Elegia para a memória da turma de 1962
Havia nestes 31 rapazes os sonhos mais diversos, ainda não era o tempo das escolhas. Só no ano seguinte se decidia o futuro: Curso Comercial, Montador Electricista ou Formação de Serralheiro. Na fila da frente recordo três nomes: o Zé Carlos Lilaia, o Horta e o Campino. Uma vez foi um grupo ver a secretária do Lilaia porque era o único a ter uma: o pai fez o pequeno móvel com as tábuas onde vinham os tecidos vendidos a metro. Na segunda fila o Álvaro Pato com um sorriso teimoso e era o que tinha mais sofrimento na vida: com o pai na clandestinidade, só o conheceu aos nove anos. Na terceira fila o Horta («Boguinhas»), o Catoja («Talita»), o Vidaúl, o Zé Bolota, o Abreu e o Nuno, filho do senhor Manel sacristão. O Horta jogava hóquei-em-patins no recinto do Jardim Municipal. O Catoja tem uma clínica de fisioterapia na Castanheira. Deveria ter começado pelo senhor Nicolau, sempre disponível a apagar fogos, a apaziguar conflitos, a ajudar. No caso da foto foi ele que se juntou à turma porque não havia professores disponíveis e o homem dos retratos apareceu sem avisar. Quando se começou a popularizar o frango assado no espeto, o senhor Nicolau servia à mesa no Zé dos Frangos. E ao fim da tarde havia os pipis. Um pipi e um papo-seco com um copo de gasosa era um lanche de rei. Na quarta fila o João Alfredo Danado Picanço, o Zé António e eu. O Zé António continuava a falar da vida boa que havia em Roterdão: pagavam bem e o trabalho era só colocar carimbos vermelhos em sacas de café. Sonhava com a Holanda todas as noites. Eu também sonho mas é com este Mundo que aos poucos desapareceu da minha memória, com os nomes que perdi.José do Carmo Francisco
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