“Os ricos não jogam na lotaria”
José Augusto Guardado vende a lotaria nas ruas de Fátima, em frente ao Santuário, há cerca de 50 anos. Começou nesta vida com 20 anos, ao constatar que a actividade lhe dava mais lucros que aquelas que já havia experimentado. Foi vendo como se fazia, foi experimentando, e permanece até hoje, com 74 anos, nas ruas de Portugal, vendendo a sorte grande a quem passa.Natural da Marinha Grande, José Augusto Guardado afirma que há muito que deixou de fazer negócios com a lotaria. “Dantes é que se vendia, agora quem compra é só para entreter”. Frente às pracetas de São José, em Fátima, sábados, domingos e feriados, vai vendendo entre 40 a 50 cautelas por dia. “Depende do preço a que estiver a cautela. A do Ano Novo são 15 euros, há outras a 10 euros”. Ao longo dos anos já deu a sorte grande a muita gente, primeiros, segundos e terceiros prémios. Também joga todas as semanas, mas nunca lhe saiu nada de significativo. “Há três anos vendi aqui em Fátima um terceiro prémio, também já vendi aqui primeiros prémios. Mas por Fátima passam pessoas de todo o país e nunca mais os torno a ver. Gosto de vender prémios, qualquer vendedor gosta, mas não estamos à espera de agradecimento. Quando compram, as pessoas às vezes até dizem que se sair a lotaria dão uma parte, outros que o dinheiro faz muita falta. Dos prémios que vendi, nunca mais tornei a ver os clientes”, conta. Uma vez roubaram-lhe todo o jogo que tinha na mala, o que resultou num prejuízo de 5 mil euros. Actualmente, quem compra são sempre pessoas de meia-idade, de classe média baixa. “Os ricos não jogam na lotaria, preferem jogos mais certeiros”.Mas esta é uma profissão em extinção e mesmo a lotaria parece ter os dias contados. O jogo tem hoje muita concorrência de outros jogos, com volumes superiores de prémio, como o Euromilhões. “A maior parte dos vendedores ou já morreu ou vai desistindo. Isto é um jogo em decadência, abafado por muitos outros jogos. Eu tenho que vender para sobreviver”.José Augusto Guardado vai-se mantendo pelas ruas de Fátima, ou junto ao Mercado de Ourém às quintas-feiras. E diz que vai continuar no ofício, pela região e pelo país. “Em 54 anos já dei a sorte grande a muita gente”. Cláudia Gameiro
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