Mais diplomatas e menos políticos
Há meia dúzia de anos visitei a Roménia integrado numa comitiva de empresários e autarcas do Cartaxo. Em Bucareste, na hora de reunir com o Cônsul de Portugal naquele país, ouvi da boca do diplomata um conselho surpreendente. Atenção, meus caros amigos, se vêm para investir na Roménia cuidado com as parcerias. Como sem parcerias não há investimento o segredo é escolher os melhores parceiros. Como a democracia na Roménia ainda é muito frágil, e o poder político domina o poder judicial, na hora dos conflitos, que os vossos futuros sócios acabarão sempre por provocar, quando mais lhes convier, lá se vão os vossos anéis juntamente com os vossos dedos.Não me lembro do nome do diplomata nem sequer da cara que ele tinha e ainda há-de ter. Mas lembro-me de ter ficado siderado pela revelação já que ele punha em causa a nossa viagem que, embora também fosse cultural, tinha o investimento como grande objectivo.Lembrei-me deste episódio quando li recentemente nos jornais o repto do Presidente da República, Cavaco Silva, apelando aos empresários portugueses para que invistam em Angola. Conhecendo como conhecemos a situação política daquele país, Aníbal Cavaco Silva só pode estar a brincar com os empresários portugueses que não conhecem a realidade angolana. Os que conhecem não vão para lá investir e se vão levam as costas quentes como é o caso das grandes empresas portuguesas dominadas por empresários que têm o telemóvel do primeiro-ministro seja ele qual for.O que me espanta neste apelo, feito em visita oficial com fato e gravata e, provavelmente, num grande ambiente de troca de prendas, é este descaramento do político que exerce o mais alto cargo da Nação. Invistam em Angola diz Cavaco Silva. Com a actual situação política, social e económica daquele país, apetece dizer que vá para lá ele com os seus filhos e os seus netos e todos os seus amigos.Não tenho nada contra os angolanos. Gosto do país e conheço pessoas que me falam daquele território como eu falo da minha terra. Mas factos são factos. Os angolanos têm uma esperança de vida que se situa em média nos 38 anos. E não há liberdade para circular nas estradas de todo o país quanto mais para escrever poesia ou cantar a Grândola Vila Morena.Por fim: um diplomata, um simples diplomata anónimo a trabalhar num país da Europa, consegue ter mais juízo político que um Presidente da República em visita oficial a um país governado com mão pesada, por uma família que jamais deixará o poder de livre vontade. E que deve ser mais rica que todo o povo angolano junto. Jae
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