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Pegadas de dinossáurios custaram milhões mas investimento não é rentabilizado

Pegadas de dinossáurios custaram milhões mas investimento não é rentabilizado

Um santuário no meio da Serra d’Aire pouco divulgado e pouco atractivo

O Estado pagou 4,5 milhões de euros para pôr fim à exploração de uma pedreira onde tinham sido encontradas pegadas de dinossáurios. As expectativas turísticas então criadas não se cumpriram.

“S’tôra, olhe ali uma!”. o alerta é dado por uma menina de cerca de oito anos que integra um grupo de estudantes que visita o Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da Serra de Aire, numa zona limite entre os concelhos de Torres Novas e Ourém. Passaram 16 anos desde que um grupo de jovens que andava à procura de fósseis descobriu as pegadas de saurópedes com 175 milhões de anos, marcadas na laje de uma pedreira explorada pelo empresário Rui Galinha. A exploração de pedra parou e em1996 o governo português pagou uma indemnização de 4,5 milhões de euros para transformar o local em Monumento Natural. Na altura os presidentes das câmaras municipais de Torres Novas e Ourém deram conferências de imprensa e criaram-se expectativas turísticas elevadas. Quase nada do que foi perspectivado se concretizou. A maior parte das visitas àquele que é considerado um dos maiores e mais antigos trilhos de dinossáurios herbívoros do mundo são maioritariamente escolares. A promoção do local é inexistente. Os operadores turísticos ignoram-no. Fátima está perto mas o turismo religioso não gera visitantes para pegadas de animais pré-históricos que muitos visitantes olham com cepticismo por lhes ser difícil entender o processo de formação e petrificação das mesmas. “Os visitantes são cerca de 60 por cento de escolas e 40 por cento de pessoas” autónomas, num conjunto de “sensivelmente 20 mil visitantes anuais”, refere Maria Fernandes, directora adjunta do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Litoral de Lisboa e Oeste. A propaganda, desde Fátima, a cerca de 10 quilómetros, até à antiga pedreira, junto à aldeia de Bairro, é rara. Como é habitual neste tipo de santuários naturais, os técnicos são cautelosos quando se lhes fala em multidões. “Há um limite para a capacidade de receber visitantes. De momento não é muito sentida a necessidade de atrair mais pessoas”. Para justificar o que diz, a directora adjunta acrescenta: “Gostávamos de partir para um projecto de requalificação dos espaços de visitação, o que levaria a uma nova divulgação”.Vanda Santos, investigadora no Museu Nacional de História Natural, que acompanhou o assunto desde o primeiro momento e por quem passa toda a parte científica do Monumento, diz que o local sofre de “falta de valorização”. “Se as pessoas não souberem interpretar saem de lá frustradas, pelo que se deveria investir na divulgação científica e na reformulação dos painéis. Passaram já 13/14 anos e ajudar as pessoas interessa ao local. Por outro lado, tem faltado investimento das autoridades mas é sabido que as Câmaras Municipais não têm dinheiro”, refere. Para José Alho, vice-presidente da Câmara de Ourém e ex-director do Parque Natural de Serra de Aire e Candeeiros (PNSAC), o Monumento sofreu sempre de falta de fundos. Apesar de se ter tornado um destino por excelência da área dos dinossáurios, “Há um programa global de intervenção que urge cumprir. Tem que haver ali uma certa pró-actividade para aquilo dar o salto”, defende. E acrescenta: “Da parte da Câmara de Ourém têm-se realizado contactos com o Secretário de Estado do Ambiente para que esta tenha uma “parte activa no Monumento”. “A Câmara de Ourém poderia ter um papel mais operacional, criando uma economia de escala”, explica.José Alho vê o Monumento como uma “aposta ganha”, principalmente pela grande adesão das escolas. “Bem divulgado, bem enquadrado, é uma mais-valia para as unidades hoteleiras”, defende. Maria Fernanda lembra que há uma candidatura do Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios a Património da Humanidade, cujo resultado deve sair no final de Julho. “Está tudo em aberto. Não há nada deste tipo classificado e isso tem levantado algumas resistências”. lembra. A eventual classificação ajudaria a relançar o interesse à volta da antiga pedreira. Erosão já não é a principal preocupaçãoNos primeiros anos após a classificação da pedreira do Galinha em Monumento Natural a erosão da imensa lage de calcário onde estão marcadas as pegadas foi motivo de discussão e de propostas de solução. Como a pedra é macia e a lage tem uma grande inclinação, a água das chuvas teria tendência a, pouco e pouco, apagar as marcas dos saurópedes num período curto de tempo. Colocada a questão à directora adjunta do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Litoral de Lisboa e Oeste, a mesma desdramatiza a situação. “É preciso haver pontos de escoamento de água e vigiar as areias finas mas não tem havido grande impacto sobre as pegadas e a situação tem evoluído dentro do esperado”, refere Maria Fernandes. A única solução ponderada é a “criação de um passadiço para o local, de modo a evitar que os visitantes pisem directamente a laje”, refere. José Alho que, em 2001, enquanto director do Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros, alertou mais de uma vez para o problema da erosão da pedra e defendeu soluções urgentes, também está agora mais tranquilo e defende que as pegadas não vão desaparecer a curto ou médio prazo. “Há intervenções que já foram feitas. As pegadas não vão desaparecer no nosso tempo, embora ma não nos devamos desresponsabilizar”, afirma. A visitaA visita ao Monumento Natural começa com o visionamento de um filme com cerca de 15 minutos onde são dadas explicações sobre os dinossáurios e a descoberta das pegadas na Pedreira do Galinha. Segue-se uma caminhada pelo local onde há alguns painéis explicativos. O circuito abrange um pequena área onde se procura fazer uma reconstituição da vegetação do Período Jurássico. É o centro de interpretação ambiental, que já chegou a receber acampamentos de férias. O preço da visita é de 2 euros para os adultos e de 1 euro para crianças com menos 10 anos e reformados, sendo gratuita para crianças com menos de 5 anos e deficientes.Inicialmente o espaço teve muitas visitas, mas com os anos a procura desceu e agora tem evoluído lentamente, é explicado na recepção. Ali são dadas as indicações aos turistas ocasionais e existe um espaço para venda de recordações. Conforme a idade, o turista recebe um guia com informação sobre o local e segue por um percurso com cerca de mil metros, concebido para poder ser percorrido de forma autónoma. As visitas guiadas exigem um mínimo de 10 pessoas e têm que ser marcadas com antecedência.
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