Médico milagreiro continua a arrastar fiéis

Na manhã de 18 de Agosto centenas de pessoas acumularam-se junto ao jazigo do médico Sousa Martins, em Alhandra, considerado um santo milagreiro. Uma manifestação de devoção impressionante protagonizada por gente que vem de norte a sul do país.

Ermelinda Xavier saiu de Vila Real às três da manhã para vir a Alhandra agradecer ao doutor Sousa Martins a ajuda na resolução dos seus problemas de saúde. Em visíveis dificuldades, a caminhar de joelhos desde a entrada do cemitério, aproximou-se vagarosamente do túmulo e dirigiu algumas orações ao médico com fama de milagreiro, adorado por muita gente de norte a sul do país.Ermelinda Xavier foi uma das centenas de devotos que se acumularam desde manhã cedo junto ao jazigo de Sousa Martins, no cemitério de Alhandra. Nesse dia assinalava-se mais um aniversário da morte do médico e investigador. A fila prolongava-se desde o parque de estacionamento perante um sol que foi aquecendo naquela manhã de Agosto. A grande maioria das pessoas são mulheres de várias idades. As crianças contam-se pelos dedos. Vêm com flores para depositar à volta do túmulo, velas, pequenas estatuetas e t-shirts com imagens alusivas a Sousa Martins, o médico que viveu no século XIX e que para muitos ainda é considerado um santo milagreiro. As ruas nas imediações do cemitério ficam cheias de carros. Um guarda da GNR, fica à entrada e limita o acesso dos veículos às pessoas com dificuldades de locomoção.Já dentro do cemitério os cerca de 50 metros em linha recta que distam da entrada até ao jazigo de Sousa Martins são divididos por um cordão que ordena as pessoas. Só quatro a cinco entram de cada vez no jazigo.Fora desse corredor só têm “prioridade” as pessoas que pagam promessas de joelhos e que apresentam manifestas dificuldades físicas. No espaço de um minuto as pessoas entram, tocam no túmulo do médico e no da esposa, Maria das Dores, e rezam. Saem e entram outros tantos. A maior parte deixa um contributo em dinheiro na caixa de esmolas, que está logo ao lado. Muitas moedas mas também várias notas. Cerca das dez horas a caixa é retirada por já se encontrar cheia.Após o contacto com o túmulo de Sousa Martins, muitas pessoas vão colocar velas cerca de cinco metros mais abaixo. O fogo arde com intensidade, tanta é a cera a derreter das centenas de velas colocadas. Ao fim de uma hora já tinham passado centenas de pessoas pelo local. Pouco depois chega uma mulher de braços no ar, agarrada de um lado, pelo marido, e do outro, por uma senhora que reza e apela em voz alta à sua cura por Sousa Martins. Vagarosamente chegaram até ao túmulo, perante o olhar de muita gente.O marido, Hermano Barros, explicou que a mulher pediu muito para ali se deslocar, já que fica sempre num estado inconsciente, especialmente quando se aproximam as datas marcantes da vida de Sousa Martins, a do falecimento e a do nascimento. Negócio paraleloUns metros mais abaixo, na rua de acesso ao cemitério, desenvolve-se um negócio paralelo ligado à devoção a Sousa Martins. Imagens, medalhas, pequenos bustos, velas e flores, entre outros objectos. Tudo entre um e 15 euros. As bancas montam-se a partir das cinco da manhã. Maria Helena Mourinha e a cunhada, Emília Mourinha, juntam duas bancas cheias de pequenos artefactos. O que mais vende são as flores e as velas. Nos melhores dias fica tudo vazio até ao fim da tarde. “Costumamos comprar a maior parte das coisas em Fátima, confessa uma das vendedoras. José Tomás de Sousa Martins nasceu em Alhandra, a 7 de Março de 1843, filho de um carpinteiro. Era o mais novo de quatro irmãos. Tirou o curso de farmacêutico e depois o de médico. Torna-se um dos cientistas mais prestigiados do país, pelo estudo da tuberculose e das doenças nervosas. Integra a Geração de 70 e afirma-se «um progressista e um maçon». Solteiro, dedica-se à medicina, física, química, botânica, zoologia, cirurgia, literatura, poesia, filosofia, história e oratória. A luta contra a tuberculose fazia-o expor-se à doença, nos contactos diários e directos com os doentes terminais. Faleceu na madrugada de 18 de Agosto de 1897, com 54 anos. Padecia de tuberculose e acabou por se suicidar.

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