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O cineasta que lia banda desenhada no comboio e chorava na estação de camioneta em dias de chuva

Já alguma vez agarrou na câmara e filmou pelas ruas da Castanheira?Pelas ruas não. Mas uma vez, há cerca de dois anos, usei a parte de trás da estação de comboios, que tem uma vista lindíssima. Era um cenário para uma curta-metragem.Andou muito de comboio? Sim, quando entrei para a faculdade apanhava todos os dias o comboio. Quarenta minutos para lá, outros tantos para cá. Comecei a ler Boris Vian, no comboio. E este senhor, mais tarde veio influenciar-me muito. Mas para além de Boris Vian, que deve ser a minha única referência intelectual, lia também muito banda desenhada (particularmente Citizens Dog, Baby Blues). O mesmo em relação à música, ia sempre a ouvir música. Isto tudo junto, sugeria-me muitas coisas, vinham-me sempre muitas ideias à cabeça. As vezes, atribuía mesmo personagens às pessoas que viajavam comigo.Qual é o cenário ribatejano que mais o inspira?A zona das lezírias é uma zona fantástica para se gravar ou filmar em ‘magic hour’. Isto é, à hora do crepúsculo. Quando se nota aquela luz frouxa antes do romper do sol ou depois do pôr-do-sol. E a nível de gastronomia a zona está bem servida?Apesar de não gostar de sável, o prato típico daqui, acho que se come muito bem nesta região. Aliás, faço sempre questão de trazer os meus amigos de Lisboa e alguns do estrangeiro a Vila Franca de Xira para eles conhecerem a nossa gastronomia. Os pratos tradicionais portugueses são muito bem servidos e são servidos a muito bom preço.Há talentos nesta região?Sim! Formam-se muitos jogadores de futebol no União Desportiva Vila-Franquense e no Alverca. O Mantorras por exemplo. A nível artístico também tem saído de cá muito boa gente da minha geração. Pessoas com quem tive a oportunidade de crescer e continuar a dar-me bem com elas. Estou a lembrar-me do João Baptista (actor), da Teresa Tavares (actriz e apresentadora) e do Miguel Domingues (apresentador). Lembro-me que quando o Miguel era mais novo e era guarda-redes era um grandessíssimo ‘frango’! (risos)Que recordações de infância tem da Castanheira do Ribatejo?Tenho muitas recordações, foi aqui que cresci. Fiz a escola primária na Castanheira. Quando fui para o 5ºano, tinha eu uns 10 anos, apanhava uma camioneta, todos os dias, para ir a Vila Franca de Xira. Lembro-me que a ideia de andar na camioneta, com mais 50 miúdos da minha idade, irritava-me muito. Quando chegava a altura do Inverno, em que chovia torrencialmente, então aí, desatava a chorar na paragem da camioneta. Mal a via a chegar, desatava a correr para casa de alguém. Descobri que tinha medo da chuva. Também tenho memórias mais divertidas. Recordo-me muito bem de fazer torneios de futebol com os outros meninos, junto ao adro da Igreja, mesmo em frente a minha casa. Hoje sei que já na naquela altura corria muitos perigos. Era uma zona que não era muito bem frequentada. Havia por lá muitos tóxico-dependentes e muitas seringas no chão. Ainda tens amigos na Castanheira?Sim! A Élia Areias, por exemplo, é uma grande amiga que guardo desde infância.O Verão no Ribatejo é de morte ou é muito morto?O Verão aqui é muito quente e infelizmente para mim é sustentado por festas de que não gosto nada. (risos)Não gostas de assistir às touradas?Não. Detesto touradas. Ia dizer que é desumano, mas pensando bem são demasiado humanas. São muito, permite-me o neologismo, “desanimais”. E dos forcados?O quê? Daqueles tipos que andam só a gozar com o animal? Eu gostava de saber que direito é que nós temos de brincar com um animal sem saber se ele está disposto a brincar connosco. Desafio toda a gente a pensar e a colocar-se no lugar no touro! Percebo que provocar o animal seja humano, mas sinceramente não gosto. Como veio parar a Castanheira do Ribatejo?Eu nasci em Vila Franca de Xira e os meus pais sempre moraram na Castanheira do Ribatejo. Não foi propriamente uma escolha que fiz, mas o resultado de uma circunstância da própria história familiar.Mas continua a viver na Castanheira... É uma escolha?Continua a não ser propriamente uma escolha. Comecei a trabalhar há pouco tempo e por isso ainda vivo em casa do meu pai. Mas gostava de viver, num futuro próximo, em Lisboa. Por razões muito óbvias: ficaria muito mais perto do trabalho e evitaria as filas de trânsito que me consomem imenso tempo.Castanheira será sempre um refúgio?Refúgio, não diria… Mas com certeza que hei-de voltar sempre para visitar a minha família e os meus amigos.Até onde é que vai a ambição?Até ao Botswana…E os sonhos?Os meus sonhos…não sei… Eu tento fazer o que eu gosto e entrego-me a isso. Se calhar já estou a cumprir os meus sonhos!

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