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“Representar é uma profissão árdua e desgastante”

“Representar é uma profissão árdua e desgastante”

Eunice Munõz, a actriz que já casou três vezes e não tem medo da solidão

Casou três vezes e tem três filhos. A solidão não assusta Eunice Munõz. Vive só, orgulha-se dos cabelos brancos e recusa o culto da imagem. Vive em harmonia consigo mesma e continua disposta a trabalhar. Aos 80 anos. O MIRANTE falou com a senhora do teatro durante a inauguração de uma exposição sobre a sua carreira, em Samora Correia.

Qual a personagem mais marcante que representou ao longo da sua carreira?São 66 anos de profissão e é muito difícil eleger um personagem porque houve muitos papéis de que gostei muito e me apaixonaram especialmente. Joana D’Arc, Mãe Coragem, Zerlina, Caminho para Meca, A Casa do Lago... Foram papéis muito especiais.“A Casa do Lago” foi um ponto alto da sua carreira que aborda o tema da velhice. Não a assusta esse palavrão?Não me é agradável, e penso que não é para ninguém, do ponto de vista físico. O outro lado agrada-me. Sentir que já vivi a vida durante estes anos todos. Isso ajuda-me a ter como preocupação tentar compreender os mais novos e ser benevolente para com as atitudes dos mais jovens. É uma fase da vida muito mais sábia.Amadureceu no palco. O público português reage bem ou prefere a juventude?Há actores por quem o público português tem uma grande preferência. É o meu caso e, por exemplo, o do Ruy de Carvalho. As pessoas gostam muito de nós, ficam muito enternecidas por nos ver trabalhar. Há cenas muito bonitas de grande ternura, afecto, admiração e emoção entre o público e nós. Sou muito compensada com o meu público.Como é que reage perante tamanha admiração?Às vezes fazendo um esforço para não ficar comovida, porque é difícil.A “Casa do Lago” aborda o tema da união entre homem e mulher. E os divórcios são uma realidade hoje em dia...Não posso ser autoridade neste assunto porque eu própria fui casada três vezes. Honestamente não devo ter uma opinião sobre este assunto. (risos)As pessoas do mundo do teatro preocupam-se muito com a imagem. Como gere essa situação?Nunca me preocupei muito com a imagem. Gosto de cuidar de mim, mas não faço isso como se fosse algo importante. Preocupo-me mais em mudar de registo de um personagem para o outro. Gosto de ser eu própria, uma pessoa simples. Não tenho como preocupação os trapos e uma vida exterior que não tenho.Como é a Eunice Muñoz na intimidade?Tenho uma vida muito recolhida e é dessa que eu gosto. Convivo muito com os meus filhos, com os meus netos, com os meus bisnetos. Vivo só na minha casa.Tem medo da solidão?Não me assusta estar sozinha.Qual é a sua opinião sobre a nova geração de actores em Portugal?Acredito que são a esperança. Fico muito contente quando assisto na televisão ou no teatro a novos talentos a nascer.Os jovens vão para o mundo do espectáculo iludidos com a fama?Isso é evidente. A publicidade é muito forte e o mundo da televisão dá um reconhecimento imediato o que ilude muitos jovens, que pensam que basta ir para a televisão. Representar é uma profissão muito árdua e desgastante.O teatro tem futuro em Portugal?O futuro do teatro parece-me bastante risonho. Os próprios jovens que fazem televisão querem também fazer teatro. Chegaram à conclusão de que o teatro é fundamental para eles e para a sua evolução enquanto actores e isso dá-me uma alegria muito grande.O teatro é mesmo a maior arte para um actor?Pelo menos para mim é e será sempre.É mais fácil fazer rir ou fazer chorar?É tão difícil uma coisa como outra. São emoções que têm que ser transmitidas e se um actor as consegue transmitir ao público é porque ele é bom.O que é que ainda lhe falta fazer?Já fiz tudo. Não me falta fazer nada. Falta-me ter sempre trabalho e personagens como eu gosto. Quero continuar a trabalhar até poder.
“Representar é uma profissão árdua e desgastante”

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