Paulo Cunha
44 anos, empresário
Nasceu em Alpiarça a 16 de Dezembro de 1964. Formado em administração de empresas, gere os destinos da “Pinhal da Torre”, que se dedica à produção e comercialização de vinhos. Um negócio de família que se desenvolve no coração do Ribatejo, na Quinta de S. João, numa adega histórica construída em 1947 que está a ser alvo de modernização. Considera a dedicação, o esforço e a ética como os pilares de qualquer actividade bem sucedida.
Esta é uma empresa familiar que se dedicou durante muitos anos à venda de vinho a granel. Há dezasseis anos decidimos apostar na produção de vinhos de qualidade e replantámos cerca de 55 hectares com as melhores castas portuguesas como a Touriga Nacional, a Tinta Roriz, a Touriga Franca, a Trincadeira, a Castelão, a Arinto e a Fernão Pires. Também temos algumas castas estrangeiras como a Syrah, a Cabernet Sauvignon, a Cabernet Franc e a Merlot. Só colocamos na garrafa vinhos de qualidade. Os meus avós paternos e maternos sempre se dedicaram à produção de vinhos. Chegámos a ter 200 hectares de vinha mas era um negócio que tinha características diferentes da actual filosofia da empresa. Actualmente a nossa preocupação é a qualidade dos nossos vinhos. Entendo que, não só no negócio do vinho como em qualquer outra actividade, só existem dois grupos que vão sobreviver nos próximos tempos: as grandes empresas que têm capacidade de criar uma marca associada a um produto de alguma qualidade e vendê-lo a preços acessíveis ou então as empresas mais pequenas mas que apostam essencialmente na qualidade. Tomei a decisão de assumir a condução da empresa há nove anos. Foi quase por exigência da família numa altura em que estávamos a produzir vinhos de grande qualidade. Este é um negócio que exige, nas actuais circunstâncias, uma grande dedicação. Quando vendíamos vinho a granel as coisas eram mais simples. Mandavam-se as amostras a potenciais compradores, eles provavam e combinávamos o preço. Hoje já vendemos em 17 países. A internacionalização é inevitável para quem, como nós, acredita que tem produtos de alguma qualidade uma vez que o nosso mercado é muito pequeno. A região do Ribatejo é um pouco penalizada junto do consumidor comum. Temos que lutar bastante para conseguir impor os nossos vinhos. Isso faz com que tenhamos que nos voltar para o estrangeiro. Temos que fazer um desbravar de caminhos porque lá fora as pessoas não associam Portugal ao vinho, tirando a grande excepção que é o vinho do Porto. Mas temos conseguido obter algum reconhecimento internacional de importância. Por exemplo, o mais importante crítico de vinhos do mundo, Robert Parker, distinguiu o “Quinta do Alqueve 2002” como o “Wine of the Day”. Isso enche-nos de orgulho. Apesar de este ser um negócio herdado, tenho uma paixão enorme por aquilo que faço. A nossa empresa chama-se “Pinhal da Torre” porque esta zona de Alpiarça é conhecida por esse nome. Tem aqui um pinhal e, provavelmente, aqui há uns anos tinha uma torre que já não existe. Temos dentro da empresa duas quintas: a Quinta de São João e a Quinta do Alqueve. Estamos agora a iniciar uma pequena produção de azeite. Trabalham connosco nove colaboradores em permanência. Gosto muito de viajar. Por norma faço 15 viagens por ano. Viajar abre-nos os horizontes. Indiscutivelmente. Conheço mais de 30 países e a alguns deles vou com frequência. Gosto mais dos países mais desenvolvidos. Gosto muito dos Estados Unidos e do Brasil, claro. Foi o país onde vivi muitos anos, onde tive uma carreira interessante do ponto de vista empresarial e onde nasceram os meus filhos. Em qualquer profissão existe muita competição pelo que considero que, acima de tudo, as pessoas têm que ser competentes. Tenho a felicidade de morar a duzentos metros do meu escritório e de poder almoçar e jantar muitas vezes com os meus dois filhos, uma rapariga de 12 e um rapaz de 10. Não faço questão que os meus filhos sigam a vida que eu segui, mas se escolherem serão bem-vindos. A única coisa que exijo deles é que sejam bons alunos e que tentem ser o mais correctos possível com os outros.
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