Sábado, 2 de Janeiro. No relógio da Igreja de Azambuja soam as 20h00. Enquanto os fiéis abandonam o templo, depois da missa, distribuindo votos de bom ano novo, o reverendo cónego João Canilho, pároco da vila, recolhe-se na sacristia. Recebe uma visita inesperada com um aperto de mão fraterno e um olhar atento. Podemos ter saudades de um ano em que todos os dias se noticiou o encerramento de empresas? O presidente do Centro Social e Paroquial de Azambuja deixa uma pergunta em jeito de resposta. Em 2009 foram atirados para o desemprego milhares de trabalhadores. João Canilho espera que 2010 – declarado como o ano de combate à pobreza - traga a mudança. “Falam as estatísticas de um número escandaloso de mil milhões de pobres. Espero que os poderosos da terra que andam tão ocupados em sair da crise económica tenham tempo para pensar e erradicar o problema mais dilacerante do planeta: a extrema pobreza e a fome”, lembra. “A fome não pode esperar. Pode desencadear a explosão de violências”, avisa.Em 2009 marcou-o a publicação da encíclica de Bento XVI “Caritas In Veritate” (A caridade na verdade). “É oportuna e corajosa para a actual situação mundial. As suas propostas e denúncias dos aspectos negativos da globalização são uma oferta lúcida, serena, comprometida e profética da igreja”. João Canilho admite que são muitos os problemas de índole social, económica e política, mas considera que a crise que vive o mundo vai mais além: está instalada na consciência da humanidade. “Por isso o Papa propõe um novo modelo a quem tem nas suas mãos os destinos dos povos para que a justiça e a verdade seja a base de um mundo mais humano”.João Canilho, com obra feita nos últimos 50 anos em Azambuja, não olha apenas para o seu quintal quando pensa no ano novo. Deseja para 2010 uma existência feliz a todos os homens e que “todos trabalhem empenhadamente na construção de um mundo mais justo e pacífico”.