23º Aniversário | 17-11-2010 15:37

O sub-intendente da PSP que abraçou o voluntariado no Forte da Casa

Para Vítor Braga Domingos, aposentado da Polícia de Segurança Pública, fazer voluntariado é “tão natural como ir ao café”. “Sinto necessidade de ajudar os outros”, garante.

Prescindir de algum do seu tempo livre para ajudar os outros que precisam é “tão natural como ir ao café”. Quem o diz é Vítor Braga Domingos, 63 anos, sub-intendente aposentado da Polícia de Segurança Pública. Faz voluntariado há cinco anos na paróquia do Forte da Casa, onde vive, e na universidade sénior do concelho de Vila Franca de Xira.Visita famílias carenciadas que pedem ajuda, coordena e controla a distribuição de alimentos do Banco Alimentar para a paróquia. Algumas vezes a sua casa transforma-se num entreposto de triagem de roupas usadas que são dadas para os mais desfavorecidos. Não gosta de ser o centro das atenções e apressa-se a dizer que não faz voluntariado para aparecer nos jornais. Vítor nasceu num bairro pobre de Lisboa e por isso sabe o que é viver com dificuldades. Diz que foi para a polícia com o objectivo de servir a comunidade e o próximo. “Sempre fui uma pessoa muito disponível para os outros, embora no exercício da minha profissão não tivesse possibilidade de fazer este voluntariado que hoje faço, porque as exigências da profissão ocupavam-me quase todo o espaço e o tempo. Mas já pensava nisso na altura”, confessa a O MIRANTE.Além do associativismo participa sempre que pode nas comissões de festas do Forte da Casa, nas marchas da freguesia e na universidade sénior, onde durante várias horas por semana lecciona a título gratuito direito, justiça e ciência política. Na paróquia está à frente do SPES (nome da deusa romana da esperança), um serviço de ajuda aos desfavorecidos e carenciados da freguesia. As horas de trabalho que faz por semana não sabe dizer. “Mas são muitas”, garante.“O Padre constatou que de há uns anos a esta parte há cada vez mais famílias com carências, quer no plano alimentar quer no vestuário, e montámos este serviço na paróquia, somos um grupo de pessoas que dá muito do seu tempo para ajudar”, explica. Vítor nasceu em Lisboa, num bairro pobre junto às Amoreiras. O pai era operário e a mãe doméstica. Casou, teve quatro filhos e hoje tem cinco netos. Quando a casa em Lisboa começou a ficar pequena para tanta criança mudou-se com a esposa, Maria de Lurdes - que também é voluntária na paróquia - para o Forte da Casa. Já lá vão 30 anos.“Acredito que o tempo que nos é dado é a vida, o tempo não é meu, é-me entregue para o administrar, para que façamos as nossas coisas, tenhamos o nosso papel na sociedade e possamos ajudar as outras pessoas que precisam de nós. Penso que o tempo é de tal maneira elástico que serve para isso tudo. E dá-me a grata satisfação de chegar ao final do dia satisfeito por ter conseguido ajudar os outros. Não procuro nada mais que essa satisfação”, explica a O MIRANTE. Vítor garante que se sente realizado ao fazer voluntariado e acredita que o Forte da Casa é uma freguesia solidária, de gente pronta a ajudar.“Eu penso que há muito mais pessoas como eu. Eu sou apenas um entre tantos outros que se dedicam a dispor do seu tempo livre para ajudar os outros. Obviamente que seria bom haver mais gente, mas no Forte temos uma boa comunidade. Infelizmente vivemos num mundo onde os valores da solidariedade são esquecidos. Vivemos numa sociedade onde as pessoas valorizam mais o eu que o nós. E quando isso acontece é muito mau”, lamenta. Vítor acrescenta que não hesita em abrir a porta a pessoas que precisem de ajuda. “Não é a primeira vez que pessoas têm problemas de ordem pessoal e me batem à porta apenas para conversar, porque precisam de uma palavra amiga, outras vezes precisam de um obro para chorar, outras vezes de uma palmada nas costas para arribar a vida. Faço isso de coração aberto”, garante.Dos seus cinco anos de voluntariado guarda uma história que o marcou, sobre uma jovem mãe do Forte da Casa, com cerca de 20 anos, que ficou desempregada e pediu ajuda à paróquia para se poder alimentar a ela e à criança. “Dentro das possibilidades ajudou-se. Ela teve durante algum tempo a possibilidade de receber produtos alimentares e foi-se governando com estas ajudas. Curiosamente, foi uma senhora que no dia em que arranjou emprego foi ter connosco e disse que não precisava mais de ser ajudada, porque ia começar a trabalhar. É extraordinário, não quis criar uma situação de dependência e até se ofereceu para ajudar no que fosse necessário, no futuro. Hoje é uma voluntária”, recorda com um brilho nos olhos.

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