Novas especialidades do Hospital de Vila Franca disponíveis a partir de Agosto
Equipa de gestão liderada por Vasco Mello quer apostar em equipa própria nas urgências
Em Agosto arrancam as três novas especialidades do Hospital de Vila Franca de Xira: Oftalmologia, Neurologia e Pneumologia. A Otorrinolaringologia já está a funcionar. Estas são algumas das contrapartidas da gestão privada do Grupo Mello Saúde, que na próxima década vai gerir os destinos da nova unidade, que servirá 215 mil pessoas de cinco concelhos. O novo presidente do conselho de administração, Vasco Mello, quer apostar em equipas próprias para melhorar as urgências. O administrador diz que a gestão privada é mais eficiente que a pública porque aposta na produtividade e eficiência de meios.
Esteve na gestão dos dois hospitais CUF e envolvido na abertura de quatro hospitais em Espanha. Porquê agarrar a liderança do hospital de Vila Franca?Fui para Espanha porque o grupo Mello adquiriu uma participação num grupo hospitalar importante em Espanha. Convidaram-me para ir durante três anos. Fiquei quatro anos e meio. Ao fim desse tempo voltei a casa e no meu regresso convidaram-me para vir para Vila Franca. Vim devido à gestão de carreira que se faz dentro do grupo. Como já tinha experiência na gestão da CUF decidi aceitar.O que pretendem fazer para resolver os problemas detectados nesta undade?Vamos tomar três iniciativas. A primeira tem a ver com equipamento. Investimos num TAC e na mamografia digital. Há coisas em que não vamos investir porque deixam de fazer sentido uma vez que há uma nova unidade em construção. A segunda tem a ver com a introdução de especialidades que este hospital não tinha. A Otorrinolaringologia já arrancou e temos mais três que vão arrancar em Agosto: Oftalmologia, Neurologia e Pneumologia. Para iniciar as três especialidades vamos ter de fazer obras e ter novos espaços de consulta. A terceira iniciativa prende-se com as urgências do hospital. Queremos reduzir o seu peso para podermos ter mais actividade programada. As urgências são a área mais sensível devido aos tempos de espera e reclamações. Vamos ampliar o espaço para uma zona de 70 metros quadrados e adicionar quatro gabinetes de consulta.Um dos problemas identificados nas urgências é a elevada quantidade de pessoas contratadas a firmas de trabalho temporário…Sim. Temos que ver bem a forma como gerimos as urgências. Hoje temos um grande grau de dependência de empresas prestadoras de serviços e vamos apertar mais para ter uma equipa própria do hospital. Gostaria que a fatia principal do atendimento fosse feita por uma equipa própria. Não porque não goste dessas empresas mas porque é bom um hospital ter estabilidade no seu quadro clínico e é bom que as pessoas se conheçam. Achamos que conseguimos ter uma melhor resposta nas urgências se tivermos pessoas nossas.O director das urgências do hospital, António Godinho, disse em entrevista a O MIRANTE que o novo hospital iria custar ao Estado 50 milhões de euros nos primeiros dez anos, enquanto o actual custa perto de 45 milhões. Como é possível obter este resultado?Em relação à entrevista não li e não me posso pronunciar. Para cada parceria público-privada que foi lançada o Estado criou um comparador público que analisava o custo da construção do hospital caso fosse o Estado a fazê-lo. A nossa proposta foi 20 por cento abaixo. Nós somos mais eficientes a gerir o hospital e conseguimos esses resultados apostando numa maior produtividade das pessoas e numa maior eficiência dos meios que usamos. Esta conjugação dá-nos resultados equilibrados.Maior produtividade significa mais horas de trabalho para os funcionários? Uma maior produtividade é a mesma pessoa e o mesmo médico trabalhar mais no mesmo horário. Nós temos conseguido mostrar que isso é possível. O Estado não tem os mesmos instrumentos ou o mesmo tipo de incentivos que nós temos para incentivar as pessoas a trabalhar connosco. E isso é importante. No Amadora-Sintra os médicos ganhavam, em regra, 20 por cento a mais mas trabalhavam 50 por cento mais. Logo aí há um ganho de 30 por cento. A produtividade tem a ver com a maneira como nós nos organizamos dentro do hospital para motivar e incentivar os médicos, o que nem sempre se faz com dinheiro. Os médicos gostam de formação, de ser reconhecidos, gostam que nós organizemos conferências onde eles têm oportunidade de falar, por exemplo. Depois temos a forte gestão de carreira que os médicos valorizam muito. Os hospitais não devem ser geridos por quadros clínicos mas por gestores?Há bons e maus gestores nos hospitais públicos... Este hospital era gerido por gestores profissionais que não eram médicos. O que acontece é que nós conseguimos uma análise muito orientada para o que se faz. Por exemplo, nós temos muito mais capacidade de gestão e intervenção do que o anterior presidente [Mário Bernardino] tinha.Teremos no novo hospital serviços públicos e privados em simultâneo?Não vamos ter no actual hospital nem pretendemos ter no futuro qualquer tipo de actividade privada misturada com o serviço público. Já tivemos isso no Amadora-Sintra e desistimos nessa altura. Quando se fala em obter rendimentos paralelos falamos da cafetaria, lojas e máquinas de venda de bebidas. Essas receitas são partilhadas com a entidade contratante. Se quiséssemos poderíamos fazer essa operação de que fala mas não é nossa intenção. Introduz complicação e não vemos vantagem. Vai haver suficiente actividade no novo edifício que não deixará espaço disponível para receber outro tipo de actividade.Um dos primeiros actos de gestão foi a mudança da directora clínica. Porquê?Entendemos que era positivo recuperar uma pessoa que é dos médicos mais antigos deste hospital, o doutor Carlos Rabaçal, que chegou a ser director do serviço de cardiologia deste hospital. Tinha muito boas referências sobre este médico e aproveitámos para passar um sinal muito claro de que estamos disponíveis para ir recuperar médicos que conhecem bem este hospital. Foi detectado algum problema na direcção clínica de Ana Alcazar?Não houve controvérsia. Temos com a Ana Alcazar uma excelente relação. Provavelmente já não quereria voltar a ser directora clínica. Não é um tema de que se fale. Provavelmente não queria ou não queria mesmo?Andava muito ocupada com temas de direcção clínica e agora vai poder dedicar-se mais à oncologia, que é uma área de que gosta. Que principais mudanças irão sentir os utentes do hospital?Não vai mudar nada. É um hospital que continua a ser e será público, integrado no sistema nacional de saúde e para os utentes não haverá nenhuma alteração no seu acesso e nos seus direitos. A única coisa que muda é a gestão. Vamos tentar melhorar a qualidade dos serviços e a acessibilidade das pessoas ao hospital. O que pensa da localização do novo equipamento?Hoje em dia estão a construir-se hospitais fora das cidades. A localização do hospital não é má. A minha única questão tem a ver com as características do terreno, que é bastante inclinado. Na lezíria é tudo plano e de repente vai-se construir uma unidade num sítio que é completamente inclinado. Já estive no terreno e a envolvente do hospital, toda verde, é espectacular e tem uma vista muito agradável. Para os utentes vai ser muito positivo.Um gestor que gosta de mergulho e colecciona ouriços do marVasco Luís José de Mello nasceu na Suíça no dia 11 de Dezembro de 1964. Licenciou-se em engenharia mecânica na Universidade Católica de Louvaina, na Bélgica, tendo realizado posteriormente um mestrado em gestão de empresas na mesma universidade. Vasco de Mello é administrador executivo da José de Mello Saúde SGPS desde 2004 e administrador do grupo hospitalar Quirón, em Espanha, desde 2006. Foi presidente da comissão executiva dos hospitais CUF Infante Santo e CUF Descobertas, em Lisboa, entre 2005 e 2006. Anteriormente esteve na liderança e preparação das propostas para os hospitais de Loures e Cascais. Nos últimos quatro anos e meio acompanhou o desenvolvimento do grupo Quirón em Espanha onde participou na abertura de quatro novos hospitais. Vive em Lisboa, é casado e tem cinco filhos. O pai foi forcado em Santarém e Vila Franca de Xira. Por esse motivo é um aficionado “de raiz”, refere. Vem todos os dias de carro para Vila Franca de Xira e passa a viagem a falar ao telemóvel, “sobretudo trabalho”. Almoça no refeitório do hospital mas já arriscou visitar alguns restaurantes da cidade. “Tenho uma óptima impressão das pessoas de Vila Franca. Penso que a cidade tem uma mais-valia que não está a ser aproveitada, que é a frente ribeirinha. Não há restaurantes perto do rio, por exemplo”, defende. Reconhece que a presidente da Câmara Municipal de Vila Franca, Maria da Luz Rosinha (PS), “foi uma das pessoas que mais lutou pelo novo hospital” mas não tem opinião sobre outras matérias da sua gestão. “Este país precisa de dinamismo, optimismo, trabalhar e só assim conseguimos sair desta crise”, defende.Vive bastante os tempos livres com os filhos, três deles surfistas, e acompanha-os na praia. “Outras vezes faço caça submarina com eles”, adianta. Tem um Blackberry mas não gosta do modelo. É fã das novas tecnologias e a sua cor favorita é o azul. Revolta-o quando as pessoas “não fazem as coisas avançar”. Um dos seus hobbies é coleccionar ouriços marinhos em estado fóssil. Tem mais de um milhar que já acumula há mais de 25 anos.Nova unidade vai precisar de mais trabalhadoresEm Maio, na mudança do velho para o novo hospital de Braga, o grupo Mello dispensou 39 trabalhadores. Irá acontecer o mesmo em Vila Franca de Xira?Essas 39 pessoas correspondem a dois por cento de todos os trabalhadores. Quando o hospital de Braga mudou do antigo para o actual edifício tinha a obrigação de levar 95 por cento das pessoas. Levou 98 por cento. No total foram perto de duas mil. Em Vila Franca de Xira vamos ter uma nova unidade com 280 camas quando agora temos 210. A nossa previsão é a de que a necessidade de trabalhadores para o novo hospital seja superior ao número de pessoas do actual. Porém, apesar de termos um edifício maior, isso não significa que possamos fazer mais actividade nesse hospital. Temos todos os anos que negociar com a ARS o volume de actividade para o ano seguinte. Tenho previsto a necessidade de ter mais pessoas do que as que estão neste hospital, mas não depende só de mim, também depende da ARS. Ao abrigo do contrato de gestão temos a obrigação de ir buscar 90 por cento das pessoas do actual hospital. Podemos ir buscar os 100 por cento se houver essa necessidade, mas só somos obrigados a ir buscar 90 por cento. Em 2005 o vosso grupo registou proveitos no Amadora-Sintra de 133,5 milhões de euros. Quanto pensam ganhar em Vila Franca?O nosso duodécimo é de 3 milhões e 333 mil euros, que corresponde a 90 por cento da actividade contratada. Este ano só vamos estar sete meses em funcionamento mas anualmente andaremos à volta dos 45 milhões de euros por ano.Em 2008 o Estado acabou a parceria público-privada que tinha com o grupo no hospital Amadora-Sintra por considerar que os custos não compensavam os ganhos de eficiência. É algo que pode voltar a acontecer? Não vou opinar sobre isso. Acho que não cometemos nenhum erro na gestão do Amadora-Sintra e temos vários estudos que mostram o que o Estado conseguiu com a nossa gestão naquela unidade. Na nossa óptica a parceria acabou porque o contrato era de dez anos e acabou. Foi renovado duas vezes e à terceira não se renovou. Não nos sentimos injustiçados. Fomos pioneiros no sentido em que fomos os primeiros. Se o Amadora-Sintra tivesse sido gerido por outro grupo seria ele a ser atacado e não o nosso. Temos tido bons resultados, em Braga por exemplo, a redução das listas de espera e de aumento de cirurgias e consultas é espectacular. Mas ninguém se interessa pelos resultados. As pessoas criticam o modelo, acham que a saúde não deve ser gerida por privados. Nós, é evidente, se perdêssemos dinheiro não conseguíamos pagar o investimento que estamos a fazer no novo hospital de Vila Franca.
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