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“O medo também alimenta a paixão”

Ricardo Levezinho quer ajudar a dignificar a Praça de Toiros Palha Blanco

É um empresário apaixonado pela festa brava que está à frente da Praça de Toiros Palha Blanco em Vila Franca de Xira. Ricardo Levezinho, 34 anos, gestor de profissão, dividido entre o coração e a razão, não faz cedências à mediocridade. O concerto com Mariza é o espectáculo que se segue para atrair mais público às bancadas de um lugar histórico.

Como tem corrido esta aventura, que começou em Janeiro, de gerir uma praça de toiros?Somos de Vila Franca. O meu pai, o meu irmão, o meu primo... Aficionados desde sempre. E gostamos muito de Vila Franca, da tauromaquia e desta praça em especial. É um gosto relembrar os espectáculos históricos…. Há algum tempo que andávamos com a ideia de ir para a frente com este projecto e foi este ano que a coragem apareceu. Estava tudo a ser preparado há dois anos. Apresentámos uma proposta que no nosso entender era positiva para a Palha Blanco e para a própria festa dos toiros. E tivemos sorte porque a Misericórdia acreditou no projecto. Estamos aqui para cumprir à risca o projecto. Numa área particularmente complicada…Todas são complicadas. Não podemos olhar para a festa como um mundo que é mau. Não há nada mais bonito que uma praça cheia e isso dá-nos força para seguir em frente passando as adversidades. Já passaram por muitas?...Se dissesse o contrário estaria a mentir. Há negócios que não são fáceis. Há uma corrida em Maio que corre mal. Nunca estamos preparados para as adversidades, mas há que lutar. Mas nem tudo é negativo. Tivemos um espectáculo de recortadores de toiros que foi uma novidade em Portugal. Está nas praças de toiros de Madrid e Saragoça. É um espectáculo muito interessante com traz muitas pessoas. E tivemos também muito sucesso na garraiada. No início da concessão propôs-se dignificar a praça. Como se faz esse trabalho?Temos muito respeito pela praça de toiros, que é mais que centenária, e pelos espectáculos de qualidade que por aqui passaram. Na organização das corridas o primeiro cuidado que temos é com a selecção do toiro. É ponto-chave de uma corrida de toiros. O espectáculo tem que ter qualidade e as pessoas têm que sentir que vêm a uma festa para se divertir. Tem que existir um pouco de medo? Com certeza que sim. Isso é que alimenta também a paixão... O concerto da Mariza marcado para 30 de Agosto surge também desta vontade em apostar na qualidade e da dignificação do espaço.E como surge a oportunidade do espectáculo?Eu já tinha a ideia de trazer um concerto à praça, alguma coisa diferente dos toiros para preencher os tempos mortos. Há uma altura entre o colete encarnado e a feira em que a praça está vazia. Surgiu a possibilidade do concerto e isso foi colocado à consideração da Santa Casa da Misericórdia que entendeu que o espectáculo seria muito positivo. E assim conseguimos trazer cá a Mariza. O nosso objectivo é deixar nas pessoas a vontade de regressar à praça face a um espectáculo de qualidade. Este espectáculo é um acto isolado ou é para ter continuidade?O que quero é dar continuidade à qualidade. Se considerarmos que estão reunidas as condições para que a qualidade aqui esteja concerteza que terá seguimento. Mas o público que vê a Mariza pode não ser necessariamente o público que vem à tourada…Temos essa percepção. Mas considero que pode ser uma forma de fazer com que algumas pessoas que não têm vindo ao espectáculo voltem. Ao dignificar a praça vincando a ideia do espectáculo fascinante as pessoas vão tomar a referência da qualidade. É esse o caminho. E temos que perceber que há determinados espectáculos que não podemos aqui fazer. Embora fossem rentáveis…Por exemplo?O wrestling que seria uma coisa que decerto atrairia muita gente. Seria um sucesso. Mas não queremos ferir este espaço. Não é um espaço recente. Tem uma história que tem que ser respeitada. O que terá levado as pessoas a afastarem-se?Temos uma crise à porta, mas olhamos para outras praças e estão cheias. É esta a mensagem que temos que passar para os vilafranquenses e aficcionados. A praça é linda e tem qualidade para excelentes espectáculos. É um espaço mítico e quando tem gente é maravilhoso. Não conheço outro assim, mas também sou suspeito…Mas os bilhetes são caros. Como ultrapassar isso?Estamos a tentar apostar na diversidade. Há bilhetes para a Feira de Outubro desde 10 euros. Há preços que possibilitam a vinda de todas as pessoas aos toiros. Não queremos que ninguém fique em casa por causa do valor. A partir de 20 e 25 euros sabemos que é mais difícil trazer a família. E é importante que a família venha para que se mantenha o gosto pela tauromaquia. Há uma geração que prefere ficar em casa com os jogos, a playstation, a Internet e que não sente os valores dos pais e avós que estavam aqui presentes. Os miúdos não pagam até aos oito anos. Era importantíssimo que os pais os trouxessem. Era uma forma de dar continuidade a uma cultura. E sente esse afastamento entre os mais jovens?Sinto que os jovens estão sedentos de um tipo de cultura que lhes dê alguma referência. Isso viu-se no espectáculo dos recortadores. Foi um sucesso e ficou a dever-se à juventude. Entre os alunos das escolas de Vila Franca houve uma procura estrondosa de bilhetes. Os miúdos estão aqui…Mas algumas praças não terão as melhores condições para receber…O que está na moda são as praças multiusos que trazem mais alguma comodidade. É esta que temos e que temos que aproveitar. A praça tem 107 anos e óptimas condições. Não constitui nenhum óbice. A tauromaquia deveria ser mais potenciada em termos turísticos?Em Espanha é uma festa nacional. Madrid aos domingos tem 90 por cento de turistas. Acho que deveria existir mais divulgação da tauromaquia por parte das entidades competentes, como o Estado, para potenciar a festa como referência. E o que diz às vozes que se levantam a favor dos direitos dos animais?Respeito a opinião de todos. Não sou uma pessoa polémica. Vivemos em democracia. Por isso também gosto que respeitem a minha opinião. Não sou assassino, não sou criminoso. Sou alguém que tem um gosto muito grande pela tauromaquia que é uma forma de cultura importante, se não a mais importante para o nosso país. A história da tauromaquia não começou ontem e tem de vida muitos mais anos do que as pessoas que reclamam.

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