25º Aniversário | 14-11-2012 15:21

O Jorge Laranjinha que azeda quando fala nos políticos

“Sou muito frontal. O MIRANTE podia ter uma intervenção maior a favor dos desfavorecidos. Se calhar não vão escrever o que eu estou a dizer mas tenho que ser frontal”. Não faz qualquer esforço para ser agradável ou diplomático. Semeia palavras em voz alta. É um agricultor terra a terra.

Quando começa a falar dos políticos sobe-lhe a mostarda ao nariz. “Temos uma cambada de políticos incompetentes. Fabricamos 10 ou 15 por cento do que consumimos e tínhamos possibilidade de fabricar 70 ou 80 por cento. Eu fazia muito mais do que faço mas era preciso que a ministra da Agricultura pusesse o banco de terras a trabalhar”. No dia em que falámos com o agricultor Jorge Laranjinha, estava ele à porta da Caixa Agrícola da Chamusca, à espera que fossem publicados os resultados das eleições. Não foram só os políticos a levar nas orelhas. O MIRANTE também foi cilindrado pelo discurso hiper-crítico de um dos maiores anunciantes da primeira edição do jornal.“Sou muito frontal. O MIRANTE podia ter uma intervenção maior a favor dos desfavorecidos. Se calhar não vão escrever o que eu estou a dizer mas tenho que ser frontal”. Não faz qualquer esforço para ser agradável ou diplomático. Semeia palavras em voz alta. É um agricultor terra a terra.”O jornal podia servir melhor a população. Não é só O MIRANTE. É toda a comunicação social do país. Interessam-se muitas vezes por coisas que vendem mas podiam dar voz aos mais desfavorecidos deste país e fazem muito pouco. Falam com empresários. Com os que chupam o sangue à massa trabalhadora mas os mais desfavorecidos têm pouco ou nenhum espaço”.Quem é que dá notícias como a das eleições na Caixa Agrícola da Chamusca? Quem explicou as posições das duas candidaturas? Perante as perguntas concede algum mérito ao jornal. “É evidente que O MIRANTE se interessa pelo que se passa na Chamusca e no Ribatejo e dá notícia disso, coisa que os jornais de Lisboa não fazem”.“Jorge M. Santos Laranjinha - Aluguer de Máquinas Agrícolas”, podia ler-se há 25 anos num quarto de página de publicidade colocado na página quatro do jornal. Muita coisa mudou desde então. “Nessa altura eu fazia 25 ou 30 hectares. Hoje faço 120, 130, 140. Aqui e no Alentejo. Só faço tomate. E não faço mais porque não me deixam. Deviam pôr a produzir a terra que está parada. Em 1987 éramos cerca de nove mil produtores e agora somos 540 ou 550”, refere. “Podia falar de agricultura mas como sou praticamente analfabeto não tenho voz perante tanto vigarista com cursos superiores, alguns dos quais comprados”. Nasceu na Chamusca, filho de uma família de agricultores. Tem 63 anos e toda a vida trabalhou na agricultura, com excepção do tempo de tropa. “Estive dois anos na Guiné. Embarquei a 3 de Abril de 1971. Fui para lá enganado. Disseram-me que ia defender a Pátria mas não fui defender Pátria nenhuma. Fui defender estes filhos da mãe todos”. Um dos filhos de Jorge Laranjinha seguiu as pisadas do pai e também está na agricultura. “O meu filho tem 35 anos mas não consegue ir para a frente. Está todos os dias a ser massacrado pelas finanças e companhia limitada. Qualquer dia morre à fome ele, a mulher e os filhos, com o andamento que isto está a ter”, desabafa. “Falta crédito. Falta terra. As finanças carregam cada vez mais. A segurança social é caríssima para os empresários agrícolas que têm que pagar todos os dias mas que só recebem ao fim do ano. Tenho muita pena dos jovens”. Está tão centrado no assunto da sua vida que é difícil pô-lo a falar de outros assuntos. Depois de algumas tentativas conseguimos perguntar-lhe o que mudou na Chamusca nos últimos 25 anos. “Isto aqui é só velhos. Os novos foram embora. Um dos meus filhos faz amanhã 29 anos. Tem um curso superior e está na Gestão Hoteleira em Lisboa. Ganha 700 euros e paga 250 euros do quarto. Na Chamusca fez-se o concelho da merda (alusão ao Eco Parque do Relvão na freguesia de Carregueira). Diziam que iam empregar ali mil ou mil e duzentas pessoas mas afinal os empregos não são assim tantos e a maior parte das pessoas que lá estão viver em Santarém, em Almeirim ou em Tomar”. As declarações saem em jacto. “Tenho 42 anos de descontos para a Caixa. Fui tentar meter os papéis para a reforma e vão-me dar 285 euros por mês. Só dá para morrer à fome e lá para 2020 nem dinheiro para reformas há”. Lançamos um último tema sem sucesso. Os roubos de metal? “A mim só quem me rouba é o Estado”. Antes do convite para um almoço, cozinhado por ele, de bacalhau com couve a soco (quem já provou diz que não há quem faça aquele prato melhor que ele) atira em jeito de provocação. “Você devia era fazer-me perguntas como deve ser”. E acaba a conversa.

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