Não suportamos a ideia da morte
A sociedade moderna convive mal com a morte. Com a presença da morte. Com a ideia da morte. Veja-se que até os mortos já não são velados em casa mas em locais afastados. Assépticos. E também ninguém morre em casa. Morremos nos hospitais mesmo quando calha já lá chegarmos mortos. Ninguém suporta o cheiro a morte a impregnar as paredes das casas. Cada vez há mais pessoas a serem cremadas e não é por motivos religiosos. É para não incomodar quem cá fica. Para poupar aos vivos idas aos cemitérios, mesmo quando elas se realizam apenas uma vez por ano. As cinzas podem espelhar-se em qualquer lado. A lei permite-o. Se não parecesse mal havia quem as deitasse na sanita e puxasse o autoclismo. Há cemitérios onde é proibido exteriorizar a dor da maneira que cada um quer. São impostas campas rasas. Para não incomodar. Para não chocar. Outros são extensos relvados. Vamos visitar as antigas sepulturas como as antas mas estamos proibidos de homenagear os nossos mortos da mesma forma. É a ditadura da vida. Qualquer dia proíbem o choro nos funerais. A morte existe. A morte existe. A morte existe e é necessária. Saramago prova isso em As Intermitências da Morte.Luísa Campo Santo
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