Especial 25 de Abril | 21-04-2010 17:18

O meu Abril…

Manhã agitada, acordei com vozes que falavam mais alto, com as gargalhadas, ainda incrédulas, da minha Mãe, que falava à janela, acordei com os sons de alegria que vinham da minha rua…, aquele dia que parecia tão diferente dos outros... E foi, percebi mais tarde. Nascia o dia 25 de Abril, eu era muito pequena, na minha memória ficou a imagem de, ao colo da minha Mãe, ver tanta gente na minha rua, gente que gritava e ria, que se abraçava… O meu Pai apareceu no meio de toda a gente, apertou-me junto ao peito, ria muito e chorava… de alegria, de felicidade rasgada, de um sentir único, livre, profundamente generoso, de um ideal que perpetuou, percebi mais tarde. Eu era pequenina, ainda não tinha três anos, gostava muito de cantar, os vizinhos vinham a nossa casa ver televisão, poucos tinham televisão, e ouviam-me cantar a Grândola do Zeca, Ary, Depois do Adeus, a Gaivota… Era o que ouvia na telefonia lá de casa.., aquela telefonia que jamais esquecerei. Com inocência, cantava afinal a liberdade, a indignação, a fraternidade, a solidariedade tão desejada…, cantava palavras que o meu Pai traduzia, procurando ensinar-me o seu significado. E ensinou, estou eternamente grata por isso. Emocionado, o meu Pai falava com orgulho, da coragem dos Poetas que escreveram tais palavras e a determinação bonita das vozes que as cantavam… Aprendi, cantando, a mensagem de Abril… O 25 de Abril foi um dia Grande, generoso e especial, aconteceu um movimento militar a que se juntou um imenso movimento popular, um movimento espontâneo, que percorreu todo o País e implicou todos os grupos sociais e camadas da população. Os portugueses saíram à rua para apoiar os militares, para tomar a palavra, para dizer em que sentido não queriam que as coisas andassem (mesmo não sabendo muito bem em que sentido elas deveriam ir). O movimento popular deu ao 25 de Abril o carácter de uma revolução nacional e exigiu que ela desse ao povo um protagonismo que lhe tinha sido sempre recusado pela Ditadura. Esta fusão entre movimento militar e movimento popular pode ser sintetizada numa palavra: generosidade. A generosidade de uma geração que tinha aprendido a democracia nos movimentos de estudantes e nas lutas operárias e sindicais e a coragem na resistência, que despertara para o mundo na emigração e na guerra. Essa geração levou a sua generosidade até ao risco supremo de um confronto com a Ditadura. Essa geração venceu e persistiu para nos deixar um país livre, mais igual nas oportunidades. A todos esses Homens e Mulheres corajosos, que não se resignaram, dirijo a minha admiração, profundo reconhecimento e agradecimento. O 25 de Abril fez de Portugal uma democracia e associou a democracia à Europa. O destino europeu resulta da vontade de fazer da sociedade portuguesa uma sociedade mais desenvolvida e sobretudo mais dialogante com outras culturas, mais aberta ao exterior. Ou seja, o caminho inverso das cinco décadas anteriores, em que Portugal se fechara sobre si próprio, encarando com desconfiança tudo o que vinha de fora. Abertura ao exterior, significa neste caso, aceitar a competição, acreditar nos nossos méritos e talentos, nas nossas capacidades. A Europa não é só um espaço de que recebemos, é um espaço que ajudamos a construir, onde a nossa presença deve ser importante, para onde dirigimos os contributos do nosso saber, da nossa História, do nosso trabalho e da nossa criatividade. Abril permitiu ainda a descentralização que tem no Portugal Democrático um nome: municipalismo. Os municípios estão na primeira linha do desenvolvimento, a modernização de Portugal nas últimas três décadas não teria tido a dimensão que teve sem o empenho das autarquias locais, municípios e freguesias. Foi por isso uma honra poder ter servido, enquanto autarca, a terra onde nasci, onde sempre vivi, onde crescem as minhas filhas.Hoje celebramos Abril e no essencial, a mensagem dos cravos, a que aprendi cantando, hoje como há 36 anos, é a Liberdade.É a liberdade que permite aos cidadãos fazer ouvir a sua voz, influenciar decisões, eleger e ser eleito. A liberdade, tendo como contraponto a responsabilidade, é a condição sem a qual não é possível corrigir o que está mal e aplaudir ou aprofundar o que está bem. A liberdade é o fermento da esperança. A cidadania alimenta-se da liberdade e reforça-se com a confiança. Graças ao 25 de Abril, temos o instrumento mais precioso: a liberdade. Honremos Abril, juntemos pois à liberdade, a confiança e a esperança e conquistemos diariamente um Portugal melhor. * Vice-Presidente da CCDR-LVT

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