“Faça algum bem por nós”

Aterrei no semanário regional O MIRANTE há uns meses. Na primeira reunião de redacção deram-me dicas e contactos que seriam úteis para o meu trabalho. Pediram-me para ser observadora e ter espírito crítico. Deram-se algumas explicações gerais, passaram-me para a mão uma máquina fotográfica com a recomendação de ler as instruções e fazer boas fotos. Falaram-me também de jornalismo de proximidade. Achei que tinha percebido. Descobri mais tarde que apenas tinha começado a perceber.Em Vila Franca de Xira, na festa do Colete Encarnado vi um toiro correr na minha direcção e assustei-me. Eram dez da noite de uma sexta-feira e ali andava eu a correr como louca a fazer uma reportagem sobre tertúlias. Pelo meio assisti à largada. Quando me sentei ao computador para escrever o meu primeiro texto para O MIRANTE demorei horas. Quando o entreguei pediram-me para o reformular. Eu reformulei e voltaram a pedir-me para o rever. Foi à terceira tentativa que o aceitaram. Nesta profissão não há horários. As notícias não começam a acontecer às nove e meia da manhã e não encerram às cinco e meia da tarde. Estou a aprender que um jornalista trabalha cada segundo que respira. E que quem gosta do que faz, não se cansa.Em pleno mês de Agosto calhou-me uma reportagem num centro de dia para idosos em Vale do Paraíso, concelho de Azambuja. Como ainda estou a tirar a carta fui de comboio até Azambuja e lá indicaram-me uma camioneta que passaria perto da terra. O motorista largou-me numa estrada no meio de nenhures. Vi uma placa a indicar Vale de Paraíso e meti pés ao caminho. A subida era íngreme. Eram duas da tarde. O sol abrasava. Deviam estar uns 35 graus à sombra. Andei quilómetros. No final da reportagem, à saída, uma senhora de idade exclamou: “Faça algum bem por nós”. Não amaldiçoei mais a caminhada. Há sacrifícios que valem bem a pena.

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