Feira de S. Martinho | 03-11-2010 14:33

Andar a cavalo não é para todos

A Feira é de S. Martinho e do Cavalo. Mas na Golegã, que se auto-intitula capital do cavalo, são poucos os que já montaram. E até há quem não aprecie muito o nobre animal. Em matéria de preferências a água-pé ganha larga vantagem. Afinal não são precisos grandes dotes artísticos para beber um copito com os amigos. E mesmo que em dia de excessos se registe alguma queda a altura nunca é muita. A obra que enche o olho aos goleganenses é o pórtico da entrada da vila. E curiosamente todos os entrevistados confessaram gostar muito de ir ver exposições ao centro cultural equuspolis.

Silvino Sousa, 57 anos, empresário ramo restauração, Golegã“É uma festa muito bonita”Mistura-se o sumo da uva com água e faz-se um vinho menos forte. É esta a receita da tradicional água-pé fornecida por Silvino Sousa, proprietário de um restaurante na Golegã. Receita que o empresário gosta sempre de fazer nesta altura do ano. “É tradição beber-se água-pé quando se comemora o São Martinho”, explica.Natural de Trás-os-Montes mas a viver na Golegã há cerca de três décadas, Silvino Sousa nunca andou a cavalo. Só de burro quando era mais novo. “Na minha terra não havia cavalos”, diz. “Vivo na capital do cavalo mas montar a cavalo nunca me despertou interesse”. Gosta de ir à Feira Nacional do Cavalo para ver as novidades. “A festa está cada vez mais para os turistas. Há uns anos, a Feira estava mais ligada às pessoas, agora está muito focada no cavalo. Mas continua a ser uma festa bonita”, refere.Silvino Sousa confessa que nunca visitou o Equuspolis. Apenas o parque de lazer que se encontra no exterior. O empresário aponta a restauração do museu de fotografia Carlos Relvas, o pórtico de entrada na vila e a biblioteca como obras “importantes” no concelho. Na sua opinião falta arranjar algumas estradas, dando como exemplo a sua, embora considere que o “principal” está feito.José Tó, 58 anos, fotógrafo, Golegã“Quando era menino andei de burro mas cavalos só para fotografar” José Tó nunca andou a cavalo, mas sabe o que é cavalgar. “Em criança lembro-me de ter andado numa burra. Depois disso nunca mais tive outra experiência semelhante”, diz a sorrir. Apesar de ter amigos que criam cavalos e os trazem para a Feira Nacional do Cavalo, na Golegã nunca mais quis meter-se em aventuras equestres. “Gosto mais de ficar com os pés no chão a fotografar os cavaleiros e as amazonas, bem trajados. O cavalo proporciona fotografias muito bonitas”, afirma. O fotógrafo conta a O MIRANTE que sabe a receita da água-pé e gosta de beber um copito, sobretudo, durante o São Martinho. “O vinho maduro faz parte dos hábitos alimentares dos portugueses e, quando consumido com moderação, faz bem”, diz. Considera-se um apaixonado pela Feira do Cavalo e confessa que chega a emocionar-se quando vê os cavalos no recinto da feira ou a irem embora. “É uma feira tradicional, muito nossa, dos goleganenses. Ajuda imenso a divulgar o concelho e as coisas boas que aqui se fazem”, realça.É frequentador assíduo do edifício Equuspolis. Considera que a obra mais importante realizada nos últimos tempos foi o “alindar” do arneiro com a colocação de uma cobertura no picadeiro. Para o fotógrafo falta a construção de um centro hípico e o arranjo do dique dos 20.Luís José, 48 anos, Gestor Comercial, Golegã“Gosto da Feira e da água-pé mas não aprecio cavalos” Apesar de ser natural da Golegã, Luís José nunca andou a cavalo e confessa não ser grande apreciador de cavalos. “ Gosto de ver, mas não sou apaixonado”, explica. O gestor comercial também não sabe como é feita a água-pé que normalmente é servida pelo São Martinho. Mas conhece pessoas que a sabem fazer com qualidade. “Compro água-pé a um amigo e ela normalmente aguenta-se até meados de Março, como aconteceu este ano. Quando acabou comprei no supermercado e a diferença era enorme. A água-pé caseira não tem tratamentos e o sabor é muito melhor”, defende. Luís José gosta de ver as novidades da Feira de São Martinho e considera o evento importante para o desenvolvimento do concelho, embora, na sua opinião, tenha alguns inconvenientes, como a confusão. É frequentador assíduo do complexo municipal Equuspolis e recorda que a primeira vez que lá esteve foi assistir à apresentação de um livro. Considera que têm sido feitas obras “interessantes” no concelho e destaca o pórtico à entrada da vila. Mas refere que falta emprego no concelho e incentivos comerciais que ajudem as empresas a fixarem.Lurdes Reis, 38 anos, caixa de loja, Azinhaga“Aqui temos qualidade de vida e isso vale muito” Lurdes Reis confessa que não sabe a receita da água-pé que, como manda a tradição, se deve provar no São Martinho. Mas sempre que vai à feira da Golegã, que se realiza este ano entre 5 e 14 de Novembro, não resiste a provar. Natural de Azinhaga, confessa que nunca andou a cavalo. “Já tive curiosidade quando era mais nova, mas nunca se proporcionou e agora já não ligo tanto. Prefiro observar os cavalos a andarem na rua ou a galoparem no picadeiro”, diz.Conta a O MIRANTE que já visitou o Equuspolis e que normalmente vai acompanhada da filha, normalmente para ver exposições. O parque exterior do edifício também é muitas vezes escolhido para brincadeiras, quando está bom tempo. Lurdes Reis elogia o trabalho do executivo municipal ao referir que têm sido feitas obras “importantes” no concelho, não encontrando aspectos negativos. “O concelho da Golegã tem praticamente tudo. Os seus habitantes não se podem queixar, temos qualidade de vida, o que já vai sendo raro encontrar nos dias de hoje”, refere.Maria da Conceição Trancas, 60 anos, Doméstica, Golegã“Turistas ficam a conhecer o que de melhor temos”Maria da Conceição Trancas nasceu na Golegã há 60 anos e, apesar de adorar cavalos, tem pavor só de pensar na ideia de montar a cavalo. “Adoro ver cavalos, mas tenho um medo inexplicável. Nunca tive uma má experiência, mas tenho receio. Prefiro ficar a vê-los passar”, confessa. A doméstica não sabe fazer água-pé, mas recorda de ver o pai fazer quando era menina. Aproveita, no entanto, o São Martinho, para provar a água-pé que se produz nesta altura do ano. Conceição Trancas gosta de visitar a Feira do Cavalo e reconhece a importância do evento. “Traz muitos turistas que ficam a conhecer o que de melhor temos no nosso concelho. É o certame mais importante da nossa terra”, diz”. Acrescenta que, apesar das vantagens da Feira gosta muito mais da “sua” Golegã “sossegadinha, sem as confusões habituais destes dias”.Sempre que pode vai ao Equuspolis ver cinema e exposições. É admiradora confessa do actual presidente da câmara da Golegã, José Veiga Maltez, referindo que o autarca tem feito uma “bela obra”. “Adorei o pórtico que colocaram à entrada da vila. Acho que todas as entradas da Golegã deveriam ter um pórtico igual”, refere. Para Conceição Trancas, a Golegã tem tudo o que é necessário para a população viver de forma feliz e harmoniosa.Miguel Martins, 40 anos, empresário, Tomar"O pórtico é lindo mas faltam empregos " Nascido e criado em Tomar, Miguel Martins vive e trabalha na Golegã há 19 anos. Foi na capital do cavalo que experimentou montar na égua de um amigo. Gostou da experiência mas não tornou a repetir. “Não é das coisas que mais me seduz”, confessa. O empresário tem uma “ideia” de como se faz água-pé mas não arrisca um palpite. “Não é a minha área”, diz a rir, acrescentando que “prefere” outras bebidas nomeadamente vinho. Miguel Martins aproveita os tempos livres durante a semana em que se realiza a Feira do Cavalo para ver as novidades. Aprecia os cavaleiros e as amazonas, trajados a preceito, montados nos cavalos, que nesta altura do ano, estão mais aprumados. “A feira da Golegã mostra o que o concelho tem de melhor e a vantagem é que traz muitos turistas portugueses e estrangeiros. É muito bom para o comércio local”, afirma.Frequentador assíduo do Equuspolis gosta de visitar as exposições. Miguel Martins diz que o pórtico da entrada na vila é considerado o ex-libris da vila, “a chave de entrada” da Golegã. Mas, na sua opinião, existem outras prioridades no concelho. “Falta postos de empregos para os jovens se fixarem. A autarquia também devia apostar na requalificação das habitações mais antigas e degradadas”, sublinha, acrescentando que a Golegã não pode ser “só uma semana”. “Este concelho é muito mais do que o São Martinho”.

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