25º Aniversário | 14-11-2012 15:22

Quando pai e filho se entendem para restaurar património

Da primeira edição do jornal não há lembrança. O MIRANTE entrou mais na vida da família Queimado quando o Paulo se meteu na política e foi eleito vereador municipal pelo Partido Socialista. Por vezes o que sai não é agradável mas o político e técnico de restauro não sofre muito com isso. “Quando fui eleito já sabia que ia ser assim”.

Jorge Queimado bem puxa pela memória mas não consegue lembrar-se da primeira edição de O MIRANTE. Muito menos da publicidade à sua empresa que ali saiu “Jorge Manuel C. Queimado - Mobiliário e Decoração - Tudo em móveis por medida”. Vinte e cinco anos passados saímos da sua velha oficina e entramos no atelier da Ícone, empresa onde trabalha com o filho Paulo, no restauro e conservação de obras de arte e mobiliário antigo. “Lembro-me que o jornal era só para o concelho da Chamusca. Agora tem leitores que nem sabem onde é a Chamusca”, diz em jeito de desculpa. O filho, Paulo Queimado, participa na conversa. Aos 7 anos quando vinha da escola ia fazer companhia ao pai e entretinha-se a fazer os seus brinquedos. “Não ia para lá trabalhar. Fazia as minhas garagens. Fazia espingardas, bestas de atirar caricas. Se o meu pai me pedia para lhe ir buscar uma ferramenta eu sabia onde ela estava e qual era. Fui aprendendo”.O pai elogia-o. O Paulo tinha corpo e era habilidoso. Não estava ali contrariado. Era com gosto. Eu na altura construía muito. As primeiras cozinhas em módulos que se começaram a fazer foi naquela altura. O Paulo cortava as placas quando era preciso. Já a minha filha Patrícia era a mesma coisa. Ela agora trabalha em Santarém e vem todos os sábados para a oficina. Ela é que arruma aquilo tudo e limpa. Trabalhou aqui connosco até há três anos mas as obras grandes começaram a desaparecer. Tratava das questões administrativas, contabilidade, etc...era tudo com ela. E fazia também o apoio todo a nível oficinal e de obra”.Paulo Queimado aprendeu com o pai e o pai aprendeu com quem? “Eu comecei com um Mestre Carpinteiro chamado António Amaro. Ele tinha uma oficina de carpintaria e eu fazia o mesmo que o Paulo fez quando era criança. Pegava em bocadinhos de madeira, fazia rodas, carroças. Fazia os meus brinquedos. Fui eu que aos 10 anos lhe fui pedir para começar a aprender o ofício. Na altura havia lá mais dois que eram o Manuel João Lucas e o Patrício, são um pouco mais velhos. Na altura não havia exploração infantil. Não se ganhava nada. Aprendíamos fazendo. Íamos arrumar a oficina aos domingos. O mestre passava por lá e se alguma coisa não estava bem obrigava-nos a arrumar tudo outra vez”.O MIRANTE entrou mais na vida da família Queimado quando o Paulo se meteu na política e foi eleito vereador municipal pelo Partido Socialista. Por vezes o que sai não é agradável mas o político e técnico de restauro não sofre muito com isso. “Quando fui eleito já sabia que ia ser assim”, declara.Quando O MIRANTE foi fundado Jorge Queimado lembra-se não das notícias mas de ter começado a aparecer muito trabalho de restauro. Restauro de mobiliário antigo e mais tarde restauro de obras de arte, nomeadamente de arte sacra. “Isto é cíclico. Tudo o que tem a ver com actividades culturais e de conservação de património começa desaparecer assim que se fala de crise. Não são bens de primeira necessidade”, explica Jorge Queimado.Por vezes surgem abertas no meio do temporal da crise. A última foi a chegada de dinheiro comunitário para reabilitação e restauro do património, no âmbito do programa PRODER. “Nas duas últimas semanas têm chegado muitos pedidos de orçamentos de todo o país. Estamos um bocado apertados porque efectivamente há dinheiro mas os prazos das entregas foram encurtados”. O pai deixou a construção de mobiliário e só faz restauro. “Faço meia dúzia de móveis por ano e vou ajudando aqui no atelier. O Paulo é escultura, talha dourada. Arte sacra...”Paulo Queimado tirou o curso de restauro do Instituto Politécnico de Tomar que considera um bom curso por ter uma componente prática muito boa. “A nível técnico o pessoal que sai de Tomar vem mais bem preparado. As Universidades formam conservadores/restauradores de secretária”, afirma.A Chamusca é uma terra conhecida por ter bons artífices e mestres, em várias áreas. Os dois artesãos lamentam que isso esteja a acabar. “Quando comecei o ofício havia duas serrações onde trabalhavam dezenas de pessoas aqui da Chamusca. Havia pelo menos umas cinco oficinas, todas com meia dúzia de empregados. Tudo de carpintaria. Havia duas marcenarias (construção de móveis). Uma onde trabalhavam 4 pessoas e outra onde trabalhavam 9. Havia trabalho para toda a gente”, lembra Jorge Queimado.Pai e filho dizem que alguns dos trabalhos que fizeram com maior prazer foi na Chamusca. “Aquelas quatro pinturas da Capela Mor deram um gozo especial porque olhámos para aquilo e não se percebia muito bem o que lá estava. Depois de fazermos a limpeza e a intervenção de conservação e restauro, apareceram aquelas cenas todas”, lembra. “Em termos de complexidade, o nicho e o próprio tecto foram trabalhos muito complicados”. Depois, remata com uma pontinha de vaidade, perante o sorriso do pai. “Nós aqui fazemos tudo. Só não podemos é fazer milagres”.

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