23º Aniversário | 17-11-2010 15:40

A menina que dá todos os dias 52 beijinhos

Carla Galveias é voluntária no Centro Social de Santo Estêvão, concelho de Benavente. Todos os dias coloca 26 idosos a trabalhar nas actividades que organiza. Não deixa que os idosos passem o dia a ver televisão, como se esperassem pela morte.

Todos os dias Carla Galveias, de 24 anos, entra no Centro Social de Santo Estêvão, por volta das 10h00, e dá um beijinho a cada idoso. Na despedida, às 17h00, repete o gesto. No total, são 52 beijinhos por dia. “Os idosos são a minha alegria”, começa por dizer a voluntária do Centro Social de Santo Estêvão, concelho de Benavente. Depois de terminar, em Setembro deste ano, o curso de animadora sociocultural, no Instituto para o Desenvolvimento Social, em Carnide, Lisboa, Carla Galveias não conseguiu arranjar emprego: “Enviei muitos currículos para centros de dia e lares de idosos e nunca obtive qualquer resposta. Pensava que seria mais fácil arranjar emprego na área dos idosos porque não existe muita gente a querer trabalhar com este grupo”. Como não queria ficar em casa de braços cruzados a ver televisão, como acontece com muitas colegas que também não conseguiram arranjar emprego, Carla Galveias veio propor-se como voluntária ao Centro Social de Santo Estêvão, onde já tinha estado a estagiar entre Janeiro e Março de 2010.“Gosto muito de trabalhar com idosos, é uma paixão. Sinto que consigo dar-lhes alguma alegria, ajudo-os a esquecer os problemas com as actividades que vou organizando e o carinho que estou sempre a distribuir”. Mas de onde é que surgiu esta paixão? “A minha avó sempre trabalhou num lar, em Odivelas, onde está neste momento a viver. Desde pequenina que ia sempre a todas as festas do lar. Habituei-me a conviver com os idosos”, revela. Os animadores precisam de estar presentes nas instituições com idosos porque, na opinião da voluntária, os “utentes passam o dia a ver televisão, como se estivessem apenas à espera da morte”. Muitas pessoas não querem trabalhar com os idosos porque, segundo Carla Galveias, “cativá-los e mudar o seu ritmo de vida é muito complicado”. Para esta jovem voluntária, é “preciso dar a volta por cima, mostrar que não devem estar à espera da morte e que ainda são muito úteis”. Voluntária organiza várias actividadesÀs terças e quintas, Carla Galveias costuma dar aulas de ginástica. Uma das salas do centro de dia está coberta de desenhos alusivos ao Halloween, com uma cabaça em cima de uma mesa. Na outra sala, as paredes estão cheias de cartazes com folhas coladas, a lembrar o Outono. Existe também um cartaz no corredor com um jardim desenhado, onde estão as datas de aniversários de todos os idosos. Para o dia de São Martinho, Carla Galveias anda a ensaiar uma canção. Estas são apenas algumas das actividades que “ajudam a mudar o dia dos idosos do Centro de Dia de Santo Estêvão”. “Esta rapariga dá cabo de nós” ou “onde é que anda a chata” são algumas das expressões que costuma ouvir. O que é recompensador para a animadora é ver a evolução dos idosos com quem trabalha: “Tenho uma senhora muito doente que evoluiu bastante e, se no início, recusava participar agora é uma das primeiras a entrar em todos os projectos”. Quando é preciso, Carla Galveias também arregaça as mangas e vai ajudar na cozinha ou então nos banhos. “Hoje temos de ajudar em todas as áreas. Não me cai nenhuma mão ou fico mais pobre por isso. Não sabemos se um dia também vamos precisar”, revela. Nem sempre tudo é fácil. Desde que está no centro de dia, a animadora já perdeu dois idosos. “Com o tempo aprendi a controlar melhor o meu lado emocional e tento não demonstrar a parte fraca. Tenho de ser o elo mais forte, tenho de animar a vida”, diz. O desejo da animadora é ficar a trabalhar neste centro de dia porque já criou fortes ligações: “Os idosos sabem que podem contar comigo. Sabem que podem contar 1001 vezes a mesma história que eu estou ali a ouvi-los, de corpo presente”. E para o comprovar está o presidente do Centro Social de Santo Estevão, Daniel Ferreira: “Contado ninguém acredita! Só com os próprios olhos é que se consegue ver o trabalho que a Carla Galveias tem vindo a realizar”. Outro projecto da jovem é regressar à universidade, em regime pós-laboral para tirar o curso de educação social. “Não quero estagnar, quero aprender mais, para evoluir e ser uma profissional melhor”.

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