O médico veterinário que em criança ajudava os pais a ordenhar vacas
Emídio Almeida nunca teve dúvidas quanto à profissão a escolher
Tartarugas, iguanas, cobras, peixes, ratos, papagaios, araras, águias, galinhas, perdizes, periquitos e coelhos são algumas das espécies que começam a marcar presença na sala de espera da clínica.Ana Isabel Borrego
Emídio Almeida nunca teve dúvidas sobre a profissão a escolher: veterinário. Foi na quinta onde sempre viveu que aprendeu a lidar com todo o tipo de animais. Cuidar deles era algo natural. Aos 12 anos ajudava os pais a ordenhar vacas e a puxar as patas dos vitelos, das ovelhas e dos leitões durante o parto. O médico veterinário revela que a mãe conta histórias de Emídio Almeida em criança que demonstra a sua paixão por animais. “Quando tinha seis anos encontrei uma rata morta, abri-a e fiz-lhe uma espécie de autópsia. Fiquei maravilhado a observar o interior do animal que tinha crias. Não tenho memória deste episódio mas a minha mãe conta-o muitas vezes”, afirma a O MIRANTE.Além de exercer medicina veterinária, Emídio Almeida, 49 anos, também é agricultor, “em part-time”, uma vez que o excesso de trabalho não lhe permite dedicar-se à actividade com mais regularidade. O médico não sabe o que é ter um dia calmo. Acorda por volta das seis da manhã, altura em que se dedica aos trabalhos agrícolas. Às dez horas já está na clínica veterinária de São Domingos – Tutivete, da qual é proprietário. A parte da manhã está reservada para as cirurgias e à tarde são as consultas médicas. O seu telefone está disponível 24 horas por dia. Se o telefone tocar para uma emergência, seja a que horas for, Emídio Almeida não pensa duas vezes e vai auxiliar os animais que precisam de si. Fazer planos ou marcar compromissos na agenda é complicado. A entrevista com O MIRANTE, que estava inicialmente marcada para as 14h00, teve que ser adiada para o final do dia devido a uma serie de imprevistos que não estavam programados. Na manhã do dia da entrevista surgiram duas cirurgias de urgência. Uma cadela galga com uma rotura no músculo e um pónei recém-nascido que teve complicações durante o parto.A grande maioria dos pacientes da clínica Tutivete continua a ser composta por cães e gatos, mas começam a aparecer outros animais. Tartarugas, iguanas, cobras, peixes, ratos, papagaios, araras, águias, galinhas, perdizes, periquitos e coelhos são algumas das espécies que começam a marcar presença na sala de espera da clínica. Além da clínica que dispõe de serviço de internamento, Emídio Almeida possui também, num espaço contíguo à clínica, uma loja de comida e produtos para animais, a Patinhas e Bigodes.O médico recorda o caso “dramático” de um esquilo muito pequeno, “do tamanho da concha de uma colher de sopa” que entrou dentro da máquina de lavar roupa. “Depois de tentar que o animal saísse da máquina, a dona, a pensar que conseguia resolver a situação, colocou a máquina a funcionar. Arrependeu-se logo de seguida porque o animal ficou com cortes por todo o corpo. Felizmente correu tudo bem e consegui operá-lo com sucesso”, conta.Durante toda a entrevista tivemos uma companhia, literalmente, a nossos pés. Ema, uma cadela de raça Shitzu, com quatro anos, muito pequena e sossegada é a companheira inseparável de Emídio Almeida. E a verdadeira estrela da clínica. A meio da conversa tivemos que interromper o diálogo porque uma cliente da loja entrou apenas com o intuito de mostrar a Ema aos amigos. A excitação foi tanta que as pessoas acabaram por assustar a cadela. “É habitual entrarem só para ver a Ema. É um doce que não faz mal a ninguém e as pessoas adoram-na”, explica o médico.Ema entrou na vida de Emídio Almeida como muitos dos animais que o médico tem na sua casa. Devido a abandono por parte dos donos. “Um casal encontrou a Ema na rua, muito maltratada, já com buracos espalhados pelo corpo provocados por larvas de varejeira. Cheirava a podre e estava muito doente. Cuidei dela e como os senhores que a encontraram não quiseram ficar com ela, fiquei eu. É uma companheira excepcional”, conta orgulhoso.Emídio Almeida confessa que o trabalho é exigente mas garante que não sente o peso das muitas horas que dedica ao trabalho. “Gosto do que faço”. O médico afirma que não sente falta das férias. “Não consigo desligar totalmente do trabalho e não sinto necessidade de me desligar”, refere. No consultório são várias as lembranças que os donos dos seus pacientes lhe oferecem como agradecimento pelo que faz pelos seus animais. “Estes pequenos mimos valem qualquer cansaço que possa sentir”, conclui.
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