
Edifícios em ruínas e barcos varinos tapados com lonas são ofertas turísticas reais na região
A publicidade que faz Vila Franca e Azambuja na Bolsa de Turismo está longe da realidade
A Praça de Touros está fechada, o barco varino coberto por uma lona e turista que se arrisque pela Lezíria de Vila Franca de Xira corre o risco de se perder. Em Azambuja, no palácio das Obras Novas, junto à Vala Real, a protecção civil aconselha o visitante a afastar-se de um dos pontos turísticos promovidos pelo município na Bolsa de Turismo de Lisboa.
Aparece esguio e colorido no catálogo do stand da Bolsa de Turismo de Lisboa. Mas o turista que se aventure por terras de Vila Franca de Xira à procura do barco varino liberdade vai deixar decepcionado a cidade ribatejana.Esta é apenas uma das desilusões entre a realidade e a publicidade das fotografias coloridas que dão vida aos catálogos que os municípios promovem na Bolsa de Turismo de Lisboa, uma feira anual onde se conhece o melhor do turismo português e se reservam viagens para destinos estrangeiros. A verdade é que há mais para ver no papel do que no terreno, como constatou O MIRANTE que vestiu a pele de um turista para constatar o que há na realidade. O barco varino, símbolo da cidade, nem sequer está atracado no cais. Está longe dos olhares e do alcance da máquina fotográfica, algures no rio, tapado com lonas. Olhamos para o folheto informativo e reparamos que este só está a funcionar entre Maio e Outubro. Mas não custava nada atracá-lo mais próximo do cais para que os visitantes da cidade o pudessem contemplar. Mesmo ao lado o jardim Palha Blanco é uma “piscina de lama” devido às obras que ali estão a ser efectuadas, obrigando os turistas a calçar botins para o atravessar. Segue-se a lezíria. Do outro lado do “rio de oportunidades” que é promovido não se encontra informação que indique ao turista qual o melhor local para parar e realmente ver alguma coisa.Quando se descobre o alojamento não podemos deixar de reparar que uma residencial disponibiliza folhetos com mais de 10 anos, com um número de telefone para efectuar as reservas ainda começa com um indicativo de 063 e apenas seis números.O jornalista turista decide deixar o alojamento de lado e começa a explorar a oferta. Vila Franca aposta nas lezírias, nas touradas e nas quintas. Não há menção à feira de artesanato, tão pouco ao novo passeio ribeirinho que liga Alhandra a Vila Franca. A praça de Palha Blanco, principal atracção da cidade que reclama o título de “Sevilha Portuguesa”, é a principal sugestão, mas está fechada. Decidimos guardar os folhetos e arrancar rumo ao nosso próximo destino: Azambuja.Capacete e seguro contra todos os riscosNa BTL o espaço de Azambuja está mesmo ao lado de Vila Franca de Xira. À primeira vista os dois concelhos parecem promover a mesma coisa: o Tejo, a lezíria e a festa brava. Mas quando nos aproximamos do stand há algo diferente. A começar por um guia turístico mais completo e abrangente, que mostra da riqueza da natureza ao “património histórico e cultural” que a Azambuja tem para oferecer ao turista. Mas tal como em Vila Franca também as imagens são mais bonitas no papel do que na realidade.O turista não recebe qualquer informação sobre onde encontrar os mouchões. Ironicamente, já no terreno, nem um dos populares da vila sabe onde ficam. Pergunta-se pelo rio, atravessa-se a linha de comboio e deixa-se o centro da Azambuja. Pelo caminho o turista passa por um parque de merendas que tem ervas da altura das mesas. A ponte da Vala Real continua “em obras” e uns metros depois encontra-se a primeira das várias atracções do município: o palácio das obras novas. É descrito na brochura turística como “um magnífico palácio”. Par alá chegar é preciso ultrapassar uma estrada de terra batida, esburacada e sinuosa, que em dias de chuva se transforma num lamaçal. Ao fundo as ruínas que pouco ou nada têm a ver com o que é apresentado no folheto turístico. No local não existe qualquer informação relativa ao histórico edifício, nem infraestruturas de apoio ao turismo. Ao invés, somos brindados com uma placa da protecção civil, pregada na parede, que aconselha os visitantes a afastarem-se do “magnífico palácio” porque este poderá ruir a qualquer momento. Mesmo que o turista quisesse entrar na parte mais a norte do edifício isso seria quase impossível devido à farta vegetação que ali se eleva. O lixo amontoa-se e o pontão está seco e degradado. O rio corre devagar, ignorando a passagem dos anos. Decidimos continuar a descobrir as zonas mais turísticas do concelho, segundo o guia. Ainda na Azambuja paramos na praia fluvial que é um espaço ao abandono. As casas de banho continuam vandalizadas e placas informativas estão destruídas. A velha fachada do eterno palácio inacabado em Manique do Intendente também é atracção turística. Mas também aqui existem avisos de derrocada, não fosse ter caído um pedregulho de 30 quilos há dois anos. Informação histórica não existe. Vale neste caso a cordialidade das gentes da terra que rapidamente convida a visitar a praça central, essa sim recuperada e a ostentar todo o seu esplendor. Nem tudo o que é retratado nos guias corresponde ao que realmente é possível encontrar. Em ambos os concelhos vai valendo ao turista a diversidade de museus. Turismo fora de portas não se encontra.

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