Especial 25 de Abril | 21-04-2010 17:17

Na altura tudo aquilo foi para mim muito confuso

Passaram 36 anos. Uma data tão longínqua quanto presente. Longínqua porque era um jovem na “ flor da idade” e presente porque recordo esses tempos como se fossem recentes.Tinha então 17 anos, e já trabalhava desde Fevereiro do ano anterior, após conclusão do Curso de Formação Geral do Comércio na Escola Industrial e Comercial de Tomar (hoje, Escola Secundária Jácome Ratton).O meu pai falecera quatro anos antes e, com mais dois irmãos, a opção foi começar a trabalhar e continuar a estudar à noite, a frequentar o curso de Contabilidade e Administração da Habilitação Complementar (equivalente ao 7º ano do Liceu).E, assim, na noite de 24 de Abril de 1974, encontrava-me em casa do Mário Cobra a estudar para o exame de Economia Política do dia seguinte (que se realizou).Por isso, não ouvi notícias e só na manhã de 25 de Abril, pelas 9 horas, é que, através do rádio a caminho do local de trabalho, ouvi um comunicado do MFA (Movimento das Forças Armadas), e fiquei a saber que tinha havido um golpe militar em Portugal para derrubar o governo ditatorial vigente. Tudo tinha começado às 22h25 com a canção “E Depois do Adeus” por Paulo de Carvalho (transmitida pelos Emissores Associados de Lisboa, e considerada o sinal para o desencadeamento do golpe militar) e depois às 0h20 com a canção “Grândola, Vila Morena” por José Afonso (transmitida pela Rádio Renascença, e considerada a senha do movimento militar).Na altura tudo aquilo foi para mim muito confuso. Tinha ainda pouca consciência política e não tinha a noção exacta do que se estava a passar.Em Palhavã (Tomar), onde residi até aos 10 anos de idade, apenas ia ouvindo dizer que não podia falar mal do governo, de Salazar, era perigoso, porque na vizinhança havia pessoas que não gostavam (mais tarde percebi que eram informadores da PIDE). Na escola e na empresa, a política raramente era abordada. Nesse tempo, a grande preocupação era o horizonte, cada vez mais próximo, da ida para o serviço militar, o mesmo é dizer para a guerra no Ultramar (e, onde, tinham falecido dois vizinhos, já eu residia no Bairro da Caixa de Previdência).Mas, com o 25 de Abril, a “minha guerra” ficou-se pela inspecção militar no dia 3 de Abril de 1976, em Castelo Branco.Os dias seguintes à “Revolução dos Cravos” foram de uma aprendizagem política intensiva, procurando perceber o que estava em causa e o que se pretendia. Desde logo, constatei que as Forças Armadas e a população estavam irmanadas nos mesmos objectivos, e que passavam fundamentalmente pela Liberdade e pela construção de um novo regime (dos três “D’s”: Descolonização, Democracia e Desenvolvimento).Os 18 anos trouxeram-me o envolvimento em sindicatos (sector das Madeiras) e em comissões de trabalhadores, e, nos anos seguintes em associações de estudantes (na Faculdade de Economia em Coimbra, onde entrei em 1975), em colectividades culturais e desportivas, e depois no jornalismo. Daí à política foi um salto. Toda esta vivência permitiu-me acompanhar o percurso da nossa Democracia, adquirindo uma formação cívica e política que muito contribuiu para aquilo que hoje sou. E, nestes últimos 12 anos da minha vida, enquanto autarca, tenho sido um protagonista daquela que é indubitavelmente uma das grandes conquistas do 25 de Abril: o Poder Local.Na realidade, o País, apesar de não estar bem, alcançou um nível de progresso e de desenvolvimento que se deve essencialmente ao trabalho desenvolvido por milhares de autarcas em prol das populações nas suas freguesias e concelhos.*Vice-Presidente da Câmara Municipal de Tomar

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