Projecto governamental de reavaliação do encerramento de escolas sem efeito na região
Seis estabelecimentos de ensino vão fechar as suas portas como estava previsto
O projecto do novo Governo de reavaliar os encerramentos dos estabelecimentos de ensino com menos de 21 alunos não vai ter efeitos práticos nos concelhos de Azambuja, Benavente e Vila Franca de Xira. Quatro escolas de Azambuja e duas de Vila Franca de Xira vão mesmo fechar portas e só uma escola em Benavente vai continuar a funcionar por ter o número de alunos mínimo necessário.
O Ministério da Educação anunciou a suspensão do encerramento de 654 escolas de todo o país com menos de 21 alunos, com o objectivo de reavaliar a viabilidade do seu funcionamento mas a medida não terá qualquer efeito nas escolas da região.Em Azambuja, que vai ter no próximo ano lectivo o novo centro escolar a funcionar, vão mesmo fechar as escolas básicas do primeiro ciclo de Casais dos Britos, Aveiras de Baixo, Casais de Baixo e Casais da Lagoa. Também em Vila Franca de Xira foi confirmado o encerramento das escolas do primeiro ciclo das Cachoeiras e das Quintas (Castanheira do Ribatejo). Benavente vai continuar com a EB1 de Foros de Almada a funcionar com o número mínimo de alunos, no seguimento de uma reunião realizada com a Direcção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo ainda antes da queda do anterior governo.A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira já foi contactada pelo Ministério da Educação e, de acordo com o processo em marcha, depois de ouvidos professores e encarregados de educação, irá proceder ao encerramento das escolas de Quintas, que tinha quatro alunos inscritos, e ainda da escola das Cachoeiras, que tinham 14. O plano de reorganização da rede escolar, recorde-se, começou em 2005 com o objectivo de encerrar escolas do primeiro ciclo com menos de 10 alunos. Até hoje fecharam mais de 2500 estabelecimentos de ensino. A segunda fase arrancou em 2010 e fecharam cerca de 700 escolas com menos de 21 crianças. O anterior Governo previa o encerramento de mais 654 escolas por todo o país mas a demissão de José Sócrates levou à entrada de um novo executivo e um novo ministro da educação, Nuno Crato, que decidiu estudar a medida anunciada pela antecessora. Porém, na região, o estudo do dossier não gerou alterações àquilo que estava inicialmente previsto.“As 654 escolas que ficaram por encerrar foram aquelas em que foram acolhidos os fundamentos apresentados pelos municípios e que serão mais difíceis de encerrar e de ter o acordo das populações”, refere a O MIRANTE António José Ganhão, vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses e presidente da Câmara Municipal de Benavente. “Esta decisão não se poderá desligar do processo de revisão das cartas educativas e da análise do que foram os centros escolares e o seu ritmo de construção”, alerta António Ganhão.OpiniãoAbatidos, desmotivados e desiludidosHá poucos dias tive a oportunidade de participar no aniversário de uma escola de onde saí há quase uma década. Como fui um dos alunos da casa que teve boa nota na prova de aptidão profissional lá tive de ir botar discurso. Fui aplaudido mas vim de lá alarmado. Alarmado como há muito não me sentia. Vi professores abatidos, desmotivados e desiludidos com o estado da educação. Professores que se queixam de falta de força para exercer autoridade nas aulas, professores que não conseguem impor aos alunos ritmos de trabalho e disciplina. Mas, acima de tudo, ouvi lamentos destes professores sobre o desinteresse generalizado dos alunos em aprender, de como são gente mimada e incapaz de um raciocínio lógico ou de completar um simples teorema de gestão. Não é possível. São a geração da abundância, em todos os sentidos, e depois desprezam o valor mais importante de todos que é a educação, cultivar a mente, ser melhor no que se faz e ter ambição em superar-se a si mesmo sem que isso colida com os seus valores de nascença. Nada. Nadinha. Um desastre completo. O problema é que daquilo que via e ouvia dos jovens alunos mais me convencia que os velhos professores tinham razão. A nova malta não conhece escritores nenhuns, não ouve música clássica e não consome matéria “made in Portugal”. Alunos que são adeptos do “o que é estrangeiro é que é bom”. Vim desse evento onde encontrei velhos professores que foram exemplos de vida para mim com a sensação de que esta é a geração que terá de nos tirar da crise mas que são tão burros e incompetentes que só nos poderão levar à desgraça. Nesse dia vi mais do que a crise económica. Vi uma imensa crise de valores. Confesso que não tenho esperança nesta nova geração. Oxalá me engane, mas não vejo futuro nenhum. E logo eu, que adoro escrever histórias do futuro! Só espero ser surpreendido daqui a uns anos. Ando a ganhar coragem para entrar para a faculdade. Vou gostar de saber se quando lá chegar os bancos das aulas também estarão cheios de gente desta, incapaz de fazer um sacrifício pelas empresas ou escolas onde trabalham e estudam, intolerante e bastante reivindicativa sem dar nada em troca. Jovens que ainda acreditam que tudo na vida aparece sem esforço. Isto somado aos cortes orçamentais que forçam o encerramento de cada vez mais estabelecimentos de ensino por toda a região, questiono-me se não estaremos a destruir lentamente o nosso maior valor de futuro.Filipe Matias
Mais Notícias
A carregar...