Duas mãos e meia de sal para dois quilos de castanhas
Duas mãos e meia de sal para dois quilos de castanhas. Pode parecer pouco, mas Maria Fernanda é que sabe como preparar as “quentes e boas” cantadas por António Mello Corrêa no seu popular fado. O carrinho velho foi sendo actualizado e renovado, estando quase diariamente “estacionado” na Rua Capelo e Ivens em Santarém. O movimento das mãos é automático. Agarra com força o assador e agita-o. Uma baforada de fumo invade a rua e entranha cheiro na roupa. Faz isto desde criança, altura em que acompanhava os pais pela região a vender castanha assada. O sal da vida não lhe destruiu o sorriso e a simpatia, que infelizmente não são suficientes para vender muita castanha. “Agora ganha-se muito mal, só dá para sobreviver”, diz, antecipando que este ano o Natal vai ser fraquinho. Maria afasta o pessimismo com um pregão original: “Olha a castanha tailandesa, produto genuíno tailandês, larga bem a casca e tira a pele ao freguês!”. Alguns clientes estranham. “Também tenho da Freixiosa, mas na compra de uma dúzia vai sempre uma bichosa”, remata. Afinal é tudo brincadeira. A castanha é de Trás-os-Montes. As mãos calejadas do trabalho do campo, sua principal ocupação quando a época da castanha termina, enrolam com destreza um cone de papel que mais não é que um boletim de apostas. Diz que o principal segredo de uma boa castanha assada está no assador. “O resto qualquer pessoa pode fazer”, informa. A vida é dura e a jornada de trabalho longa. Chega a estar da madrugada até ao escurecer na rua, sempre a queimar carvão. Nos dias de chuva abriga-se numa “tenda improvisada” feita com plásticos. “Não me vejo a fazer outra coisa”, refere.Filipe Matias
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