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A arte de trabalhar o mármore não é para todos

Fernando Tomé confessa que os trabalhos mais dolorosos foram fazer as pedras para as campas do irmão e do pai

O marmorista mostrou desde cedo ser um homem determinado a aperfeiçoar-se na técnica daquela que viria a ser a sua profissão.Ana Isabel Borrego

A profissão de marmorista surgiu na vida de Fernando Tomé, 44 anos, um pouco por acaso. Quando terminou os estudos, aos 15 anos, e decidiu começar a trabalhar o jovem natural do Chouto, concelho da Chamusca, mas a viver desde pequeno em Alpiarça, não sabia bem que rumo seguir. Começou por aprender a fazer tacos para chão. Mas, em conversa de amigos, disseram-lhe que quem laborasse em mármore nunca tinha falta de trabalho. “Como qualquer jovem, queria uma profissão que fosse rentável e desse dinheiro. Decidi arriscar e consegui alcançar os meus objectivos. Apesar de ter optado por esta profissão, por me terem dito que seria rentável do ponto de vista financeiro, a verdade é que é preciso ter mão para trabalhar o mármore da forma como os clientes gostam”, revela.Fernando Tomé começou por trabalhar numa pequena loja em Alpiarça, mas os donos foram sinceros com o jovem e disseram-lhe que se queria realmente aprender o ofício teria que trabalhar numa empresa maior. O marmorista trabalhou muitos anos numa empresa em Almeirim onde aprendeu os segredos da profissão. Fernando Tomé mostrou desde cedo ser um homem determinado a aperfeiçoar-se na técnica daquela que viria a ser a sua profissão.Era raro o dia em que não ficava a desenvolver a técnica de trabalhar o mármore após as horas de trabalho. “Queria aprender como se fazia, como se moldava a pedra na perfeição. Começava a desenhar no mármore e nem dava pelas horas passarem. No outro dia de manhã perguntava ao mestre da empresa aquilo que ainda não sabia fazer e ele ensinava-me”, conta, acrescentando que é necessário gostar desta profissão para as coisas resultarem.Com o passar dos anos percebeu que podia começar a trabalhar por conta própria tendo inaugurado a sua empresa, que funciona no espaço contíguo à sua casa em Alpiarça, há cerca de 13 anos. Fernando Tomé explica a O MIRANTE que trabalha para a construção civil onde executa sobretudo trabalhos para casas-de-banho e cozinhas, mas 80 por cento do seu trabalho é com campas funerárias.O marmorista conta que actualmente as pessoas preferem as campas cada vez mais simples, mas há uns anos não era assim. “Normalmente as pessoas queriam o desenho de um objecto que representasse a sua profissão. Cheguei a fazer uma guitarra, motas ou colheres de pedreiros”, diz.Fernando Tomé explica que esta é uma profissão dura e exigente e, talvez por isso, diz, não exista muita gente a querer trabalhar nela. Com a ajuda de um funcionário e um carrinho são eles que transportam a pedra e colocam o produto final nas campas. A sua empresa trabalha sobretudo no distrito de Santarém, com maior frequência nos concelhos da Chamusca, Alpiarça, Almeirim e Santarém. Por vezes, também é chamado a ir ao Alentejo onde tem alguns clientes.Trabalhar o mármore é muito minucioso e exige perícia, calma e muita destreza de mãos. Depois dos clientes escolherem que tipo de desenho ou figura desejam, Fernando começa por desenhar em papel vegetal passando depois para a pedra. Quando se pretende trabalhar com relevos retira-se uma altura de pedra deixando o desenho mais alto. O primeiro passo é cortar o mármore. São necessários muitos discos cortantes, de vários tamanhos e potência para cortar os diversos tipos de mármore. Com uma maceta e um badame – ponta de diamante muito fininha – começa-se a trabalhar. “É um trabalho muito sensível que exige muita destreza de mãos. A pancada na pedra tem que ser dada com a força exacta para esta não estalar. Se a pedra estala já não há solução”, explica.De todos os trabalhos que já executou existem dois que o marcaram especialmente. O primeiro, ainda no início da sua actividade profissional, quando teve que executar a campa do irmão que faleceu, aos 33 anos, num acidente. Há cerca de quatro anos teve que arranjar coragem para fazer a campa do pai. “Os meus trabalhos são sempre diferentes uns dos outros, mas nestes dois casos queria que fossem ainda mais originais. Mas não sabia o que havia de fazer. É uma situação muito dolorosa”, confessa com uma ponta de emoção.Ciente da dificuldade dos clientes em lidar com este tipo de assuntos faz tudo para ajudá-los a ultrapassar a escolha da última morada dos seus entes queridos. “Quando me apercebo que não estão a conseguir sair das recordações do familiar, faço perguntas técnicas que os distraiam. Muitas vezes encontro-me também com eles no próprio cemitério para verem as outras campas. É mais fácil para as pessoas escolherem e não pensam tanto na pessoa que perderam”, conclui.“De todos os trabalhos que já executou existem dois que o marcaram especialmente. O primeiro, ainda no início da sua actividade profissional, quando teve que executar a campa do irmão que faleceu, aos 33 anos, num acidente. Há cerca de quatro anos teve que arranjar coragem para fazer a campa do pai”

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