
Vila Franca de Xira foi uma “terra de liberdade” para Álvaro Cunhal na sua juventude
Biografia do militante comunista foi apresentada na biblioteca municipal da cidade
O concelho de Vila Franca de Xira foi uma “terra de liberdade” para Álvaro Cunhal e uma das bases da sua formação como comunista. A opinião é do jornalista e investigador Adelino Cunha, que apresentou na cidade a sua nova biografia sobre o ex-líder do PCP.
O concelho de Vila Franca de Xira foi uma “terra de liberdade” para Álvaro Cunhal e uma das bases da sua formação como comunista. A opinião é do jornalista e investigador Adelino Cunha, que apresentou na cidade a sua nova biografia sobre Álvaro Cunhal, um homem que se recusou a pedir papel higiénico na prisão e que viu o seu partido - o PCP - proibir que se apresentasse a peça de Shakespeare “O Rei Lear”, que ele próprio traduziu.Foi no concelho de Vila Franca de Xira, na companhia de Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes e outros escritores neo-realistas, que o histórico militante do PCP, Álvaro Cunhal, começou a sua formação comunista. Vila Franca era a sua “terra de liberdade”, na opinião de Adelino Cunha, jornalista e investigador, que apresentou na cidade na noite de 3 de Novembro a biografia pessoal e íntima do histórico líder do Partido Comunista Português.O livro pretende dar uma visão apartidária do líder e das suas diversas facetas - político, artista e pai de família. A pesquisa do livro arrastou-se durante três anos e levou o autor a falar com familiares e amigos de Cunhal. A apresentação foi feita na biblioteca municipal de Vila Franca e contou com a presença de duas dezenas de pessoas. “Cunhal foi um herói involuntário”, explicou Adelino Cunha, antes de contar alguns pormenores da vida do militante comunista.Álvaro Cunhal, homem que Jorge Amado descreveu como “jovem mas de pele sofrida”, acreditava que as ideologias não falhavam, apenas os homens. Enquanto esteve preso os agentes da Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) obrigaram-no a usar a expressão “por favor” quando pedisse papel higiénico. “Cunhal recusou sempre o papel, mesmo com os problemas intestinais que tinha”, garante o autor. Dentro desta visão romanceada do herói comunista existe um homem frio que abandonou a família na juventude. Dedicou-se inteiramente ao partido e uma das vezes até chegou a dizer à irmã que se um dia ela acordasse e não encontrasse a sua gabardina no cabide isso seria sinal de que havia sido preso.“Hoje em dia ninguém imagina o terror psicológico que é viver em ditadura”, salientou o autor. Álvaro Cunhal haveria de admitir antes de morrer o fracasso da União Soviética. “Uma nota curiosa foi o Mário Soares, que tinha um roupão de seda e a dada altura pensou fugir para a Suíça e deixar cá a Maria Barroso. Foi o Cunhal que o demoveu. Se o Soares chega a partir, a história de Portugal teria sido diferente porque não haveria adversário para o Cunhal”, refere Adelino Cunha.Enquanto esteve preso Cunhal traduziu a peça “O Rei Lear”, de Shakespeare. No final dos anos 90 a deputada Odete Santos pretendeu levar a peça à cena, com a permissão de Cunhal, mas a cúpula do partido comunista não autorizou, decisão que o deixou magoado.O autor da biografia, Adelino Filipe Saraiva da Cunha, nasceu em Lisboa a 11 de Maio de 1971. Licenciou-se em história pela Universidade Lusíada e apresentou uma tese sobre a política externa de Sidónio Pais. Actualmente é mestrando em política comparada no Instituto de Ciências Sociais. O próximo livro a ser apresentado na biblioteca municipal de Vila Franca será “Cartas Vermelhas”, de Cristina Silva, no dia 18 de Novembro pelas 21h30.
