25º Aniversário | 14-11-2012 15:19
Tudo começou com um curso de electrónica por correspondência
“Distraí-me e apanhei um choque de tal ordem que não conseguia largar aquilo. O Abel, que é agente funerário, teve que escolher entre perder um amigo ou ganhar um cliente. Empurrou-me e conseguiu livrar-me”.
O anúncio colocado há 25 anos por Pedro Cegonho Queimado - assistência técnica e vendas de electrodomésticos está separado do da agência funerária Bento & Lucas, por umas seis páginas mas houve um momento em que a fusão das duas empresas esteve por um triz. Tudo aconteceu devido a uma distracção de...choque, digamos assim. “Eu estava a arranjar uma aparelhagem de som do PCP ao mesmo tempo que estava a conversar com o Abel, o cangalheiro. Distraí-me e apanhei um choque de tal ordem que não conseguia largar aquilo. Ele teve que escolher entre perder um amigo ou ganhar um cliente. Empurrou-me e conseguiu livrar-me”. O sorriso de Pedro Cegonho Queimado enche a loja da Chamusca onde se alinham frigoríficos, televisões e outros electrodomésticos.A conversa sobre a saída do primeiro número do jornal ia no capítulo dos perigos da electricidade. “Já aqui nestas instalações meti a mão num chassis de uma televisão e apanhei uma ficha com várias tensões. Só larguei quando caí de costas com a televisão em cima da barriga. Gosto muito da electricidade mas tenho muito respeito porque ela mata”.Quando saiu a primeira edição de O MIRANTE tinha 35 anos. Foi anunciante intermitente mas leitor permanente. “Leio tudo e até leio os anúncios quando ando à procura de qualquer coisa. É essencial. E só leio a edição em papel embora use regularmente a internet a nível profissional”, confessa. O homem dos electrodomésticos aprendeu o ofício por correspondência mas antes de abraçar o ramo andou por outros territórios laborais. “O bichinho da electrónica começou quando tinha 15 anos. Andava a trabalhar na Spalil (fábrica do tomate) onde o meu pai era encarregado e decidi fazer um curso por correspondência. Entretanto estive algum tempo no Registo Civil e a seguir numa fábrica de malhas. Com 18 anos era encarregado geral de uma fábrica de malhas em Minde”. Com o curso de electrónica por correspondência já feito era altura de passar à acção. “Da fábrica vim para uma casa de electrodomésticos aqui na Chamusca onde estive até depois do 25 de Abril. Nessa altura eu e o Joaquim José Queimado, que é meu primo, fizemos uma sociedade. Enquanto não houve dinheiro a sociedade resistiu. Assim que começou a haver dinheiro, cada qual foi para seu lado. Ele foi para a área da electricidade industrial e eu fiquei com a parte dos electrodomésticos”.Um piano destoa no meio dos outros electrodomésticos. Ri-se quando lhe perguntamos se sabe tocar. “Só nas campainhas das portas”, responde antes de explicar que o instrumento é do filho Nuno, o mais novo, que estuda música e quer ser maestro. Quer dizer o nome de um conjunto onde o rapaz toca mas não se lembra. A esposa Cândida ajuda-o a partir do escritório. “São Os Laranjinhas. Ele leva o piano de vez em quando para os ensaios em Vale de Cavalos”. Não entra um cliente enquanto decorre a conversa. Não toca um telefone. Pedro Cegonho Queimado entra em casa de muita gente no âmbito da sua actividade profissional e sabe do que fala quando fala das dificuldades que as pessoas estão a viver. “Há quem esteja a ficar sem as coisas que adquiriu há alguns anos porque elas avariam e não há dinheiro para as mandar reparar e muito menos para comprar novas”, conta. “Os tempos mudaram. As pessoas tinham um poder de compra que se perdeu. Poucas vezes trabalhei com créditos bancários. Os clientes escolhiam, pagavam e estava a andar. A maior parte dos clientes era assim. Hoje vêm fazer propostas que não temos hipótese de aceitar. Há muitos que saem aborrecidos mas nada podemos fazer”. Do pagamento imediato passou-se para a falta de pagamento. Todos os cuidados são poucos. “Com pessoas que não conhecemos temos que ter alguns cuidados mas não deixo de dizer que os conhecidos são os que nos tramam a maior parte das vezes. Os calotes que tenho aí são de pessoas conhecidas. Pessoas pelas quais eu punha as mãos no lume. Não quer dizer que tenham deixado de ser honestas mas não conseguem cumprir os compromissos assumidos e criam problemas aos outros”.
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