Como é que vou contar isto à minha mulher?

Uma colega preparava uma reportagem sobre uma casa de alterne nos arredores de Tomar. Algumas pessoas da população protestavam. Queixavam-se do barulho, do desassossego provocado pelos clientes que iam ao estabelecimento onde andavam “umas meninas quase sem roupa a servir às mesas”. Foi-me incumbida a tarefa de ir, como simples cliente, confirmar as informações. Disse à minha mulher que tinha trabalho agendado para essa noite e lá fui.Às onze da noite encontrei-me com um colega a meia dúzia de quilómetros do objectivo. O carro de O MIRANTE ficou num parque de estacionamento ali perto para não dar nas vistas. Seguimos os dois no carro particular dele. Quando passei a porta controlada por um segurança mal sabia o que me ia acontecer. Lembro-me que naquela noite entrávamos na hora de Verão e que os relógios adiantavam uma hora. Umas seis meninas andavam pela sala com calções e saias que pareciam cintos. Nádegas de fora. Decotes provocantes. Mais pele de fora do que dentro das blusas justas e curtas. Os clientes não eram mais de duas dezenas. Uns dois ou três muito jovens. Outros seguramente com mais de 40 anos. Botas sujas de cal e cimento alguns, como se tivessem vindo directamente das obras. Papéis e notas de euro anarquicamente enfiados nos bolsos das camisas.Munidos cada um de sua cerveja instalámo-nos num sofá. Passados instantes estávamos acompanhados de uma rapariga alta e loira. “Posso sentar?” e sentou-se sem esperar resposta. O meu colega levantou-se para ir à casa de banho e ali fiquei eu e ela no canto escuro da sala. Ali perto uma outra menina está completamente enroscada num cliente. As mãos dele descem e sobem freneticamente pelas pernas dela. “Posso virar?”, pergunta a minha companhia. Não percebi a pergunta mas disse que sim. Ela deu uma cambalhota por cima do sofá e aterrou-me no colo. O meu colega observava de longe mas não se aproximava. Ela esfregava-se em mim tentando excitar-me. Pedia-lhe que lhe mexesse nos seios. Eu sentia-me o centro das atenções. Estava incomodado. Ela não parava de insistir para eu encomendar uma garrafa de champanhe para irmos “para o privado”. Fui recusando mas ela não desistia. Começou a fazer um strip-tease à minha frente. Dançava sensualmente abanando todo o corpo. Fui salvo pela mudança da hora. A responsável da casa avisou que o estabelecimento estava a fechar. Teve que tirar a menina, quase à força, de perto de mim porque ela não me largava. Saí para a rua com o meu colega que não parava de rir e soube-me bem o ar fresco.No carro, a caminho de casa hesito entre contar ou não contar o que se passou à minha mulher. Contei-lhe a ela e contei depois no Ministério Público, na sequência de uma queixa apresentada pelo proprietário do bar contra a minha colega, a uma juíza e uma funcionária. Quem disse que o jornalismo não é uma profissão de risco?

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