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Espanhóis dizem que a fábrica Cintra em Santarém tem futuro

Desde que a empresa Font Salem comprou a fábrica, há nove meses, a produção de cerveja quadriplicou e os postos de trabalho aumentaram
A empresa cervejeira Font Salem, do grupo espanhol Damm, comprou no início do ano a fábrica de cervejas Cintra, em Santarém, e já quadriplicou a produção. Os postos de trabalho aumentaram e nos projectos da administração está a ampliação da unidade, tanto na área de produção como na de logística. Antoni Folguera, director geral da Font Salem Portugal, diz que vieram para ficar por muitos anos.Porquê a aposta do grupo Damm, através da Font Salem, nesta fábrica em Santarém?O grupo Damm é o terceiro grupo cervejeiro espanhol, ao mesmo nível que os principais. Mas há uma força imensa que temos e que os outros não têm, que é todo o segmento das marcas de distribuição. O grupo Damm, através da Font Salem, é o líder absoluto do mercado ibérico das marcas de distribuição. Fazemos quase 60 por cento do volume das marcas de distribuição.Estamos a falar das marcas brancas dos hipermercados?Sim. Só não trabalhamos com o grupo Jerónimo Martins. Trabalhamos com o Lidl, com o Intermarché, o Continente, o Jumbo, o Minipreço. É por isso que temos uma experiência clara dentro do negócio das marcas de distribuição. Essa foi uma das razões para apostarem em Santarém: aumentar a vossa capacidade de produção?Temos duas fábricas em Valência dedicadas às marcas de distribuição, uma para refrigerantes outra para cerveja, mas estão completamente cheias neste momento. E temos também uma razão logística. São fábricas muito competitivas para a zona leste da Península Ibérica, mas para a zona oeste não era muito competitivo trazer os produtos desde Valência.Aproveitam também Santarém como plataforma logística.Plataforma logística e de fabricação. É uma fábrica em condições de fazer o mesmo que fazemos em Valência, na outra ponta da Península Ibérica, mas que pode dar resposta a todo o Portugal e a toda a zona oeste da Península Ibérica. Essas são as razões fundamentais para a aquisição desta fábrica.A fábrica de Santarém encontra-se a trabalhar em pleno?Neste momento estamos em plena capacidade. Não foi fácil mudar a cultura desta fábrica, que vinha de quatro anos em que não havia o ritmo necessário de trabalho. Não havia funções claramente definidas para sermos plenamente competitivos no nosso segmento. Foi necessário fazer um esforço importante da nossa parte e da parte do pessoal que encontrámos na fábrica, para adaptar um novo modelo. Mas desde o início do Verão que estamos em plena capacidade. E é por isso que pensamos em fazer futuros investimentos.Estão a pensar em investir mais na fábrica de Santarém?Sim. Em termos cervejeiros esta fábrica não tem um tamanho óptimo para ser plenamente competitiva. É uma fábrica que está bem desenhada, que tem uma localização correcta, mas em termos cervejeiros tem uma dimensão muito pequena. É por isso que, no mínimo, devemos duplicar a capacidade de fabrico.E têm terrenos para isso? Temos. Uma das razões para a aquisição desta fábrica é que tem a capacidade futura de ampliação sem necessidade de adquirir novos terrenos. Esta fábrica está pensada para futuras ampliações. Temos muito terreno para fazer novos armazéns logísticos e para ampliar a sala de enchimento. Não há problemas a esse nível.O que está a fábrica a produzir actualmente? Neste momento só estamos a produzir cerveja. É um projecto de futuro fazer também refrigerantes aqui, pela mesma razão da cerveja. Por razões logísticas. Nós temos uma fábrica de refrigerantes em Valência e seria absurdo não contemplar a possibilidade de aproveitar as vantagens logísticas de fazê-los aqui. Mas neste momento estamos num processo de transição, de ser plenamente competitivos e de fazer uma fábrica de cerveja como nós gostamos. E depois começaremos com os refrigerantes. Mas não posso dar uma data concreta. A marca de cervejas Cintra continua activa no mercado?Sim. É uma das coisas que temos pensado muito quando fizemos este investimento. Somos especialistas em marcas de distribuição. Em Valência, por exemplo, não temos marca própria. Salvo excepções para pequenos clientes não fazemos cerveja da nossa marca. Mas como é um activo que encontrámos aqui e como temos visto a receptividade relativamente à marca Cintra decidimos continuar a apostar na marca. A concorrência é de peso.O nosso objectivo não é concorrer ao nível da Sagres ou da Super Bock. Seria um absurdo. Está fora da nossa capacidade concorrer a esse nível em termos de notoriedade e de marketing. Nós somos especialistas em fazer uma excelente cerveja, ao mesmo nível que a dessas marcas. E da forma mais competitiva possível. A marca Cintra não vai fazer investimentos em publicidade, mas vai estar presente no mercado em condições muito competitivas em termos de preço.“Pensamos permanecer em Santarém por muitos anos”Segundo protocolo estabelecido com a Câmara de Santarém, em Janeiro de 2010, a empresa comprometeu-se a manter a fábrica Cintra em actividade durante cinco anos a contar da data de aquisição. Há previsões para o que pode acontecer depois desse prazo?As nossas previsões são de continuar mais de cinco anos. Foi muito fácil de assinar esse documento porque pensamos permanecer em Santarém por muitos anos. Um dos perigos que o presidente da câmara apontou neste processo de conversações era o risco que nós comprássemos para vender logo de seguida e fazer uma manobra especulativa. Não é o caso.A especulação imobiliária está fora de hipótese.Sim. Se fosse para especulação imobiliária não teríamos comprado esta fábrica. Havia negócios melhores perto de Lisboa ou do Porto. Somos cervejeiros. A nossa intenção é permanecer em Santarém e fazer novos investimentos para ampliação da fábrica. É um negócio complementar ao que temos em Espanha.Houve mexidas no quadro de pessoal após a vossa entrada na gestão da fábrica?Uma das preocupações da Câmara de Santarém era o emprego. Ao dia de hoje estamos a um nível de emprego que supera quase em 30 por cento o nível de compromisso que tínhamos quando assinamos o protocolo com a câmara. Quantos funcionários tem a fábrica?No momento da compra tínhamos 70 e actualmente, com a campanha de Verão, estamos com 96. No final de Outubro, no final da campanha, deveremos ter 86 funcionários. E com a ampliação devemos ultrapassar os 100 trabalhadores.Que impressão têm do desempenho dos vossos funcionários?Estamos muito satisfeitos com o desempenho das pessoas aqui em Portugal. Salvo algumas excepções, como há em todas as empresas. Não é um problema específico desta fábrica. No geral estamos muito satisfeitos, porque temos percebido que passaram quatro anos difíceis nesta fábrica e pela primeira vez viram que há uma direcção clara, objectivos claros, estratégia e gente que está seriamente comprometida com os investimentos. Que dificuldades sentiram?O mais difícil foi mudar o ritmo de trabalho. A fábrica estava a um ritmo em que não havia suficiente enchimento para cobrir todos os postos de trabalho e passámos para uma situação que é ao contrário. Em que precisámos de mais gente para cobrir as necessidades de enchimento. Com o ritmo de fabrico que tínhamos não era possível manter a actividade. Multiplicámos a produção por quatro nestes primeiros nove meses. Por isso precisámos de mais pessoal.Os contratos que vigoravam mantiveram-se?Sim, nas mesmas condições que tinham. Um dos compromissos da compra, no processo de insolvência, era manter os contratos de trabalho. E contratámos novos operários.Há a possibilidade de o Grupo Damm fazer outros investimentos nesta região, para além dos previstos para a fábrica de Santarém?É uma possibilidade sempre em aberto. O grupo Damm é mais comprador do que vendedor, que faz investimentos relacionados sobretudo com a cerveja, mas também com outras bebidas, e está sempre aberto a novos negócios, seja em Portugal, em Espanha, em França, normalmente nos países mais próximos. Em Santarém vamos investir e mais que duplicar a capacidade da fábrica, com novas linhas de enchimento. Este é o nosso investimento sério na região de Santarém e o nosso projecto vital na zona.

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