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Ofícios tradicionais continuam vivos

Ofícios tradicionais continuam vivos

Um correeiro, um cesteiro e um fazedor de artigos em cortiça

Não são só reformados e pessoas de idade que se dedicam a profissões quase extintas. Marco Pimentel tem 35 anos e escolheu ser correeiro.

Atrás do balcão da sua loja Marco Pimentel aproveita a ausência de clientes para adiantar trabalho. Sentado numa cadeira própria que lhe permite prender a pele que vai trabalhar à altura do peito, cose, à mão, embolas que servem para proteger os cornos dos toiros que vão ser lidados nas praças. O artesão é jovem. Tem 35 anos, vive em Marinhais, concelho de Salvaterra de Magos e é, provavelmente, o mais jovem correeiro do distrito de Santarém. E um dos únicos em actividade. Há meio século atrás era normal encontrar correeiros, cesteiros e fabricantes de objectos em cortiça em qualquer localidade do distrito de Santarém. Com o tempo, essas profissões foram desaparecendo. O que se passa em Marinhais, onde O MIRANTE encontrou três pessoas que ainda se dedicam às chamadas profissões em vias de extinção, é raro. Vital Gonçalves, 71 anos de idade, é cesteiro desde os 12 anos. Aprendeu o ofício na terra onde nasceu, em Gonçalo, distrito da Guarda. Veio viver para Marinhais há cerca de 45 anos e começou a vender os artigos que ia produzindo. Confessa que já não faz uma peça “há mais 15 dias”. O cesteiro não vai a exposições porque “não compensa”, mas faz alguns mercados da região “Ganha-se pouco. Às vezes nem dá para as despesas”, desabafa. Vital Gonçalves explica que antigamente havia mais trabalho porque exportava muito para o estrangeiro. Mas com a entrada do mercado chinês na Europa o negócio foi diminuindo e hoje já não vende praticamente nada. “Por isso é que já existem tão poucas pessoas a exercerem esta actividade profissional”, esclarece.Quem também se queixa dos novos tempos é Luís Oliveira. Tem 69 anos e ao longo da vida exerceu três profissões. Padeiro, serralheiro civil e agricultor. Agora dedica-se à feitura de objecto em cortiça. São peças decorativas. Miniaturas. A Torre de Belém; um calhambeque; uma máquina debulhadora; um tractor; um camelo; uma charrete. Centenas de peças que faz questão de guardar para si. “Não vendo nada. Está tudo guardado. São relíquias que quero guardar até morrer. Quando já cá não estiver os meus filhos que façam o que quiserem”, afirma.É convidado com frequência para participar em exposições mas confessa que só vai quando são perto de sua casa. “As pernas já não dão para ir para muito longe. Além disso não compensa. “Vou às exposições para conviver com os outros artesãos e também para estar distraído. Apesar de ter convites para longe da minha terra prefiro não ir porque além de ser cansativo, economicamente é uma grande despesa”, diz.O correeiro Marco Pimentel tem uma outra atitude e compreende-se porquê. O que faz não é um passatempo. É a sua vida. Com a falta de concorrência, trabalho é coisa que não lhe falta. Começou por abrir uma oficina em Marinhais mas com o aumento progressivo do volume de trabalho abriu, há cerca de três anos, uma loja em Salvaterra de Magos. Os cavaleiros José Manuel Duarte, Ana Baptista, Fernando e João Salgueiro são alguns dos seus clientes. As coudelarias da região e o mercado estrangeiro absorvem muito trabalho seu. “Como já não existe praticamente nenhum correeiro esta é uma profissão com sucesso. Felizmente trabalho não me tem faltado”, revela com um sorriso.
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