Especial 25 de Abril | 21-04-2010 17:20

Uma entrevista de uma tarde com a viúva de Salgueiro Maia

Para quem nasceu em Fevereiro de 1974, o 25 de Abril sempre foi algo que só tive oportunidade de conhecer pelos livros, pela televisão ou através de conversas com pessoas mais velhas.

Há três momentos, em épocas diferentes que marcaram a minha visão sobre a revolução. As minhas primeiras percepções do 25 de Abril chegaram-me de forma indirecta, pela visualização de milhares de slides que o meu pai trouxe de Moçambique onde esteve dois anos na Guerra do Ultramar. Para alguém muito novo a pergunta era inevitável. “O que foste lá fazer?”. Só um pouco mais tarde percebi que a Guerra acabou com a Revolução, mas ainda hoje recordo muitos desses slides. Já mais velho fiz uma visita ao Forte de Peniche. Aí, tentei colocar-me na posição daqueles que ali passaram anos das suas vidas, presos, torturados física e psicologicamente só por não concordarem com um regime que os governava sem qualquer respeito pela opinião e pelos interesses dos seus cidadãos. É por isso que desde há muito defendo que a “sede” da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso em Lisboa, deveria ter sido transformada num museu e que este assunto da nossa história contemporânea devia ser matéria de ensino obrigatório nas escolas. Só recordando e ensinando é possível melhorar as hipóteses de a história, não se repetir. Talvez assim não haja mais nenhum “Tarrafal”.No entanto o que mais me marcou foi uma entrevista que fiz em conjunto com o então presidente da JS Ribatejo, Rui Carreteiro, à viúva de Salgueiro Maia. Foi em 1994 e eu tinha 20 anos, quando nos deslocámos a casa da Dra. Natércia Maia. A entrevista era para demorar meia hora, estivemos lá a tarde toda, a cassete para gravar rapidamente deixou de servir, até porque o melhor foi quando já não havia mais fita para gravar. Aquela foi uma conversa que não consegui retransmitir, era impossível. A forma como a Dra. Natércia falou, as memórias, os pequenos pormenores, fizeram toda a diferença. Foi um daqueles momentos que nos marcam e que garantidamente me deu uma perspectiva muito diferente desta revolução e dos motivos que levaram um punhado de homens a arriscarem as suas carreiras e a sua vida por um sonho chamado Liberdade. No final fomos a uma divisão da casa onde se encontravam dezenas de artigos pertencentes ao “Capitão de Abril” Salgueiro Maia. Entre esse espólio estava uma bandeira portuguesa e o “famoso” megafone utilizado no dia 25 para pedir a rendição do Quartel do Carmo. Uma outra pessoa que nos acompanhou tirou uma foto fantástica desse cenário, que ainda hoje recordo. Foi um momento onde se podia literalmente “tocar” na história. Por não ter vivido a época, estas histórias, entre outras, naturalmente, tiveram uma enorme importância na minha formação enquanto pessoa cívica, social e política. Termino recordando um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, que, na minha opinião, muito bem representa a natureza do dia 25 de Abril. “Esta é a madrugada que eu esperava/o dia inicial inteiro e limpo/onde emergimos da noite e do silêncio/e livres habitamos a substância do tempo”*Vice-Presidente da Câmara Municipal de Almeirim

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