas e o som estava tão alto que até consegui ouvir o Quim Barreiros a meter na garagem da vizinha. E olha que eu estava a mais de cem metros. Deixei a ovelhada encher a pança com as plantas da senhoria. Quero lá saber. Até filmei e tudo. Vou mandar o filme para um daqueles festivais de curtas-merdagens, ou lá o que é aquilo. Bom, já sabes, se ganhar o primeiro prémio…pago-te uma mini!Um abraço deste mãos largas que se assinaManuel Serra d’AireP.S. Tive que fazer cinquenta quilómetros de carro para te mandar o e-mail. A Internet da Junta de Freguesia está desligada. Desliga sempre a 31 de Agosto, explicou-me o presidente. Agora só volta a ligar dia 1 de Junho.
Erudito Serafim das Neves

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