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Vila Franca de Xira perde investimentos, serviços e importância

Vila Franca de Xira perde investimentos, serviços e importância

Falta de terrenos livres e estratégia das empresas na origem das mudanças

Empresários, comerciantes e dirigentes associativos lamentam que o concelho tenha perdido oportunidades e serviços fundamentais para criar emprego e estimular o desenvolvimento.

A saída do Museu do Ar de Alverca é apenas mais uma perda do concelho de Vila Franca de Xira que nos últimos anos viu voar os projectos de instalação do maior fabricante mundial de mobiliário IKEA e da cidade do cinema. O município perdeu serviços da Direcção Regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste (DRARO), que empregavam mais de uma centena de pessoas, e o matadouro municipal onde eram abatidos centenas de animais para consumo, obrigando os comerciantes a recorrer a Santarém e Arruda dos Vinhos. Nem o futebol escapou à crise. Alverca e Vilafranquense deixaram a ribalta do futebol e caíram nos distritais. A falta de terrenos disponíveis e sem condicionantes levou a que a IKEA se instalasse em Alfragide, às portas de Lisboa, enquanto a cidade do cinema deverá acompanhar o Museu do Ar em Sintra.Mas não ficam por aqui as oportunidades perdidas pelo concelho de Vila Franca. O MIRANTE apurou que várias empresas instalaram-se nos concelhos de Loures, Benavente e Alcochete depois de abandonarem a intenção de implementar os negócios em Alverca, Vialonga e Vila Franca. “Os terrenos são mais caros e encontrei mais burocracia”, refere João Alves, empresário do sector das energias renováveis.No futebol, o município também ficou fora de jogo. O MIRANTE apurou junto de um empresário que a Academia do Sporting, a funcionar em Alcochete, poderia ter ficado no concelho de Vila Franca. O investidor imobiliário ligado ao clube, pede anonimato, mas explica que havia terrenos com condições para a instalação.“Tinham condicionantes por causa do PDM. Se fizessem o mesmo que fizeram para a plataforma logística, teria sido possível. Era um projecto com interesse para a região que qualquer concelho gostaria de ter”, explica.O centro de estágio do Futebol Clube de Alverca ainda continua a ser uma miragem e o clube ressentiu-se desse atraso.Os sócios mais antigos não se conformam que um clube que “há meia dúzia de anos derrotava os grandes do futebol na Superliga”, jogue agora nos distritais. O mesmo destino que teve o União Vilafranquense depois de “sucessivas loucuras” de várias direcções. O desporto já não tem a força que teve. Mesmo assim, surgem campeões na ginástica, desportos náuticos, artes marciais, equitação, automobilismo e xadrez, entre outras modalidades.O esforço redobrado de atletas, famílias e directores é compensado pelas medalhas e distinções. “Devíamos ser mais acarinhados. Às vezes faltam incentivos”, refere Ana Filipa, praticante de ginástica acrobática.Mouchões ameaçados por causa das condicionantes Os mouchões do Tejo, ilhas com condições paradisíacas para o Turismo da Natureza, estão ameaçados pelas águas do rio. Os proprietários estão cansados de investir sem retorno e não sabem até quando conseguirão manter o capricho. Os projectos apresentados para criar espaços de turismo e lazer foram chumbados por razões ambientais. As condicionantes impostas inviabilizam o retorno dos avultados investimentos. Na cultura, Vila Franca ganhou o Museu do Neo-Realismo mas a vida cultural tem perdido fulgor. Os cinemas do Vila FrancaCentro, incluindo o inovador Imax, não suportaram a falta de cinéfilos e fecharam portas. No concelho resiste apenas uma sala de cinema privada na Castanheira do Ribatejo e os velhos cinemas no Forte da Casa e Póvoa de Santa Iria foram condenados à demolição.A única sala de bingo existente na área do município fechou por falta de viabilidade depois da falência de várias administrações. Os jogadores deslocam-se a Lisboa, com perda de receitas e de empregos para o concelho. Nem o moderno Bowling, instalado no centro comercial de Vila Franca, resistiu à crise nos espaços de diversão.A festa brava, cartão de visita de Vila Franca, tenta recuperar a importância perdida no contexto nacional e internacional. A centenária praça de toiros ganhou mais espectadores graças ao empenho da empresa concessionária, mas a praça não repete as enchentes de outros tempos.Certames de importância nacional, como o Xira Infantil perderam importância. O Carnaval de Alhandra, que chegou a ser um dos maiores do país, está suspenso por falta de apoios.A vida associativa do concelho perdeu fulgor. Os dirigentes queixam-se da ausência de incentivos e da desmotivação dos voluntários, mas mesmo assim há centenas de cidadãos que dão vida às comunidades onde vivem e trabalham. “Nós somos a alma da cultura popular”, refere Joaquim Alves, músico e dirigente associativo em Alverca.Vila Franca, que foi noutros tempos um pólo importante do comércio sobrevive hoje “num marasmo”. “Não se ganha para a bucha. Já ninguém vem ao centro de Vila Franca fazer compras”, refere Maria Isaura, comerciante de roupas.Quem sempre viveu do comércio, assiste à morte lenta dos seus negócios queimando as poupanças que arrecadou no tempo das vacas gordas. “As pessoas vinham de todo o lado para comprar tudo em Vila Franca. A falta de estacionamento foi a primeira machadada, depois a crise acabou com o resto”, refere José Antunes, comerciante que trabalha no concelho há 40 anos.
Vila Franca de Xira perde investimentos, serviços e importância

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