23º Aniversário | 17-11-2010 15:38

Isabel Rodrigues diz que ajudar quem precisa lhe dá serenidade

A maior pobreza é, na maior parte das vezes a pobreza de espírito. E a pobreza de espírito gera ingratidão. Há pessoas que nem sequer reconhecem a ajuda que recebem.

Isabel Rodrigues, 64 anos, é uma das trinta voluntárias que integra a Conferência de São Vicente de Paulo, fundada em Torres Novas há quase um século. Por esta razão convidou-os confrades Ilda Lopes e Joaquim Bicho para participarem da conversa que anuiu ter com O MIRANTE a propósito do voluntariado que faz há mais de 30 anos, de forma continuada, nesta organização religiosa internacional.A Conferência de São Vicente de Paulo é um movimento católico de leigos que se dedica, sob o influxo da justiça e da caridade, à realização de iniciativas destinadas a aliviar o sofrimento do próximo, em particular dos social e economicamente mais desfavorecidos, mediante o trabalho coordenado dos seus membros. Foi fundada em Paris, em 1833, por um grupo de sete jovens liderado por Frederic Ozanam. Desde muito jovem que Isabel Rodrigues teve contacto com esta congregação por via de uma tia, Maria da Conceição. “Em jovem costumava acompanhar a minha tia quando esta ia visitar os mais pobres ou pessoas doentes a casa”, conta, acrescentando que já o pai e os pais do meu pai faziam voluntariado. Não sendo natural de Torres Novas, vive nesta cidade há muitos anos, onde estudou no Colégio de Santa Maria. Casou, saiu para viver durante alguns anos em Angola, para regressar definitivamente há mais de 40 anos. Doméstica, foi o tempo livre aliado ao gosto por fazer bem aos outros que a levou a ser convidada para integrar a Conferência de São Vicente de Paulo, por uma ex-colega do Colégio que um dia, por mero acaso, encontrou na rua.Desde então que se dedica a inúmeras tarefas que a organização desenvolve como a distribuição de alimentos, de roupas ou pagamento de receitas médicas na farmácia e até rendas de casa. “Primeiro que tudo temos o trabalho de angariar. Só depois pudemos ajudar”, atalha Ilda Lopes. O peditório realiza-se, à porta da igreja, em todas as missas vespertinas de sábado e domingo, envolvendo-se todos os elementos na campanha de Natal onde costumam ser angariados dez mil euros, junto de empresas. O cesto também circula entre os confrades nas reuniões semanais que fazem todas as quartas-feiras de tarde. Duas vezes por ano, participa na iniciativa do Banco Alimentar contra a fome, campanha que se realiza à porta das grandes superfícies. A par do trabalho na Conferência, Isabel Rodrigues também colabora com o grupo de Acção Social da Cáritas, atendendo pessoas todas as segundas-feiras. “Há pessoas que têm que ser incentivadas a arranjar trabalho ou aconselhar como podem pagar as contas astronómicas que fizeram, por exemplo, de telefone”, exemplifica. Para Isabel Rodrigues a pobreza maior é a de “espírito”. Os que são ajudados mas não reconhecem Isabel Rodrigues também gosta de ajudar, a nível pessoal, quem bate à porta da vivenda geminada onde vive. O seu coração, aliado ao desafogo económico com que vive, leva-a a auxiliar muitos que ali vão por saberem que faz parte da Conferência. “Até já me têm aparecido de noite a pedir uma sopa ou um cobertor”, sustenta. De todas as histórias que viveu, há uma que recorda com os olhos a brilhar. Durante alguns anos, ajudou uma senhora que vivia em dificuldades a pagar a renda de casa mas não entregava o dinheiro directamente, ou seja, a pessoa não sabia quem é que a ajudava. Certa vez, estava de vigia na igreja de São Tiago, às velas que as pessoas iam por na capela, para pagar promessas. “Uma senhora veio-me pedir que colocasse uma vela por uma senhora que todos os meses a ajudava porque lhe pagava a renda da casa. Fiquei tão contente, tão comovida que chorei de alegria, sem ela ver”, recorda a coincidência. “É gratificante a pessoa saber que é útil, que ajuda os outros”, sublinha com a mesma serenidade que manteve ao longo de toda a conversa. Atenta a esta história, Ilda Lopes complementa: “É muito gratificante deitarmos a cabeça no travesseiro à noite e sentir que fizemos alguma coisa pelos outros. Quem for para o voluntariado com ideias de obter algum tipo de vantagem, esqueça”. E Joaquim Bicho, voluntário na Conferência desde os 16 anos, completa: “Até porque os pobres nem sempre são tão agradecidos. Às vezes vão reclamar porque damos mais este do que aquele e são capazes de por uma pessoa pelas ruas da amargura”. Isabel Rodrigues pretende continuar a ser voluntária até poder. O que a motiva a dar o seu tempo aos outros, que podia utilizar de outro modo? “Às vezes, à segunda-feira à noite está frio, sinto-me cansada e digo para mim mesma que não me apetece ir. Mas depois venho de lá às onze e meia da noite feliz e cheia de energia”.

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