Voto de pesar pela morte de José Saramago chumbado na Chamusca
Nem os eleitos da CDU votaram a favor da moção apresentada pelo Bloco de Esquerda
A maioria dos eleitos na Assembleia Municipal da Chamusca votou desfavoravelmente uma moção do Bloco de Esquerda (BE) que propunha a aprovação de um voto de pesar pela morte de José Saramago e sugeria a atribuição do nome do escritor a uma rua na Chamusca. A moção foi rejeitada com sete votos contra dos elementos do PS e PSD, 12 abstenções, da bancada da CDU e de três elementos das restantes bancadas da oposição. Apenas o eleito do BE votou favoravelmente.Decididamente, nem mesmo depois de morto José Saramago colhe a admiração dos políticos da Chamusca. Na hora da discussão e votação da moção, o eleito do Bloco de Esquerda, Duarte Arsénio, referiu a coerência do homem e escritor na defesa das suas ideias. “Ousou livremente entrar em contradição com o seu próprio partido – o PCP – porque achou que nos países de referência comunista, os direitos humanos não eram respeitados”.Por outro lado, e segundo o BE, José Saramago “ousou, contra os falsos patriotas, defender a União Ibérica, sem que isso pusesse em causa a própria identidade nacional e condição de portugueses e não teve receio de assumir livre e coerentemente a sua condição de ateu convicto”. Apesar de toda a sua controvérsia, José Saramago foi agraciado com o Prémio Nobel da Literatura. “Por tudo isto e também porque, como nós, foi autarca, proponho a esta assembleia municipal um voto de pesar e ao mesmo tempo que o seu nome e a obra que nos deixou sejam perpetuados com a atribuição do seu nome a uma rua da vila da Chamusca”, assim rezava o documento apresentado pelo eleito do BE.As justificações dadas pelos partidos para chumbar o documento e inviabilizar a singela homenagem a José Saramago foram diversas. Aurelina Rufino, do PSD, disse que iam votar desfavoravelmente a moção, porque embora concordasse com o voto de pesar não se revia no texto da moção, “principalmente porque sou muito patriota e José Saramago defendeu a União Ibérica, que colocava em causa Portugal”. José Augusto Carrinho, do PS, garantiu mesmo não perceber porque é que se havia dar o nome de uma rua a José Saramago, “quando há tanta gente na Chamusca que o merecia e não tem”. Por outro lado, para o socialista a parte democrata de José Saramago é uma utopia. “José Saramago nunca foi um democrata, nem foi defensor dos mais desfavorecidos, foi director de um jornal onde despediu discricionariamente muita gente. Voto contra a moção porque sou coerente”, disse.Mas a votação mais surpreendente foi a da bancada da CDU, que inclui, praticamente na sua totalidade, elementos do PCP, o partido do escritor. Os eleitos da CDU da Chamusca não conseguiram ultrapassar as guerras partidárias com o BE e optaram pela abstenção. O eleito da CDU, José Brás, justificou a votação da sua bancada com o facto da moção “não ter sido consensualizada”.
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