25º Aniversário | 14-11-2012 15:21

Um paraíso no meio da tempestade da crise com trabalho e pagamentos a horas

Marcar a entrevista não foi fácil. É hoje, é amanhã, não pode ser, é completamente impossível, você nem imagina o trabalho que tem caído aqui, não tenho tempo nem para respirar. Há 25 anos o ritmo de vida e de trabalho era mais lento.

Sete dias depois de ter saído a primeira edição de O MIRANTE, Joaquim José Queimado completou 38 anos. Na altura já levava um pouco mais de duas décadas de trabalho. Reparação de rádios e electrodomésticos primeiro e electrificações industriais e agrícolas depois. Agora que começava a sonhar com dias de pesca e viagens que nunca fez, desabou-lhe trabalho em cima como nunca tinha visto. E a culpa foi toda da crise. “As empresas já só estavam habituadas a comprar novos equipamentos. Na actual situação não pode ser assim. Como fazemos a manutenção da parte eléctrica de equipamentos industriais, não temos mãos a medir. Nunca tive falta de trabalho em toda a minha vida mas agora há trabalho em excesso”, afirma. “Temos assistências a secadores de milho e arroz que vêm desde Aljustrel até aqui à zona. Torres Novas, Alcanena, Cartaxo... são máquinas que montámos há 20 ou 25 anos, que ainda estão a trabalhar e que precisam de assistência”.A sorte de Joaquim José Queimado não se limita ao facto de ter trabalho quando os outros estão parados. Também recebe a tempo e horas, coisa rara nos tempos que correm. “A velocidade com que se vai buscar material e a velocidade com que o material sai do armazém para as obras, é muito grande comparada com a velocidade com que se recebe. Gastamos a 200 à hora e recebemos a 100 à hora mas tenho que reconhecer que os meus clientes pagam e pagam dentro de prazos razoáveis. Os dedos de uma mão chegam para contar os casos complicados a esse nível”. Marcar a entrevista não foi fácil. É hoje, é amanhã, não pode ser, é completamente impossível, você nem imagina o trabalho que tem caído aqui, não tenho tempo nem para respirar. Finalmente dez minutos ao balcão no pavilhão que a empresa ocupa na zona industrial. À memória vem-nos a hora e meia de entrevista que Amália Rodrigues lhe concedeu, a ele e mais dois amigos da Rádio Bonfim (José Sirgado e Raul Caldeira), em Fevereiro de 1991, com direito a sofá e tudo, cuja história O MIRANTE recuperou há um ano na edição de 30 de Novembro. O Cavaleiro Andante surgiu nos primórdios do jornal com os seus comentários cáusticos e bem humorados. O empresário deixa escapar um sorridente “venenosos!”. Confessa que gosta muito de ler mas que há alturas em que só lê documentos da empresa. “Eu gosto muito da minha profissão mas agora passo mais tempo à volta de papéis. Tenho que fazer a gestão”, desabafa. “Há 25 anos nós trabalhávamos durante o dia e fazíamos a contabilidade à noite. Agora fia mais fino com as exigências que nos são impostas. Já não podemos fazer a mesma coisa”.Sobre a evolução da Chamusca tem opinião positiva. “Evoluiu bastante mas compreendo que nem toda a gente tenha a mesma opinião porque nós queremos sempre mais. Mas não podemos é querer mais do que a situação permite. Há certas alturas em que talvez pudesse dar dois passos mas prefiro dar apenas um com segurança. É a minha maneira de ver e não me tenho dado mal”, explica. Acompanha o que se passa em termos políticos mas tem uma opinião crítica dos que exercem cargos de poder. “Tenho uma ideia muito própria dos políticos e da política e foram os políticos que fizeram com que eu deixasse de ter interesse e de me manifestar”. Lamenta que tenham vindo a desaparecer espaços de convívio. “Havia colectividades e associações onde convivíamos mas têm desaparecido o que é pena”.Já na despedida dá graças por ter saúde e confidencia alguns desejos. “Nesta altura gostava de já estar fora disto para me dedicar à pesca e viajar um pouco. De passar por aqui de vez em quando”. Para a concretização de tais sonhos há outros sonhos que ele sonha. “Tenho uma filha que é funcionária da PT. O meu genro também trabalha lá. Há uma hipótese de a empresa ter seguimento. E há o meu neto. Eu gostava. Afinal o que eu andei a fazer na vida está aqui”, diz apontando para o interior do amplo pavilhão.

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