Especial 25 de Abril | 21-04-2010 17:19

O 25 de Abril para os Jovens

Caros amigos: sei que as comemorações do 25 de Abril não são, ou não têm sido, a coisa mais importante da vossa vida. E ainda bem! Estão a tornar-se uma chatice. Não por causa do 25 de Abril mas por causa das comemorações. Daquela malta que adora ter um microfone à frente para dizer banalidades, gritar muitas lamúrias e umas indignações do género: Não foi para isto que fizemos o 25 de Abril! É preciso um novo 25 de Abril! Esta política não serve o 25 de Abril! E mais um rol de lugares comuns que vocês não têm paciência para aturar. E com razão. Já ouvi estas proclamações centenas de vezes e confesso-vos que é preciso uma pachorra intelectual do caraças. Mas ainda existem outros mais chatos, do género mais interrogativo e oratório: Foi para isto que se fez o 25 de Abril? Volta Salazar, que estás perdoado!, Quem faz cá falta para pôr isto na ordem é o António ‘das Botas’ (Salazar), No tempo da outra Senhora (ditadura) não havia estas poucas vergonhas. São todos uma cambada de chulos! É preciso que se diga que também é necessária uma grande dose de paciência para ouvir estes resmungos. Pois nem argumentos são. Se o fossem tinham todos resposta. A começar pelas primeiras vulgaridades. Desculpa lá, mas não fizeste 25 de Abril nenhum. Já estava no calendário, antes da Revolução acontecer. Se queres um novo 25 de Abril, aguenta a pé rijo que, para o ano que vem, há mais. Se esta política não serve, convence os outros a mudar para a política que julgas que serve, e mais adiante, não vale a pena pedires que Salazar volte, pois não volta. Morreu e não ressuscita. Queres ordem, mas a ordem que pedes metia-te logo na ordem e proibia-te de dizeres o que te vem à cabeça, além de que chulos não é uma novidade política. Existiam no tempo da Ditadura e aí estão outra vez, viçosos e frescos, tal qual como eram os outros.Os tais, do antigamente.Eu tinha 21 anos quando a Revolução, que se comemora no dia 25 de Abril, aconteceu e sou testemunha viva e desinteressada, embora apaixonada, para vos dizer o seguinte:Quem fez essa Revolução, quem a liderou, quem a levou à vitória foram jovens militares. O nosso Salgueiro Maia ainda não tinha trinta anos e a maioria era ainda mais jovem do que ele.E fizeram esta Revolução a pensar nos jovens. Não queriam mais rapazes mortos na guerra, queriam que todos vivessem em liberdade, que nenhum tivesse de se preocupar por pensar, falar e escrever de maneira diferente dos outros. Foi pensando em jovens que partiam para a guerra ou para a emigração, fugindo da sua própria Pátria que eles entraram em acção. Porque amavam a sua Pátria e a sua gente. Os jovens e os mais velhos. Eram jovens. E mesmo os velhos resmungões de hoje eram jovens, embora não pareçam que alguma vez o tivessem sido, pois isto de ser jovem ou não, pouco tem a ver com as rugas e tem mais a ver com a cabeça. Que quero eu dizer com isto tudo? Que esta efeméride é vossa. Dos jovens. Que vos está a ser expropriada por quem já não sabe pensar a alegria e ter confiança em batalhas vitoriosas. Que as comemorações do 25 de Abril são conquistadas por vós ou a tralha velha que não larga os microfones, e na qual me incluo, chorará lamúrias e não deixará que se abra a vossa oportunidade de celebrar a Liberdade, que é a vossa liberdade. De estudar. De aprender. De aprender nos livros e aprender com o viver. A sofrer, a não desistir, a combater, a construir projectos e sonhos. A fazer da alegria, força e da tristeza, uma força ainda maior. Só os jovens têm essa capacidade. Aqueles que se recusam a envelhecer. Aqueles que se recusam a perder tempo em lamentos. Aqueles que, por serem livres, podem partir e ficar, escrever, protestar, aplaudir, e tornar a aprender e amar, amar a liberdade e amar os outros, amar a vida, amar o direito e o dever da esperança.E da paz. De ser diferente e de ser igual e aprender ainda mais até que o valor da amizade seja do tamanho do valor do conhecimento. Era isto que queriam os jovens que fizeram a Revolução há 36 anos. Para que vós, jovens de hoje, pudessem trilhar os caminhos do infinito que na altura nos estavam proibidos.É por tudo isto que vos desafio a tomar o poder das comemorações do 25 de Abril nas mãos. Porque são vossas e vos foram expropriadas!* Professor Universitário / Presidente da Câmara de Santarém

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