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Amantes da literatura discutem obras de escritores neo-realistas de Vila Franca de Xira

“Percursos Literários na Minha Terra” termina a 10 de Janeiro no Palácio da Quinta da Piedade

É sobretudo a paixão pela leitura que leva o público aos percursos literários por terras de Vila Franca de Xira.

O que leva uma dezena de homens e mulheres a juntarem-se na tarde de sábado, 20 de Dezembro, - quando a maioria das pessoas anda atarefada com as últimas compras de Natal - para discutir e interpretar livros de escritores neo-realistas de Vila Franca de Xira? “A paixão pela leitura”, afirmam sem hesitar.“Percursos Literários na Minha Terra” é uma iniciativa da Biblioteca Municipal da Quinta da Piedade, na Póvoa de Santa Iria (concelho de Vila Franca de Xira), que se insere no programa Livrolândia apoiado pela Gulbenkian. “Os Esteiros”, de Soeiro Pereira Gomes, “Barranco de Cegos” e “Olhos de Água”, de Alves Redol e “Os Mastins” de Álvaro Guerra foram as obras estudadas até ao momento.A dinamização dos textos é coordenada por Vítor Viçoso, professor de cultura portuguesa na Faculdade de Letras de Lisboa, actualmente aposentado. “O objectivo deste projecto é fazer a animação da cultura, encontrar pistas e reflexos de cada obra colectivamente”, explica o professor. José Movilha, 65 anos, é um dos participantes da iniciativa que reúne mais de uma dezena de pessoas. É apaixonado pela leitura desde criança e não pensou duas vezes quando teve conhecimento da iniciativa. Confessa-se um leitor heterogéneo que lê de tudo um pouco mas elege Steiner, José Saramago e António Lobo Antunes como os seus escritores preferidos. “Tenho uma biblioteca significativa porque comecei a comprar livros quando tinha cinco anos. Sempre que o meu pai e o meu avô me davam dinheiro eu aproveitava para comprar livrinhos que me fascinavam”, recorda o reformado do ramo da restauração que se aventurou recentemente na escrita.Também para Isabel Paulo, 50 anos, professora de Português no Ensino Secundário, esta tem sido uma experiência muito enriquecedora. Descobriu um novo e diferente olhar sobre a literatura neo-realista. Leu todas as obras estudadas durante as seis sessões mas destaca “Os Esteiros”, de Soeiro Pereira Gomes como a obra preferida.A professora de Português considera que se estão a perder hábitos de leitura nas camadas mais jovens. “O que os jovens lêem não tem conteúdo. É a chamada literatura “light” que se espremermos bem não tem conteúdo nenhum”, diz. Para Isabel Paulo a solução passa sobretudo pela família que deve incutir hábitos de leitura nos mais novos. “Na escola podemos incentivar, mas a verdade é que não mandamos neles. Eu vejo as crianças a ler mas não sei se vão conseguir fazer a transição da literatura mais leve para aquela a que chamamos clássicos. Os miúdos assustam-se com a grossura dos livros. Mas o problema é que os pais dos jovens também não foram habituados a ler e não os motivam para a leitura”, reflecte, a professora Isabel Paulo.Opinião idêntica tem António Nabais, 75 anos, para quem a família tem um papel fundamental na formação literária dos mais novos. E dá o exemplo dos seus netos a quem compra livros juvenis com regularidade. “Assim que lhes ofereço um livro eles devoram-no. O problema é que existem muitas outras actividades lúdicas a desviá-los e eles cedem com facilidade porque ler nem sempre é fácil. Há que descobrir o prazer da leitura”, explicou a O MIRANTE.António Nabais é frequentador assíduo da Biblioteca e participa com entusiasmo em sessões literárias. Ganhou o gosto pela leitura em criança depois de ler todas as obras de Júlio Verne. Aos dez anos leu Vítor Hugo e adorou. Mas foi quando esteve preso cinco anos e meio durante o fascismo que “devorou” livros.Segundo Vítor Viçoso vivemos numa época dominada pela imagem que tornou-se de tal maneira imperial no quotidiano que a literatura acaba por sofrer muito com isso. Para o professor o ideal é a formação literária começar nas escolas. “A literatura é um aspecto muito importante da formação do cidadão e há que criar mecanismos novos para atrair os leitores”, conclui.

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