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Ao vento e à chuva para ver recriação da Via Sacra em Ourém

Ao vento e à chuva para ver recriação da Via Sacra em Ourém

Menos gente que o ano passado num evento que já se realiza há 14 anos
De saco plástico na cabeça, junto à sua banca onde vende tremoços, Irene Lopes foi dizendo que o negócio estava “molhado” como o tempo. “O ano passado [o evento] trouxe pouco povo e hoje ainda está menos do que o ano passado. Com o frio e a chuva ainda é pior”, explicou, enquanto lembrava os dias em que “até se via gente estrangeira”. Um metro acima do empedrado do centro histórico, o presidente da Câmara de Ourém mostrou-se resignado pelas condições meteorológicas que tinham deixado muita gente em casa, mas salientava à Lusa a devoção das pessoas que se tinham deslocado a uma iniciativa “que tem uma expressão bíblica muito enraizada, quer chova, quer faça sol”. Paulo Fonseca sublinhou, contudo, que a Via Sacra, “um elemento que já está consolidado”, é mais um dos factores, durante todo o ano, de atracção da “vila medieval de Ourém, pelo seu conteúdo histórico, pela sua beleza, pelo seu encanto e multiplicidade de oferta”. Pelo 14.º ano consecutivo, cerca de 80 figurantes, acompanhados pela Sociedade Filarmónica Ouriense deram corpo à recriação dos últimos momentos de vida de Jesus Cristo.Abrigados da chuva, do frio e do vento, num salão, antes de iniciarem o espectáculo, atores e figurantes faziam os últimos preparativos e explicavam a razão pela qual todos os anos participam: a fé que os une.Manuel Lopes, que vestiu a ‘pele’ e a armadura de um romano salienta que é também “o amor que tem à freguesia”. António Gonçalves, que acabará por ser crucificado pela 14.ª vez consecutiva - ele que veste a personagem de Jesus Cristo - sustenta que não é da recriação que se podem esperar mudanças, mas do público. “De ano para ano, as pessoas trazem outras pessoas, e o público acaba por nunca ser o mesmo”, justifica.Jeremias Gaspar, junto à porta onde se pode espreitar a chuva e o vento, vai esfregando as mãos, ele que interpreta pela 8.ª vez o papel de Pilatos. Católico praticante, destaca “o gosto por estes ambientes e pela representação” e garante que o facto de todos os anos ‘lavar as mãos’ na condenação de Cristo nunca o deixou com remorsos na hora de ir para casa.Com orações e cânticos religiosos, as 14 estações da Via Sacra são recriadas como indica o relato bíblico: Jesus Cristo é julgado e condenado à morte, sofre três quedas, encontra a mãe, confronta as mulheres de Jerusalém e morre crucificado. A procissão termina na parte mais alta da zona do castelo de Ourém, onde o povo se aglomera diante das três cruzes, uma delas reservada para António Gonçalves, que durante todos estes anos dá corpo à figura de Cristo. Ali junto, apenas um pouco mais abaixo desse largo no qual se juntou o milhar de pessoas, há uma inscrição à porta do cemitério que bem pode servir de epitáfio à recriação: “Aqui findam as vaidades/Com que o mundo nos seduz/Aqui há paz e descanso/À sombra da eterna cruz”.
Ao vento e à chuva para ver recriação da Via Sacra em Ourém

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