Crise faz aumentar apanha ilegal de amêijoa no concelho de Vila Franca
Desde o início do ano a Polícia Marítima já apreendeu na zona cinco toneladas do produto
A amêijoa japónica é uma praga no rio Tejo mas devido à toxicidade a apanha está proibida. À falta de peixe no rio muitos pescadores do Tejo arriscam multas pesadas a troco de um negócio que rende bom dinheiro e está livre de impostos. No concelho de Vila Franca de Xira a crise fez disparar a apanha, quase toda vendida para Espanha.
A pesca ilegal de amêijoa japónica está a ser vista como um negócio rentável e livre de impostos por parte de vários pescadores do concelho de Vila Franca de Xira que se têm dedicado à apanha. A amêijoa japónica é uma praga do rio Tejo e a sua captura está proibida por lei já que este bivalve apresenta uma elevada carga microbiológica que pode ser transmissora de parasitas e doenças apesar de nos últimos anos a criação de Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR’s) ter vindo garantir uma melhoria da qualidade da água e possível reavaliação da proibição em vigor. Existem diversos métodos de apanhar a amêijoa, à mão ou ao mergulho, mas a forma mais popular é com uma ganchorra, uma armação metálica que tem um pente de dentes na parte inferior e ao qual está ligado um saco de rede. A ganchorra é atirada ao fundo do rio, revolve os sedimentos e é puxada por um barco.“Há pouco tempo eram só os pescadores que iam com a ganchorra mas hoje em dia vemos gente que tem outros empregos a vir aqui pescar também porque tem de se governar”, confessa um pescador de Alhandra a O MIRANTE. De Algés a Vila Franca de Xira as autoridades estimam que se pesque, ilegalmente, perto de 70 toneladas de amêijoa por dia. Só no concelho de Vila Franca de Xira a polícia marítima já apreendeu, de Janeiro a Maio, cinco toneladas de amêijoa ilegal.“Vem gente de Lisboa parar o carro aqui em Vila Franca para ir connosco apanhar amêijoa durante a madrugada”, garante um pescador. “Não podemos viver do peixe, estes três meses até ao final do verão não dão nada, a amêijoa é a única hipótese. Chego a fazer 90 euros por dia”, confessa. Na Póvoa de Santa Iria a tendência é a mesma. A maioria dos pescadores evita falar sobre o tema mas há quem não tenha medo. Um pescador de 62 anos garante que já viveu muitas dificuldades na vida e que actualmente não há no Tejo “peixe que chegue para todos”. O que ainda vai valendo, diz, é a apanha da amêijoa. “Há pessoas que têm barco e outros empregos sem ser a pesca que se usam da amêijoa para dar de comer aos filhos. Mais vale trabalhar que roubar”, defendem. “Devia haver uma lei que legalizasse a apanha porque ganhava o Estado e ganhavam os pescadores. Assim continua a vender-se a amêijoa à mesma em mercado paralelo”, lamentam. A Polícia Marítima tem reforçado a fiscalização no Tejo e os pescadores apanhados com carga e material de apanha arriscam multas dos 750 euros aos dois mil euros. Nos últimos meses a Polícia Marítima tem contado com o apoio de helicópteros da Força Aérea que tiram fotografias dos prevaricadores. Além dessa unidade a polícia usa veículos descaracterizados, motas de água, barcos e mergulhadores. “Na área em questão foram efectuadas treze operações específicas de fiscalização da pesca da amêijoa, quatro das quais com a cooperação da Força Aérea, tendo sido autuadas dez embarcações”, revela a Marinha a O MIRANTE. Só numa operação, em Março, a Polícia Marítima apreendeu em Alhandra e na Póvoa de Santa Iria 970 quilos de amêijoa, seis ganchorras e três pescadores foram multados. Nas acções estiveram presentes sete agentes, uma embarcação e duas viaturas.As ramificações do comércio ilegal deste bivalve são, segundo as autoridades, “profundas”. Além dos perigos para a saúde pública, muitos pescadores vendem a amêijoa no mercado local e às comunidades onde estão inseridos, como restaurantes e mercados. A fatia de leão segue para intermediários que as enviam para Espanha, onde são vendidas a um preço três vezes superior. No último ano a Guarda Nacional Republicana registou a apreensão de 32 mil quilos de amêijoa no estuário do Tejo, o que equivaleria a quase 150 mil euros de produto no mercado negro.
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