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O matemático reservado que gosta de trabalhar nos bastidores

Francisco Carvalho é o rosto da organização que trouxe os maiores “crânios” da estatística a Tomar

Mais de 200 especialistas da área da estatística, provenientes de várias partes do mundo, vão estar até sábado em Tomar numa conferência científica denominada “LinStat 2010- International Conference on Trends and Perspectives in Linear Statistical Inference”. As palestras decorrem no Instituto Politécnico, entidade que organiza o encontro em parceria com a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Francisco Carvalho, 40 anos, dá aulas no Instituto Politécnico de Tomar há 15 anos. Licenciado em Estatística e doutorado em Matemática é o rosto da organização desta conferência. Elsa Ribeiro Gonçalves

Como é que surge a possibilidade do Instituto Politécnico de Tomar (IPT) organizar este congresso que reúne, no fundo, os maiores “crânios” da matemática e estatística a nível mundial?Esta conferência começa em 1977 na Polónia, país onde sempre decorreu até 2008. Foi nesse ano que fomos convidados para organizar, em 2010, esta missão em conjunto com a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. O convite surgiu quando organizámos em 2008, em conjunto, a 17.ª Conferência Internacional em Matrizes e Estatística “IWMS08”. Pelo facto de ter corrido tão bem, fomos convidados pela comissão científica internacional como sinal de reconhecimento que temos capacidades técnicas, humanas e científicas para organizar este congresso. Também já estamos a trabalhar na organização, em 2011, do “Mattriad2011”, outra série de conferências que também vai decorrer no IPT. Qual é o objectivo desta conferência internacional?O objectivo passa por juntar investigadores que partilham interesses numa série de áreas da estatística e suas aplicações e dar-lhe a possibilidade de discutir desenvolvimentos recentes nessas áreas. Por este motivo, para além das sessões plenárias com oradores convidados vão realizar-se sessões especiais com pessoas que foram convidadas para organizar sessões temáticas dentro do congresso. Ao longo de cinco dias vão passar no Politécnico de Tomar 55 sessões (quatro a cinco sessões paralelas por dia), fora as sessões plenárias. Quais são as temáticas em discussão?Entre as temáticas escolhidas, destacam-se a estimação, previsão e testes em modelos lineares, robustez de metodologias estatísticas, estimação de componentes de variância em modelos lineares, generalização para modelos não lineares, construção e análise e experiências, incluindo a optimização e comparação de experiências lineares. Esta conferência envolve mais de duzentas comunicações e o que demonstra o interesse científico desta conferência é que temos duas revistas internacionais associadas que vão publicar dois números especiais com artigos relacionados com as apresentações que vão ser feitas aqui. É muito interessante. No meu caso particular, é curioso, porque vou ter a oportunidade de conhecer alguns dos autores de livros que já estudei.Há também um programa social associado ao evento?Naturalmente que é uma componente importante. Tomar é uma cidade que propicia que este tipo de eventos possa acontecer. É um sítio sossegado que permite desenvolver os trabalhos do congresso mas ao mesmo tempo proporciona programas alternativos do ponto de vista cultural. E uma vista ao Convento de Cristo nunca poderia deixar de ser realizada. “Motivação dos jovens depende de como são incentivados”Porque é que a maioria dos jovens foge da Matemática como o “diabo da cruz”?É uma questão complicada. Penso que depende da maneira como são incentivados ao longo dos anos de formação. Não consigo responder muito bem a essa pergunta. A maioria dos nossos cursos – sou professor na Escola Superior de Gestão de Tomar - tem um maior pendor quer de Matemática, quer de Estatística, sobretudo os cursos de Engenharia e Gestão, que influenciam quase todas as matérias leccionadas. Um professor que se limite a debitar a matéria não consegue cativar o aluno?Cada professor tem a sua metodologia e penso que falo por todos quando digo que tentam sempre captar o interesse dos alunos para a matéria que está a expor. É difícil avaliar porque é que é mais ou menos bem sucedido nessa missão. Nem todos os alunos são iguais e nem todos os métodos resultam com todos os alunos. Tentamos sempre apresentar um exemplo ou uma aplicação diferente de modo a cativar o interesse por parte dos alunos. É esse o nosso objectivo. Mas como é que se consegue despertar a atenção por parte do aluno?Mais do que a quantidade de exercícios realizados, é importante a diversidade e mostrar qual a aplicabilidade dessa matemática em meio real. Ou seja, tentar demonstrar que aqueles conhecimentos que estamos a transmitir têm uma aplicação prática para o curso ou formação que estão a receber. Há a ideia que a maior parte dos nossos “crânios” da Matemática optam por desenvolver a sua investigação no estrangeiro…Não concordo. Cada vez se vê mais investigação a ser feita em Portugal e por isso está a ser mais apoiada. Reconheço que a “fuga” para o estrangeiro poderá acontecer em algumas áreas de ponta, uma vez que podem não existir os meios tecnológicos necessários para progredir na investigação. Também é verdade que há muitos investigadores estrangeiros. Este intercâmbio entre investigadores portugueses e estrangeiros é já natural.Vocação para a Matemática descoberta tardiamenteAos 25 anos já dava aulas no Instituto Politécnico de Tomar, mas Francisco Carvalho descobriu a vocação para a Matemática numa fase tardia da sua formação académica, que iniciou com um bacharelato na área da Engenharia Química. Só mais tarde opta por fazer uma licenciatura em Estatística e, posteriormente, decide fazer o doutoramento na área da Matemática. “Só despertei para esta área depois de fazer uma licenciatura na área da Estatística e já depois de estar a leccionar”, disse a O MIRANTE. Levou quatro anos a concluir o seu trabalho de investigação, no âmbito do Doutoramento em Modelos Lineares. Considera que o maior fascínio da Matemática reside em conseguir descobrir novas técnicas e metodologias para resolver problemas que são colocados. “Ou então, perante um problema que já foi resolvido, tentar encontrar uma solução mais vantajosa para optimizar a resolução desse problema”, sintetiza. Reservado, não gosta muito de falar da sua vida pessoal e assume que prefere trabalhar nos bastidores.

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